Néro, série francesa estreia na Netflix - crítica, fatos e curiosidades: o que esperar da 2ª temporada? Néro, série francesa estreia na Netflix - crítica, fatos e curiosidades: o que esperar da 2ª temporada?

Néro (2025) | Crítica da Série | Netflix

A Netflix acaba de lançar mundialmente Néro, nova série francesa criada por Ludovic Colbeau-Justin e Allan Mauduit. Ambientada no início do século XVI, a produção mistura fantasia, religião e política em um cenário devastado pela seca e pela perseguição à feitiçaria. Apesar de uma proposta ambiciosa e de um elenco de peso liderado por Pio Marmaï (O Crime é Meu) e Camille Razat (Emily in Paris), o resultado é irregular, alternando entre momentos visuais impactantes e uma narrativa que não encontra equilíbrio entre o drama e o espetáculo. Leia a crítica da série:

A trama de Néro: fé, poder e maldição

A história acompanha Néro (Marmaï), um assassino a serviço do vice-cônsul Nicolas de Rochemort (Louis-Do de Lencquesaing). Leal e implacável, ele é usado em manobras políticas que envolvem casamentos arranjados, traições e assassinatos disfarçados. Quando descobre ser pai de uma jovem chamada Perla (Lili-Rose Carlier Taboury), fruto de uma antiga relação, Néro é forçado a confrontar seu passado.

A reviravolta ocorre quando La Borgne (Camille Razat), uma bruxa de um olho só, surge para cumprir uma profecia que envolve a garota. Controlado por uma coleira encantada e pressionado por Rochemort, o assassino se vê em uma jornada de fuga e redenção. A narrativa se desenvolve como uma perseguição por uma França mergulhada no caos, com a Igreja reprimindo qualquer traço de magia e um povo à beira da fome e da loucura.

O potencial e os limites da série francesa

A ambientação de Néro é um dos pontos altos. A direção de arte reconstrói com riqueza de detalhes os castelos e povoados medievais, e a fotografia reforça a aridez de um mundo à beira do colapso. O contraste entre fé e feitiçaria é visualmente bem trabalhado, com cenas que exploram o misticismo e a brutalidade da época.

Por outro lado, o roteiro não acompanha essa força estética. A série propõe temas complexos — como a corrupção da Igreja, a manipulação política e o preço da redenção —, mas não os desenvolve plenamente. O resultado é um enredo fragmentado, que se perde em subtramas e falas excessivamente expositivas. A relação entre Néro e Perla, que deveria sustentar o centro emocional da obra, carece de envolvimento e de progressão dramática.

Elenco e ritmo narrativo

Pio Marmaï entrega um protagonista contido, marcado pela culpa e pela busca por sentido, mas o texto raramente lhe permite demonstrar camadas. Camille Razat, por sua vez, é o destaque da série. Sua interpretação da bruxa La Borgne traz um magnetismo que falta a outros personagens, oscilando entre ameaça e vulnerabilidade. Alice Isaaz (Hortense) e Olivier Gourmet (Horace) completam o elenco com solidez, embora muitas vezes sejam subaproveitados pela narrativa.

O ritmo é outro desafio. Néro alterna passagens de ação bem coreografadas com longas sequências de deslocamento e diálogos pouco dinâmicos. Mesmo quando a trama se aproxima de momentos decisivos, a montagem apressa ou dilui a tensão, prejudicando o impacto emocional.

Crítica da série Néro, da Netflix: entre o épico e o drama pessoal

Nos episódios finais, a série tenta se firmar como um épico sobre fé e sacrifício, culminando em um desfecho simbólico que envolve o destino de Perla e a promessa de renascimento para a terra devastada. No entanto, a construção até esse ponto carece de contexto e densidade emocional, tornando o clímax mais confuso do que revelador.

Néro, portanto, é uma produção visualmente elaborada, mas que não encontra um ponto de equilíbrio entre o espetáculo histórico e o drama humano que tenta representar. A série francesa da Netflix desperdiça o potencial de sua mitologia e de seu elenco, oferecendo um entretenimento irregular, ainda que ambicioso, sobre fé, poder e redenção.