Como transformar um terror envolto em uma aura de suspense familiar, e que marcou toda uma geração, em algo completamente descartável? O Chamado 3 responde essa pergunta com louvor. Lembra de todo o clima criado pelo diretor Gore Verbinski no primeiro filme? Aqui não existe a mínima fagulha disso. Aliás, não existe nenhum motivo plausível para a existência desse longa.
E o pior, O Chamado 3 consegue desapontar até na hora de utilizar as muletas de seus companheiros que representam o atual terror pipoca de Hollywood. Jumpscares falhos, trilha sonora falha, efeitos falhos e por aí vai. Não existe nada que cause um mínimo rebuliço na cadeira. Até as pessoas que ficaram sem dormir por 7 dias depois do primeiro O Chamado darão risadas aqui. Samara deveria caçar os responsáveis por esse crime e não adolescentes desmiolados.
Na trama, Julia (Matilda Lutz) fica preocupada quando seu namorado, Holt (Alex Roe), começa a explorar a lenda urbana sobre um vídeo misterioso. Lenda esta que diz que quem assiste morre depois de sete dias. Ela se sacrifica para salvar seu namorado e acaba fazendo uma descoberta terrível: há um “filme dentro do filme” que ninguém nunca viu antes.
“Um filme dentro do filme” foi a grande sacada dos roteiristas para o longa, o que apenas representa o nível da produção. Curiosamente, um dos criadores do roteiro foi Akiva Goldsman que acumula sucessos como Uma Mente Brilhante e bombas como Convergente. Isso explica muita coisa ¯\_(ツ)_/¯
Existe uma tentativa de atualizar a maldição de Samara, o que deveria conversar com o público mais jovem. Diferente de 15 anos atrás, a internet está presente na vida de todas as pessoas. Um prato cheio para o espírito da vingança, com todos os computadores, notebooks e smartphones que circulam por aí. Mas até essa ideia poderia tomar um caminho mais interessante que o apresentado. Em tempos de WhatsApp e os incômodos autoplays do Facebook, caçar novas vítimas do vídeo não deveria ser um problema tão grande (e parece que os roteiristas só pensaram nisso tarde demais…).
Não existe nenhum charme na história dirigida por F. Javier Gutiérrez (A Casa dos Mortos). Todas as reviravoltas são previsíveis, debochando assim da capacidade intelectual do espectador. Sem contar as várias coincidências que surgem para avançar a trama. A cena final resume tudo isso.
No quesito atuação, ninguém se destaca. A nota triste vai para Vincent D’Onofrio e seu cosplay de Stephen Lang em O Homem nas Trevas. Também temos a ilustre presença de Johnny Galecki, interpretando uma versão canastrona de seu Dr. Leonard Hoffstader.
Com vários problemas na produção, o que resultou em um atraso de 3 anos no lançamento, O Chamado 3 consegue deturpar todo o legado de Samara. Certas coisas nunca deveriam sair do fundo do poço.