Chernobyl é a obra-prima da HBO do ano | Crítica

Para aqueles que assinaram a HBO por causa de Game of Thrones e se arrependeram, nem tudo está perdido. Juntamente com o finalzinho da série medieval, o canal lançou uma mini-série que vai ficar entre as melhores do ano. Confira nossa crítica sem spoilers de Chernobyl.

A série conta a história real do acidente que ocorreu em 1986 na União Soviética. Com uma abordagem mais pessoal, acompanhamos o cientista nuclear Legazov (Jarred Harris) e de outros vários personagens que sacrificaram sua vida para controlar uma das maiores catástrofes causadas pelo homem.

Dentre os seus 5 episódios, a série não poupa o uso de hipérboles para se referir ao acidente. Em diversos momentos você parece estar assistindo algum filme de catástrofe de ficção. Mas sempre somos lembrados que aquela situação aconteceu mesmo. A veracidade visual e narrativa da série também é extremamente absurda, trazendo o contexto político e social dos acontecimentos a todo momento.

A narrativa da minissérie escolhe muito bem quem vão ser seus heróis e vilões. Como protagonistas, temos todas as pessoas comuns que sacrificaram suas vidas a curto ou longo prazo para resolver os problemas causados pela explosão. Como vilões, temos tanto a ameaça invisível da radiação e também os problemas do governo que levaram ao acidente. Por se tratar de uma obra ocidental, é claro que existe um viés ideológico de atacar o governo comunista da URSS. Em alguns momentos, alguns personagens ficam caricatos demais mas é importante entendermos que não existe nenhuma obra sem ideologia. Mas esse ponto é um mero detalhe que não afeta nem um pouco a qualidade da série.

Dessa forma, o contraponto interessante que a série faz é que o povo russo tinha os verdadeiros ideais socialistas em si, raramente negando sacrificar suas vidas para salvar os seus iguais. Por outro lado, o grande escalão do governo é representado por personagens egoístas e covardes. Apesar disso, temos o ótimo personagem Borys Shcherbina (vivido por Stellan Skarsgård). Um político que começa cético e vai ficando mais humilde enquanto a narrativa avança, reforçando essa narrativa do poder dos sentimentos do homem comum em detrimento ao governo.

Além desse vilão visível, temos a ameaça invisível da radiação. Para nós que já temos informações privilegiadas do acidente, dá uma agonia desgraçada ver aquelas pessoas claramente despreparadas para lidar com uma situação de radiação como aquela. Existem cenas super tensas e magistralmente dirigidas de pessoas lidando com níveis mortais de radiação. O diretor Johan Renck conseguiu criar cenas claustrofóbicas que parecem ter sido tiradas dos filmes de terror mais aterradores para contar situações reais. O uso da trilha e efeitos sonoros é essencial para criar essa sensação de desespero, sempre usando o som do contador Geiger e trilha evoluindo para mostrar o perigo sempre presente.

Chernobyl já pode ser considerada um dos clássicos da HBO. Infelizmente, temos somente 5 episódios que contam pouco de todos os detalhes do acontecimento. Fica uma sensação de quero-mais é verdade, mas aquilo que é mostrado é feito com uma maestria fenomenal. Mesmo os momentos de explicação expositiva são feitos dentro da narrativa e nunca gratuitos. Os resultados da catástrofe são mostrados de forma fria, sem muito dramalhão barato, dentro de um ritmo maravilhoso que sempre te deixa empolgado para ver o próximo episódio. Recomendadíssimo.