Disponível desde janeiro na Netflix, a antologia Junji Ito: Histórias Macabras do Japão possui potencial de popularizar ainda mais o mangaká, considerado um dos maiores nomes do terror na atualidade. Mas será que toda essa potência se traduz em qualidade?
Bastante popular em solo nipônico, o autor se popularizou por trazer assombrosas histórias, em sua maioria no formato de contos, mesmo que façam parte de uma narrativa mais extensa. Isso acontece muito com Tomie, seu primeiro trabalho que chegou ao Brasil pela editora Pipoca & Nanquim numa caprichadíssima edição.
Para esta adaptação, temos uma reprodução de uma seleção destes contos, algo como um “best of” para saciar o espectador conhecedor ao mesmo tempo em que apresenta a arte de Ito neste formato para um novo público.
O primeiro conto/episódio, apresenta uma família bizarra que sobrevive a partir da pensão deixada pelo finado pai ao mesmo tempo em que é enganada pelo irmão mais velho, que finge sair para trabalhar todos os dias até que, na ambição de conquistar uma mulher (comprometida), ele a convida para conhecer seu esquisito reduto fantasmagórico – o que leva todos a participar de uma sessão de espiritismo (e não é o kardecista).
Já o segundo episódio se divide em dois contos. No primeiro, falando sobre um misterioso túnel em que pessoas aparecem e desaparecem. Já no segundo, temos uma macabra história sobre um carrinho de sorvetes que literalmente faz a cabeça da criançada (essa foi minha história favorita até o momento).
O terceiro episódio mostra um aparente suicídio de uma jovem celebridade tomar proporções avassaladoras para toda uma população, desencadeando numa série de mortes em que as vítimas têm suas vidas ceifadas por balões gigantes com o formato da própria cabeça.
E são diversos outros adaptados, trazendo, inclusive, personagens consagrados dentro do universo de terror, como a já citada Tomie e Souichi. Nas obras impressas, um dos problemas em acompanhar as histórias de Junji Ito é justamente a narrativa limitada a contos, o que impede muitas vezes de um aprofundamento adequado a temas e personagens. O anime piora ainda mais isso, trazendo os mesmos contos com menos conteúdo que o original. Para quem já conhece boa parte do que está sendo mostrado, fica uma sensação de uma sessão incompleta bem difícil de aceitar e esse sentimento se estende conforme assiste a todos os episódios na maratona.
No entanto, Histórias Macabras do Japão acaba sendo uma sessão um tanto rápida e divertida para conhecer toda essa inventividade aplicada a fim de explorar os mais sórdidos e bizarros medos do ser humano.
A qualidade estética da animação do Studio DEEN está um tanto pasteurizada, intercalando com momentos em 3D que quebram um pouco o glamour, como se as histórias de Ito tivessem um aspecto de papel de jornal antigo que fica estranho ao serem violadas pela padronização estética vazia. Afinal, trata-se de um autor de mangás que possui um traço bastante elogiado, e levar isso para o mundo da renderização talvez não seja a melhor das escolhas. Shinobu Tagashira é o diretor e designer dos personagens ao longo dos episódios.
Em suma, fica a recomendação da obra impressa de Junji Ito (confira nosso guia de leitura com tudo que já foi lançado), já são quase vinte lançamentos do autor em solo brasileiro e as opções são as mais variadas e horripilantes.