Em tempos de Thanos, multiversos e Reino Quântico, a Marvel parece ter se esquecido de seus personagens mais simples. Pelo menos no cinema, já que a tela do Disney+ tornou-se um reduto para aventuras que não gozam do mesmo glamour de filmes milionários. É curioso pensar que Invasão Secreta, uma das sagas com mais cara de tela grande da editora, tenha ganhado vida justamente no streaming. Mas julgando pelos eventos recentes, gosto da pegada intimista abordada aqui. Um clima de espionagem sempre cai bem em qualquer gênero.
Apesar da escala menor, essa adaptação de Invasão Secreta carrega consigo o sensação de paranoia de sua contraparte nos quadrinhos. A desconfiança que paira no ar sobre quem são os aliados e os inimigos alimenta uma tensão palpável na tela. Pelo menos é o que aparenta o primeiro episódio lançado. Cansado de promessas não cumpridas, o rebelde Skrull Gravik (Kingsley Ben-Adir) articula ataques terroristas ao redor do mundo. Para deter o perigo, Nick Fury (Samuel L. Jackson) retorna do espaço e une forças com Talos (Ben Mendelsohn) e Maria Hill (Cobie Smulders). O material de marketing deixou isso é claro, mas não custa ressaltar: esse é um show de Nick Fury.
E os personagens também reforçam essa impressão constantemente. O outrora diretor da S.H.I.E.L.D, responsável por reunir Os Vingadores, já não é mais o mesmo. Ele anda mancando, com as costas arqueadas, parece desatento e fraco. Mais de uma vez ele é lembrado de que não está pronto para a missão. E Samuel L. Jackson sabe como trabalhar isso, mascarando a fragilidade com a característica atitude marrenta que ele empresta aos seus personagens. Fica a curiosidade de como ele irá contornar os problemas ao decorrer da série.
No entanto, Invasão Secreta caminha de forma irregular. Além do clima conspiratório, o showrunner Kyle Bradstreet toma emprestado o ritmo lento dos filmes de espionagem antigos. Quem espera um nível mais parecido com o James Bond de Daniel Craig pode se decepcionar ao encontrar algo mais próximo da época de Roger Moore. As cenas de ação são bem espaçadas ao longo do episódio e o foco parece ser mesmo a interação entre os personagens. Jamais irei reclamar de ver Samuel L. Jackson e Olivia Colman trocando farpas em uma sala, não sou maluco. Mas é preciso existir um equilíbrio entre esses aspectos.
Além da necessidade de funcionar como uma boa atração, Invasão Secreta precisa enfrentar o estigma de outros programas que contaram com um começo até interessante e terminaram de maneira decepcionante, como, por exemplo, Cavaleiro da Lua e Ms. Marvel. Em algum momento desse texto digitei Invasão Discreta no lugar do título original, algo rapidamente corrigido. Mas fico com a expectativa de que essa guerra não seja tão discreta quanto um espião caminhando por becos escuros. Nick Fury merece muito mais.