O Mundo Depois de Nós O Mundo Depois de Nós

O Mundo Depois de Nós: para norte-americanos, é claro!

O Mundo Depois de Nós” já foi adicionado na lista “ame ou odeie” do Letterboxd imaginário de muito cinéfilo por aí. Baseado no livro “Leave the World Behind”, de Rumaan Alam, o terror psicológico chegou na Netflix dividindo opiniões por ser uma extensão de 2 horas e meia de tudo que um filme “Black Mirror” poderia ser. Porém, o suspense arrebenta a linha do meio termo, tornando-se um longa distópico com boa crítica social para quem deveria entender o mínimo de Geografia Política.

O mundo depois do cast

Primeiramente, vamos começar por partes, até porque o mundo não acaba todo de uma vez. O filme se apresenta com uma carga condensada no elenco, com os atores desempenhando muito bem seus papéis. O destaque está em Amanda, personagem interpretada por Julia Roberts, e G.H., vivido por Mahershala Ali, pois conseguem costurar uma sintonia entre dois desconhecidos, com altos e baixos no envolvimento ao longo da trama. Posteriormente, temos Clay, interpretado por Ethan Hawke, e o Danny, de Kevin Bacon, adicionando à história novos elementos que vão preenchendo as lacunas deixadas pelo diretor Sam Esmail,  este muito conhecido pela premiada série “Mr. Robot.

Dito isso, temos dois pilares que sustentam as desequilibradas do filme: a trilha sonora e a ambientação. Ao lado da fotografia de Tod Campbell (“Mr. Robot”, ”Stranger Things”), os efeitos sonoros produzidos por Mac Quayle (“American Horror Story”, “Mr. Robot”) e os efeitos especiais são capazes de imergir o espectador em um cenário apocalíptico perfeito. Logo, os elementos de terror psicológicos recebem toda atenção – a até demais – sendo mais memoráveis, inclusive, que o próprio roteiro.

O mundo depois do plot

“O Mundo Depois de Nós” pode ser uma crítica que não foi encarada como uma. Por quê? Porque simplesmente não tem um final didático. Mas, a verdade? É que não precisa. Ele não é sobre o fim do mundo, teorias da conspiração, paranoia norte-americana ou catástrofes da natureza, mas sobre uma previsão imediata do comportamento automático da sociedade (norte-americana? Não…muita gente por aí também é assim).

Embora não tenha um final tão definido quanto grande parte desses filmes apocalípticos por aí, “O Mundo Depois de Nós” vai deixando migalhas espalhadas por todo lado para resumir todo o seu contexto. O ambiente é restrito porque não precisa sair dali. A história não quer contar como o governo perdeu as rédeas da situação. Assim, o que a trama quer deixar claro é o comportamento de sete estereótipos bem radicais dos norte-americanos frente à luta pela sua sobrevivência, ou até mesmo sua sanidade mental.

Dessa forma, vemos a dependência vital dos eletrônicos, a mediocridade do comportamento da Geração Z, a intolerância racial de uma mulher à beira de se tornar uma “Karen”, o típico norte-americano médio conspiracionista e uma criança fruto do caos midiático. Todos esses personagens se encaixam como um quebra-cabeça estragado em um filme que se importa mais em instaurar o caos do que explicá-lo como um acadêmico estudioso no assunto.

A insistente crítica à falta de um final é chata e talvez seja o resultado das mais de 2 horas de filme com detalhes espalhados como um gás. A partir do momento que você entende o recheio, não é preciso saber quem vai ter o prazer de jogar a receita fora. Isso porque a receita do fim do mundo é a mesma. Ora, por que explicar os mesmos efeitos que já foram desenrolados em trezentas séries e mais um punhado de filmes que penam por continuações por aí?

“O Mundo Depois de Nós” é basicamente uma síntese do comportamento bestial dos seres humanos frente ao apocalipse. Porém, lógico que enfeitados com as enxurradas de críticas que os norte-americanos recebem nas redes sociais.

 

Saldo do apocalipse

Escrito e dirigido por Esmail, “O Mundo Depois de Nós” foi delicioso de ver, mas doloroso de acabar. É da nossa vontade e intuição descobrir o que vem depois, o que aconteceu com os personagens e como vai ser o futuro do mundo. É claro que a gente quer o laudo completo do apocalipse, mesmo depois de perceber que 10 temporadas de uma série sobre matar zumbis não conseguiram sequer deixar claro. Logo, podemos dizer que é um território arriscado, e talvez o diretor tenha se resguardado nesse sentido. Não tem porquê destrinchar um pedaço que gastará mais 40 minutos e pode vir repleto de furos.

Portanto, pela temática que foge do psicológico, o filme é quase que um retrato torto de todo o sanduíche pensado por Sam Esmail. Para tomar como base, pense num grande episódio de “Black Mirror”, adicione uns elementos de “Não Olhe Para Cima”, lembre da aura de “Um Lugar Silencioso” e “Bird Box”, e traga tudo para um patamar que busca ser mais politizado.

Tirando as máscaras do terror psicológico, do “made like Jordan Peele e do medo apocalíptico, o filme te traz risadas. Risadas boas? Não, mas uma leve fungada pelo nariz. Com doses de políticas, teorias da conspiração e desastres naturais para os norte-americanos. A piada esta aí. É como formigas enlouquecidas na chuva.