Dificilmente você irá assistir a um filme tão ruim quanto Jade: Guerreira Solitária, caso tenha sido contemplado (como eu) ao se deparar com a produção figurando como a vista do serviço Netflix ao longo dos últimos dias. No entanto, pode ser que, em algum momento o filme se torne tão ruim, mas tão ruim, que somos vencidos pelo cansaço, tornando esse crime cinematográfico em algo divertido. Quer apostar?
James Bamford apresenta uma trama sobre uma mulher tendo que enfrentar seu passado quando, sem querer, se vê responsável por proteger um HD com segredos da Interpol. Desse modo, suas habilidades extraordinárias de luta são colocadas à prova por uma gangue liderada por um asqueroso figurão.
A impressão que fica, logo de cara, é que estamos lidando com aqueles filmes criados por fãs, ávidos para ver produções decentes de seus personagens favoritos, pegando “emprestado” personagens de franquias como Power Rangers e Mortal Kombat para desenvolver projetos sem fins lucrativos – mas muitas vezes empolgantes. Sangue digital, armas de brinquedo e cenários que mais se assemelham ao quintal daquela sua tia, perfeito para brincar de “lutinha”, pega-pega ou gravar vídeos para o YouTube.
Mas não: a parada aqui é séria. Ou deveria ser.
A experiência de James Bamford em na direção de séries se resume basicamente a Arrow, num total de dezessete episódios comandados. Vale mencionar também que ele dirigiu um episódio apenas das séries Supergirl, Batwoman, Superman & Lois e NCIS: Hawai’i. Mas o que mais pesa dentre esses trabalhos é a contribuição de Bamford na coordenação de dublês, profissão essa que, se não é a mais notada por parte do público (o que é um ótimo assunto para se refletir à luz do filme O Dublê, recém-lançado por David Leitch), ao menos garante uma baita experiência para cineastas se desenvolverem e alcançarem voos mais altos, como é o caso de profissionais como (além do próprio Leitch) Sam Hargrave (Resgate) e Chad Stahelski (John Wick).
Você pode até pensar que estou ressaltando os dotes de dublê do diretor para dizer que é nesse momento que Jade: Guerreira Solitária se torna algo interessante, mas sinto muito: isso não vai salvar a sua experiência. Há algumas tentativas, sem dúvida, mas a masturbação lenta em formato de cenas de ação presente neste filme é um verdadeiro porre. James lança mão daqueles falsos plano sequência ou plano longo pretenciosos demais ao ponto de se tornarem uma coisa brega que só, como se fosse uma criança gritando para o mundo inteiro “olha só, eu sei fazer isso!” assim que se depara com o maior palco para o seu circo: a Netflix.
Claro que é bem possível que o diretor não soubesse para onde iria seu filme enquanto gravava essa salada mal feita de western moderno com John Wick e narrativa pseudo tarantinesca, então vale elogiar sua audácia por desenterrar, seja lá onde é que estivesse, o ator Mickey Rourke. O outrora galã de Hollywood continua firme em seu projeto em busca do recorde de procedimentos estéticos mal realizados na face, então não deixa de ser um bingo interessante a favor de Jade responder a pergunta “por onde andava Mickey Rourke?”
Falando no elenco, não há muito o que criticar aqui, pois os atores e atrizes ou são realmente bons ou ao menos conferem algum carisma para seus personagens, então podemos eximi-los de culpa por terem aceito um roteiro tão horrível, com diálogos que são excessivamente didáticos e expositivos nos seus momentos de maior inspiração. Mark Dacascos dá o ar da graça após sua colaboração com John Wick 4: Baba Yaga, interpretando Reese, uma espécie de mentor da protagonista e agente da Interpol. A estrela do show, Shaina West (Viúva Negra, A Mulher-Rei), está bem encaixada na proposta do visual de Jade, e consegue entregar alguns bons momentos em contrapartida aos ruins (que são maioria).
Jade: Netflix possui uma bomba em seu top 10
Em suma, é isso. Você vai dar tantas voltas com esse péssimo filme que, no final, vai se deparar com um gerador infinito de plot twists de péssimo gosto, ao ponto de tirar risos de quem assiste. Outra boa risada você vai dar quando o mega manjado e canastrão vilão vivido por Mickey Rourke faz uma ótima piada a respeito da gravidez da personagem Layla (Katherine McNamara). Tenho que reconhecer quando algo é bem feito, afinal.
Mas o melhor sorriso de todos é aquele que você dará (ainda que internamente) ao se ver aliviado por ter passado no teste, e finalizado mais um péssimo filme condenado a cair no esquecimento.