É redundante falar que a Marvel tem a mágica de pegar personagens de segundo escalão e transformá-los em ícones instantâneos da cultura pop. Estamos acompanhando isso desde 2008. Mas no momento em que se reclama que a fórmula parece batida, o Homem-Formiga aparece para nos mostrar que pequenas coisas podem gerar surpresas gigantescas.
Em meio a tantos problemas internos (troca de diretor, saída de alguns atores) parecia que o filme caminhava rumo ao fracasso absoluto. Mas a Marvel apostava todas as suas fichas em Paul Rudd. E o cara não decepciona em nenhum momento, chegando muitas vezes à abalar o reinado de um certo Stark. Seu carisma torna fácil que compremos seu Scott Lang. Ele faz o estilo ladrão gente boa, que é capaz de furtar (pois ele deixa claro que não rouba) seu celular e ainda pedir desculpas pelo incômodo. Não é preciso muito tempo para que você queira dar um abraço apertado nele e dizer que tudo vai dar certo. Scott é o herói mais humano que a Marvel já apresentou até o momento. Assim como Homem-Formiga é seu filme mais “família”.
Um grande protagonista precisa de um antagonista de respeito, obviamente. E Corey Stoll é esse cara. Trazendo um Darren Cross/Jaqueta Amarela tomado pela raiva e o ressentimento, ele sabe como fazer o estilo “gênio louco com manias de grandeza”. Darren é ameaçador mesmo passando boa parte do filme sem seu traje de combate. Seu olhar insano e as atitudes drásticas quase conseguem acabar com tudo. É, talvez, o grande poder que se pode tirar da loucura.
Hank Pym (Michael Douglas) destoa um pouco do clima divertido do filme. Sempre parece que o ator não está confortável com esse mundo. Mesmo que a interação entre ele e Scott seja divertida, é impossível não ficar com o sentimento de que falta algo. É preciso até que o herói salve a relação entre Hank e Hope (a sempre ótima Evangeline Lilly – e futura Vespa também). Mas depois de algumas cenas hilárias, é possível até relevar esses fatos.
As cenas de treinamento e lutas acontecem nos lugares mais inusitados que você imaginar. E é nesse ponto que Homem-Formiga se destaca: ele abraça sua essência. Todos os efeitos especiais são voltados para os momentos em que Scott está usando o traje. Isso torna até mesmo o 3D – quase inútil nesses filmes – divertido.
É um filme de origem e não podemos esquecer disso. Por isso o foco passa a ser o crescimento de Scott e de suas habilidades. E que cenas maravilhosas esse treino nos entrega. O longa possui um clima próprio e sacadas que arrancam risadas de uns e caras fechadas de outros. Depende do seu nível de mimimi 😉
Homem-Formiga tinha a missão de se encaixar em tudo que já vimos do MCU até o momento. E olha nunca existiu um ponto mais fora da curva e ao mesmo tão interligado quanto esse. Durante um tempo demorei para acreditar que estava vendo um filme da Marvel. Mas logo a ficha caiu. Tem SHIELD, HYDRA, Vingadores e Novos Vingadores. Tem a porra toda. A participação do Falcão é curta e extremamente importante, funcionando certamente como a cereja do bolo. Não sei até que ponto Edgar Wright viajou para que a Marvel tivesse que cortá-lo do projeto. Mas ainda bem que isso aconteceu. Esse é nitidamente o filme que a Marvel mais controlou. E ninguém apareceu para chorar em sites de cultura pop (abraços Joss Whedon).
Em tempos onde ter poderes e usar um traje parece um enorme pesadelo, é essencial ter um filme como Homem-Formiga. Com uma ação “mais pé no chão” até onde é possível usar esse termo. Ele vem para nos lembrar da época em que brincávamos de ser super-heróis e a vida era menos chata. Vem para nos lembrar que são as pessoas que menos esperamos que são capazes de coisas que nunca imaginamos.