Em O dia da morte de Denton Little, o protagonista sabe que dia vai morrer. É uma triste prerrogativa oferecida pelo governo: sempre que uma criança nasce, uma série de cálculos e exames é aplicada para definir o dia exato em que ela vai morrer. O dia de Denton é amanhã.
O jovem de dezessete anos tinha um plano bem definido para seus últimos momentos: um café da manhã com muito bacon, uma corridinha para espairecer, uma maratona de filmes com o melhor amigo e finalmente perder a virgindade com a namorada. Só que nada sai como o esperado. Na véspera de sua morte, Denton acorda numa cama que não é a sua. E esse foi só o começo dos acontecimentos bizarros e surpreendentes. Até seu último adeus, ele ainda terá que enfrentar crises de ciúme, triângulos amorosos, ressacas monumentais, manchas estranhas se espalhando pelo corpo e revelações surpreendentes sobre sua mãe, já morta.
A história
Denton Little é um adolescente idiota. Perto do seu dia de morrer, ele se acha preparado para o que vai vir (todo mundo tem o chamado “psicólogo da morte”, que ajuda a processar a ideia de que você vai morrer dia x) e tem planos. Óbvio que a vida não é linear, e um monte de coisas começa a acontecer ao mesmo tempo.
Apesar de saberem quando vão morrer, ninguém sabe o como – o que traz verdadeira ansiedade ao protagonista, pois ele entende que qualquer coisa, absolutamente QUALQUER COISA que acontecer naquela data, poderá matá-lo. Um ataque do coração repentino, uma queda, picado por uma abelha e não saber que é alérgico… São infinitas possibilidades. Por outro lado, ele tem tempo para se despedir de quem ama, aliás, todos podem se despedir também. Um dos arrependimentos de muita gente é não ter conseguido dar um último adeus, não ter falado a coisa certa, pois não sabiam que aquele seria o último dia da vida da pessoa amada. Vivemos como se nunca fosse acontecer e fôssemos todos morrer exclusivamente de velhice. Mas não no mundo de Denton.
Antes do dia da morte da pessoa, é preparado um funeral e nele comparecem todas as pessoas que possuem ou acham que possuem alguma consideração pelo protagonista. Elas fazem discursos, homenageiam o futuro moribundo e, no final, Denton é quem tem que dar as palavras finais a todas aquelas pessoas.
Exceto que ele esqueceu o discurso escrito em casa e precisa improvisar. Denton é o típico protagonista que PRECISA ser engraçado de alguma forma, mas muitas das piadas só atingem os personagens do livro e não quem está lendo. Simplesmente você teria que estar lá com ele, naquele exato tipo de humor e aberto ao tipo de acidez humorística que Denton traz. Como na verdade estamos encarando uma situação atípica – alguém discursando no próprio funeral -, o sentimento que me remeteu foi de que era tudo muito estranho, pois não temos tempo para processar nada do que está acontecendo.
O livro traz uma dinâmica corrida, com muito assunto sendo explorado em poucas linhas e nunca mais tocando naquele tópico, me deixando com uma sensação de “poderia ter mais aqui”. Questões como a brevidade da vida são expostas constantemente pelos pensamentos do protagonista – o livro é em primeira pessoa. Algumas das ideias impostas na história são profundas demais para que um adolescente prestes a morrer e que viveu da maneira mais simples e low profile de todas poderia ter. Denton tem a percepção de um felino, captando cada passo das pessoas ao seu redor, os sentimentos que perpassam pelas suas expressões, seus comportamentos. Faz sentido quando é relacionado aos personagens do núcleo principal: seu melhor amigo, pai e madrasta, namorada, irmão… Mas quando se trata de pessoas de fora, não faz. Denton não conhece tanto assim sobre elas para poder entendê-las, então o autor utilizou um recurso narrativo que na verdade é usado o tempo todo: o protagonista sabe das coisas, para que possamos saber também.
Cada personagem possui uma personalidade bem distinta, mas o autor pecou em vários momentos, colocando-os para terem trejeitos muitas vezes idênticos, como um sarcasmo deliberado que beira à grosseria. Algumas situações são meio que enfiadas na nossa goela para serem críveis, mas mesmo em um mundo em que pode-se adivinhar o dia da morte da pessoa é forçar a nossa suspensão da descrença pelo simples motivo de que não faz sentido. Talvez na continuação o ator vá fechar essas pontas soltas? Talvez. Não me sinto animada para pagar para ver, mas possivelmente irei, pois quero saber o que ele estava planejando.
A narrativa em si é boa, mesmo com enredo fraco, e dá para ler “numa sentada”. Você fica curioso com algumas coisas, como o mistério que envolve a sua mãe biológica ou a estranha mancha roxa que aparece no seu corpo, mas as resoluções são fracas. Pra mim, o melhor personagem é o Paolo, e adoraria um spin off dele – mas a continuação é sobre o nascimento do Denton, então não veremos o melhor amigo do protagonista passar o seu último mês de vida sem ele.
Assuntos demais foram abordados sem dar a devida profundidade, e personagens iam e não voltavam e não conseguimos nos importar. Faltou coração à narrativa, ainda que o tema seja bem interessante, com um dedo mindinho encostando de leve na ficção científica.