Uma das coisas que eu gosto na HBO são as qualidade de suas produções, e sempre que posso, corro para ver algo lançado pela plataforma. E o que tenho consumido bastante nos últimos meses são as séries documentais. Na procura por algo que me interessasse, acabei esbarrando em I’ll Be Gone in the Dark (ou Eu Terei Sumido na Escuridão) – e me envolvi.
O documentário é baseado no livro de mesmo nome, da saudosa escritora policial Michelle McNamara, e aborda o caso do “The Golden State Killer“, um assassino e estuprador em série que agiu durante as décadas de 1970 a 1980 nos EUA. Mas, mais do que isso, a minissérie trata sobre a história da escritora e a produção de seu livro, que, de certa forma, ajudou nas investigações policiais para que, cerca de 30 anos após os crimes, o serial killer fosse preso e condenado.
Por não conhecer o caso e nem imaginar o que a série documental me apresentaria, acabei me instigando com a narrativa apresentada. Não é fácil tratar sobre estupro, e McNamara, que já tinha um site e podcast falando sobre assassinatos e seriais killers, aborda o caso do The Golden State Killer de uma forma mais humanizada, dando voz e rosto às vítimas que foram desprezadas por anos.
Em I’ll Be Gone in the Dark, o foco é em todo o processo de investigação que McNamara realizou, com pesquisa documental, entrevistas e auxílio de diversos investigadores, amadores ou não, o que transformou seu trabalho de “detetive amadora” em algo que a consumiu ao longo do tempo, se tornando uma obsessão para desvendar o caso.
Por conta de seus esforços, McNamara foi convidada a escrever sobre o fato para o jornal Los Angeles Magazine, o que, posteriormente, abriu portas para que seus artigos se tornassem um livro. É nesse ponto da série que começamos a entrar ainda mais na vida da autora e no que ela estava descobrindo sobre o assassino.
A qualidade cinematográfica dos projetos da HBO tem se intensificado. Para citar alguns exemplos, indico que vejam a premiada minissérie Chernobyl (2019), e as recentes Watchmen (2019), I May Destroy You (2020) e querida do momento Lovecraft Country (2020).
Dito isto, I’ll Be Gone in the Dark é um documentário que mescla as narrações de Amy Ryan com o olhar de direção de Liz Garbus, equilibrando as narrativas das duas tramas (a vida de McNamara e as investigações sobre o caso) sem deixar deixar de focar no que foi importante para a autora: as vítimas.
Antes que pudesse concluir o seu trabalho, a autora faleceu por uma overdose de medicamentos. O livro foi terminado por seu marido, o ator e comediante Patton Oswalt, em parceria com Paul Haynes e Billy Jensen, que foram ajudantes na investigação de McNamara.
Concluída em seis episódios, a minissérie é muito boa, fechando de forma satisfatória tudo o que vinha sendo trabalhado ao longo das várias horas. Tive apenas um pequeno incomodo com uma pequena barriga que senti nas etapas finais, porém nada que diminua todo o trabalho realizado aqui.
Ela não descobriu quem era o assassino, não o viu ser preso e nem pôde perceber o quão importante foi a sua investigação para que, em 2018, a polícia conseguisse identificar aquele que levou terror e sofrimento às diversas famílias nos EUA durante a década de 70.
A série documental I’ll Be Gone in the Dark não deve trazer nada de novo ao caso do The Golden State Killer para aqueles já o conhecem ou já leram o livro, mas tenta abordar as questões psicológicas da autora durante todo o processo de escrita, não deixando de dar rosto e voz às vidas que se foram e às pessoas que ficaram com as lembranças de um monstro. Não vou comentar sobre o final e sobre o assassino porque, se você não sabe nada sobre essa história e se interessa pela temática de crimes, então fica a indicação.
E caso alguém queira ler o livro, ele foi publicado no Brasil pela editora Vestígio.