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Maligno

“Uma nova visão de terror”. A frase meio presunçosa no pôster de Maligno (2021) é mais sobre ser um artifício textual de marketing do que sobre o novo filme da Warner Bros. de fato é. Esse tipo de frase de efeito era comum em pôsteres de filmes antigos de terror e, pelo estilo gráfico usado em todo material de divulgação da produção, faz sentido estar ali por isto. Em uma entrevista exclusiva ao IGN, o diretor James Wan afirmou que Maligno é “um pouco da minha homenagem à Ópera de Argento e ao Terror na Ópera, e realmente tem tons de todos aqueles anos 1980 e, às vezes, 1970 de thrillers mais violentos e viscerais”.

Entretanto, por mais que Maligno não consiga o mérito de ser marcante para a história do cinema como O Exorcista ou o O Sexto Sentido, é notória a chance de ser um dos sucessos mais lembrados do diretor. Embora James Wan tenha inserido algumas homenagens a estética do terror clássico em Sobrenatural e Invocação do Mal, é em seu novo trabalho que ele atinge o ápice das homenagens, mesmo a história sendo ambientada em tempos atuais.

Madison (Annabelle Wallis) começa a ser atormentada pela capacidade de ter visões realísticas de assassinatos brutais que acontecem na sua cidade. A protagonista descobre que Gabriel, uma entidade que se comunicava com ela desde a infância e era chamada de o “diabo”, está envolvido com essas mortes. Assim, ela decide ajudar a polícia para impedir que mais crimes aconteçam.

É provável que todas as sinopses de Maligno foram escritas com muita cautela para não entregar o caminho certo para o desfecho caótico, bizarro e um tanto cômico do filme. Em seu Instagram, James Wan pediu para que as pessoas que assistissem ao longa não contassem sobre o final e guardassem segredo. Aos que não se importam com spoilers e resolvam procurar pelo assunto, garanto que perderão um bom passeio pela dúvida tão divertidamente construída pelo roteiro. O melhor mesmo é deixar o filme se revelar por conta própria. Atenda ao pedido do diretor e a recompensa virá.

A junção de uma trilha sonora inspirada nos clássicos do suspense, que facilmente estaria em uma produção de Alfred Hitchcock, com cenários sombrios e misteriosos estabelece uma boa atmosfera ao filme. E isto é importante, pois como o início é construído lentamente e evita-se dizer muito sobre o vilão, é a tensão pelo inesperado que segura a atenção na primeira parte.

Violência é o que não falta. Tem muitos ossos quebrados, perfurações e muitos litros de sangue. Não chega a ser tão explícito quanto Jogos Mortais, porém as cenas são bem bárbaras. Apesar de, em algumas partes, parecer que virá um tremendo susto, os famosos jump scares ficaram de lado desta vez, o que não significa que não haverá espanto na história.

A atriz que faz a protagonista se chama Anabelle Wallis. Não parece ser proposital, mas imagino o prazer de James Wan em ver nos créditos iniciais o nome Anabelle, uma leve lembrança de um dos seus sucessos nos cinemas. Ela torna-se tão interessante no papel de Madison que chega um momento do filme em que se percebe o quão fácil seria acompanhá-la em uma série ou trilogia. É uma personagem fragilizada que vai ganhando importância aos poucos e nos cativa pela necessidade de superar traumas para permanecer viva e vencer Gabriel, o seu adversário.

A equipe policial funciona bem, trazendo um toque de humor e leveza em momentos pontuais. A dupla Kekoa Shaw (George Young) e Regina Moss (Michole Briana White) são bem entrosados e agregam à história principal  quando se encontram com Madison e sua irmã Sidney (Maddie Hasson). A ação criada pela investigação típica de filmes de terror dá mais camadas ao enredo e, por mais que seja repleta de clichês e facilitações, o triunfo do final balanceia qualquer obviedade.

A estética final do enigmático Gabriel é bem curiosa, o que ajuda a mascarar alguns erros de movimentos não corrigidos pela equipe de efeitos especiais. Algumas perguntas ficam sem respostas, principalmente sobre as capacidades sobrenaturais de Gabriel, e o melhor é aceitar a liberdade artística e curtir o personagem.

Maligno é um filme criativo, tem uma trama bem satisfatória e se torna uma boa surpresa para o gênero do terror. Nem precisaria ter um plot twist tão inusitado para agradar ao público. O longa pode até não ficar todo marcado na sua cabeça, mas algo bom ou maligno certamente ficará.