Quando falamos de adaptações de quadrinhos que nunca conseguem sair do papel, Sandman é sempre a mais notória. Mas correndo por fora, e não recebendo a devida atenção que merece, está outra publicação que viu seu caminho para o live action transformar-se em lenda urbana: Y: O Último Homem. A premiada HQ concebida por Brian K. Vaughan e Pia Guerra teve o primeiro vislumbre de um filme em meados de 2007. Para efeito de comparação, Tony Stark ainda não sonhava em dar o pontapé inicial no MCU. Mas agora as coisas estão se organizando e o projeto ganhou nova vida. O canal FX, que tem em sua programação algumas das melhores séries da atualidade, encomendou um piloto da atração.
Para assumir a missão de finalmente levar Y: O Último Homem para além das páginas, o FX montou uma equipe de elite. Michael Green (que tem no currículo apenas American Gods, Blade Runner 2049, Logan) e Aida Mashaka Croal (Luke Cage) serão os co-showrunners, com a produção ficando nas mãos de Nina Jacobson (Jogos Vorazes), Brad Simpson (Guerra Mundial Z) e do próprio Vaughan (que já dividiu os cargos de roteirista e produtor em Lost e Under The Dome). Na direção do episódio piloto e também desse time dos sonhos estará Melina Matsoukas, conhecida por seus trabalhos em Insecure, Master of None e vários clipes da estrela Beyoncé. Porém, é bom ressaltar que a série só ganha forma mesmo caso o canal goste do resultado final. E isso tem sido um tormento para as várias versões do projeto.
Mas antes de entrar nas histórias de infortúnio, é bom dar uma breve pincelada na trama. Lançada em 2002, Y: O Último Homem possui uma peculiar premissa: em 17 de julho de 2002, todos os mamíferos portadores de um cromossomo Y morreram simultaneamente. Embriões, garotos, homens e todos os machos de todas as espécies de mamíferos foram varridos da Terra. Sem nenhum motivo aparente. Com metade da população indo para vala, a humanidade enfrentou o caos definitivo. Alheio a tudo isso, o jovem Yorick Brown e seu macaco de estimação Ampersand foram os únicos espécimes machos que sobreviveram. A razão? Tão obscura quanto o fenômeno citado acima. Temendo o pior para seu filho, a mãe de Yorick envia a Agente 355 para cuidar do garoto e guiá-lo através de uma jornada em busca de respostas. Atravessando os mais diversos países, o grupo enfrenta perigos que nunca poderiam imaginar. Tudo ao longo de 60 edições. O tipo de história que Hollywood adora.
Em 2007, a New Line já preparava o terreno para produzir o filme. O roteiro e a direção estavam nas mãos, respectivamente, de Carl Ellsworth e D. J. Caruso (dupla responsável pelo divertido Paranoia de 2007). Na época, nomes como Shia LaBeouf (ainda queridinho de Hollywood) e Zachary Levi (fã assumido da HQ) estavam cogitados para assumirem o papel principal. Mas os executivos não ficaram satisfeitos com o roteiro bastante fiel ao material original e muito menos com a ideia de estender a trama ao longo de três filmes.
A coisa esfriou até meados de 2012, quando a New Line demonstrou novo interesse em levar Y: O Último Homem para as telonas. Dessa vez Matthew Federman e Stephen Scaia cuidariam do roteiro, enquanto a direção ficaria por conta de Dan Trachtenberg (do ótimo Rua Cloverfield, 10). Mas as coisas não caminharam de novo, e a New Line acabou perdendo os direitos sobre o projeto. Com o filho de volta aos braços, Brian K. Vaughan e Pia Guerra decidiram parar de mirar a telona e voltaram os olhos para telinha.
Usando de seu respaldo entre os canais de TV, Vaughan começou a plantar a semente da série de Y. Até o diretor francês Louis Leterrier (Truque de Mestre, O Incrível Hulk) ficou animado com a possibilidade de comandar o projeto. Mas a aproximação com o FX começou mesmo em meados de 2015, quando o escritor divulgava sua nova obra prima, Saga. Depois de tantos infortúnios, ainda não é possível cravar que Y: O Último Homem finalmente ganhará uma adaptação. Mas se o melhor acontecer, será outro daqueles lindos capítulos da história da cultura pop que teremos a chance de presenciar. E uma nova prova de que os melhores atrações do momento estão mesmo longe das salas de cinemas.