Judd Apatow gosta de falar sobre o amor, mas escolhe rechear o tema com outros assuntos que tornam a receita muito mais interessante. Apesar de apresentar uma fórmula de fácil reconhecimento, de vez em quando ele se permite explorar algumas alternativas. A segunda temporada de Love, série original da Netflix, é uma pequena prova disso.
Acompanhamos aqui as consequências imediatas do beijo de Gus (Paul Rust, roteirista e cocriador da série) e Mickey (Gillian Jacobs) no final da primeira temporada. Quando parecia que o casal havia chegado ao fim da corrida, uma nova oportunidade surge. Ainda que relutante após seu voto de ficar longe de relacionamentos por um ano, Mickey aos poucos vai cedendo ao jeito de Gus, que já havia mergulhado de cabeça nesse sentimento.
Os protagonistas continuam disfuncionais, lutando contra velhos vícios e descobrindo novas imperfeições. Mas agora precisam encarar o maior desafio que surge em uma relação: o amadurecimento. Não apenas para crescerem como uma dupla, mas principalmente de maneira individual. É preciso colocar o dedo na ferida, assumir os erros e aguentar as consequências. Bonito no papel, mas complicado na prática.
De maneira acertada, Judd Apatow constrói curvas de desenvolvimento igualmente interessantes para Gus e Mickey. Ela não é apenas a “autodestrutiva” e ele passar longe de ser “o cara legal”. Love sabe como ser cínica, mas é justa quando necessário. Dizem que o amor também tem um pouco disso.
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As situações constrangedoras e as confusões continuam presentes, ganhando agora um pouco mais de tempero. O relacionamento do casal é frágil, já que ambos pisam em ovos. A menor das fagulhas cria um incêndio que logo se alastra e consome a paz arduamente conquistada. As brigas na mansão e na ligação do Skype são ótimos exemplos.
O núcleo que cercava Gus perdeu um pouco de força, o que o colocou quase em uma aventura solo. Oportunidade perfeita para explorar seus demônios internos. Ele é controlador, dependente e perigosamente condescendente. Coisas que demora a perceber e que se mostram bastante tóxicas. Seu sonho de ser roteirista deu uma leve guinada, mas parece distante de render algo concreto.
Mickey finalmente resolve combater seus problemas com álcool, buscando uma evolução em sua vida. Claro, existe a motivação do namoro, mas não é apenas por isso. Quando uma viagem de trabalho a separa de Gus, podemos presenciar seus melhores e piores momentos. Mais centrada no trabalho, começa a colher os frutos. Porém, seu medo de relacionamento parece aflorar, causando situações que a jogam para os primeiros episódios da temporada anterior. Love não é de pintar vilões e mocinhos, mas algumas atitudes são difíceis de defender.
Os coadjuvantes ganham mais espaço, até mesmo com alguns arcos românticos. O destaque vai para Bertie (Claudia O’Doherty), bem mais segura e engraçada, funcionando com um contraponto para as atitudes de Mickey, ainda que ambas cometam erros bem parecidos.
Em sua segunda temporada, Love continua escancarado os pontos negativos do amor, mas abre algumas janelas para as coisas boas. Com uma visão menos pessimista, mas ainda cética. Não existe espaço para devaneios. Com o terceiro ano já confirmado, Judd Apatow deve encerrar sua experiência científica, resta saber o que o futuro reserva para as cobaias Gus e Mickey.