O Farol (The Lighthouse, 2019 – confira o trailer) teve sua estreia mundial no Festival de Cannes, onde foi agraciado com o prêmio de Melhor Filme pela FIPRESCI – Federação Internacional de Críticos de Cinema. Produzido pela RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira, em parceria com a New Regency e a A24, o filme chegou ao Brasil pela Vitrine Filmes.
Dirigido por Robert Eggers, de “A Bruxa” (2015), e escrito em parceria com seu irmão Max Eggers, o longa narra a história de dois homens encarregados de cuidar de um farol em uma ilha remota e enigmática da Inglaterra no final do século XIX. Isolados de qualquer contato humano além de si mesmos, os protagonistas enfrentam uma convivência claustrofóbica e perturbadora.
A trama se concentra em Thomas Wake (Willem Dafoe), um faroleiro experiente e excêntrico, e Ephraim Winslow (Robert Pattinson), um novato em busca de trabalho. Acompanhamos a rotina de Ephraim enquanto os dias se arrastam nesse rochedo misterioso. Assim como o personagem, o espectador se perde na noção de tempo, já que o que deveria ser uma estadia de quatro semanas se transforma em uma duração indefinida e opressiva.
Eggers cria uma obra enigmática, com elementos cuidadosamente escolhidos que elevam o filme a um nível autoral. As atuações impecáveis de Dafoe e Pattinson são um dos pontos altos, reforçadas por diálogos intensos, uma trilha sonora que amplifica a tensão e uma estética peculiar. O padrão de filmagem em preto e branco, aliado à fotografia claustrofóbica, mergulha o espectador em uma experiência sensorial única. Essas escolhas, no entanto, podem alienar os menos preparados ou aqueles que esperam algo mais convencional.
O roteiro dos irmãos Eggers é influenciado por autores e mitologias que exploram o sobrenatural e o psicológico. H.P. Lovecraft, a mitologia grega — com figuras como sereias, Proteu e até o titã Prometeu —, são algumas das referências presentes. Apesar desse pano de fundo quase mítico, o filme mantém uma abordagem profundamente humana ao explorar o colapso psicológico de seus personagens.
Cada detalhe em “O Farol” contribui para a atmosfera sufocante e desconcertante: o som constante do farol, semelhante a um rugido monstruoso, e a ausência de cor ressaltam as expressões faciais e o ambiente úmido e sombrio, criando uma sensação de algo além da compreensão humana.
Os momentos finais são deliberadamente confusos e polarizantes, deixando o fascínio e frustração para o espectador. Enquanto “A Bruxa” já havia mostrado a habilidade de Eggers em surpreender, aqui o diretor oferece uma obra contemplativa, repleta de indagações e temas complexos, além de um rigor técnico impressionante. “O Farol” é um filme que desafia e provoca, sendo impossível ficar indiferente: ou você amará ou odiará.