O terceiro da franquia, Jurassic World: Domínio, chegou prometendo muito, principalmente ao trazer de volta o trio original de Jurassic Park: Alan Grant, Ellie Sattler e Ian Malcom. Apesar dessa disposição toda, o filme não entrega, e volta para o mesmo núcleo batido das personagens ficarem presas em um “parque”. Mas vamos por partes
O filme começa com uma espécie de crítica, talvez reflexão, sobre a responsabilidade que teríamos sobre a vida dos dinossauros, visto que, em tese, não deveria haver espaço para tais seres na natureza após tanto tempo extintos e estariam trazendo mais malefícios do qualquer outra coisa. O que faz sentido, já que enfiar um novo ser vivo dentro de um habitat já estabelecido costuma levar o caos para lá (só ver casos como da praga de hipopótamos na Colômbia), e, ao mesmo tempo, seria imoral abater esses animais por causa de um erro humano e extingui-los novamente. É claro que parte dessa solução envolve entregar os dinossauros nas mãos de um bilionário excêntrico. De novo.
Desconfio que a franquia tenha um fundo comunista, já que o vilão costuma ser um bilionário safado que comete os mesmos erros dos outros bilionários safados. Hm… Gosto.
A trama nos entrega uns 500 núcleos de uma vez, e quase uma hora de filme é gasta apresentando e descartando personagem, alguns muito bons, antes de afunilar para os protagonistas e mantê-los todos juntos numa confusão só, ao invés da confusão separada de antes. Ao invés de um “mundo aberto” com dinossauros, voltamos à ideia do “parque” (como ouvi falarem, é a Estrela da Morte deles), que garante diversas rimas visuais e de diálogo para os nostálgicos ficarem presos mais um pouco à narrativa – o que falha miseravelmente, pois as tentativas de fan service são bem medíocres, como uma cena em específico que coloca Owen para ser o equivalente de Grant e ambos dizerem a mesma frase clássica do “não se mexam”. Infelizmente, nem cabia ali um “não se mexam”. Tentam fazer aquele paralelo do velho com o novo, e não é somente Owen que seria o equivalente a Grant, como Claire seria a dra. Ellie – mesmo que os personagens nada tenham em comum entre si além de serem do mesmo gênero e serem protagonistas de uma franquia de dinossauros.
Falando em forçar a barra, o filme é cheio desses momentos, tentando encaixar frases e diálogos de efeito, mas que na verdade não tem nada demais. Também, a cada problemática que a narrativa apresenta, mas não sabe como resolver, é criada uma divergência específica: briga de dinossauro. E nem mesmo são brigas legais, é uma coisa jogada bem aleatoriamente para nos distrair de mais um furo no roteiro. Ao tentar abraçar o mundo com as pernas, o longa falha o tempo todo, deixando de lado personagens e subtramas criadas, que ficam jogados no limbo como se jamais tivessem existido. Particularmente, eu preferia que a história tivesse sido mais limpa, e não esse embaralhado de coisas jogadas de qualquer jeito, parecendo que queriam dar uma certa complexidade ao filme, mas erraram feio.
Os dinossauros, em momentos pontuais, foram bem recriados, em clássicas cenas que foram feitas especialmente para ficarmos encarando a tela e babando, porém, em vários outros, parece que fizeram de qualquer jeito, parecendo uns bonecos mal-feitos, daqueles falsificados que você compra no centro de ruma. Fazem um drama danado relacionado aos bichos, mas eles pouco são explorados dentro da história, sendo mais um pano de fundo fraco para justificar uma aventura de resgate. Aliás, não tem UMA cena memorável com os coitados, nem mesmo quando tentam recriar, pela milionésima vez, a cena da T-rex. Ao invés de trazer aquele fan service gostosinho, só nos faz revirar os olhos de tão patético que o resultado ficou.
A melhor coisa de Jurassic World: Domínio é o trio original, principalmente Ian, interpretado pelo nosso queridinho Jeff Goldblum, que traz não só os melhores fan services, como está claramente se divertindo no papel. Parece que o soltaram na história e disseram: seja você mesmo, e ele foi, e isso é lindo. Laura Dern, no seu papel de Ellie Sattler, e Sam Neill de dr. Grant também estão à vontade, mesmo o arco deles sendo qualquer coisa e sem sentido. Quiseram dar uma espécie de encerramento para eles, eu acho, mas não desenvolveram bem. Mas, a essa altura, que se dane.
As outras personagens, Claire, Owen, Maisie e Kayla, são bem ok. Maisie traz o plot principal nas costas ao ser o alvo de resgate de seus pais e se tornando o objetivo primordial de, bem, praticamente todo mundo, mas o arco da própria garota é extremamente subdesenvolvido; o que deveria ser um tempo para autodescoberta, sobre quem ela é, quem foi Charlotte e tal, é resolvido em 5 segundos, mas previamente teve um drama danado, o que deixa um gostinho de “que diabo foi isso?”. Kayla é jogada de qualquer jeito na confusão, mas longe de reclamar do fato de tentarem dar uma motivação forte para ela e, de novo, fracassarem, eu agradeço aos céus, pois ô mulher linda, armaria. E a personagem dela é carismática, uma pena que agrega em nada ao filme.
Quanto a Claire e Owen… Não tem nada de novo sob o sol para se falar deles.
No fim, Jurassic World: Domínio não tem nada de domínio, sendo uma história esquecível, pouco memorável, com problemáticas “complexas” e solução burras, em que ele mesmo é empurrado para baixo por si próprio. Talvez você, indo sem pretensões, consiga se divertir. Para mim, as duas horas e meia de filme pareceram seis, de tão cansativo que ele se torna, prometendo constantemente por algo que nunca vai vir.