Homem-Formiga era mais um potencial fiasco para a Marvel Studios. Transformar personagens secundários em novos ícones têm se mostrado sua especialidade, e ao contrário do meu colega Charles Luis, considero importante lembrar das vezes onde isso foi possível, seja com Homem de Ferro ou até mesmo Guardiões da Galáxia. A comparação entre ambos, no entanto, fica apenas nesse âmbito do sucesso improvável que é conquistado não porque segue à risca uma determinada fórmula, mas sim pelo fato de conhecer o produto que possui e dedicar toda sua criatividade no mesmo.
Armado com a incrível habilidade de se diminuir em escala, mas aumentar sua força, o vigarista Scott Lang (Paul Rudd) deve aceitar seu herói interior e ajudar seu mentor, Dr. Hank Pym (Michael Douglas), a proteger o segredo por trás do seu espetacular traje de Homem-Formiga de uma nova geração de crescentes ameaças. Contra vários obstáculos, Pym e Lang devem planejar e executar um golpe que salvará o mundo.
A conturbada saída de Edgar Wright foi contornada com maestria. Conhecida por comandar seus filmes com diretores maleáveis, a Marvel e seu presidente executivo Kevin Feige demoraram para dar sinal verde ao projeto por ele se descaracterizar demais de seu universo cinematográfico já estabelecido e bem sucedido. Então basta uma simples sessão de Homem-Formiga para encontrar a assinatura de Peyton Reed (Sim, Senhor!), que trabalhou junto com Paul Rudd no roteiro criado por Wright (que também tem seus méritos em decisões ousadas como a de tornar Hank Pyn um herói aposentado).
Outro mérito do filme é usar artifícios sentimentais para criar empatia do público com o protagonista. A relação do loser Scott Lang com a doce Cassie (Abby Ryder Fortson) dá muita vida à história, e podemos traçar um paralelo interessante entre eles e Hank Pyn com sua filha, Hope. Ao longo do filme cada ponto de interrogação vai sendo esclarecido de forma competente: Por que Hope não veste o uniforme e resolve a situação de uma vez? A resposta está lá, e de forma orgânica (Vespa!).
Evangeline Lilly sofre novamente com a fúria do “mimimi” por interpretar uma personagem que não existe no universo regular dos quadrinhos (lembram-se da Tauriel de “O Hobbit”?), mas dessa vez ela se sai bem com Hope apesar da peruca esquisita. O mesmo pode-se dizer de Michael Douglas, com idade considerada avançada para viver Pym. E Paul Rudd? Um cara da comédia, olha a Marvel aí “estragando” seus filmes… o único ponto fora da curta é o vilão (mais uma vez). Darren Cross (Corey Stoll) tem a sorte de ser vivido por um ator carismático e com trejeitos interessantes para sustentar um personagem deveras protocolar. Já a turma de “parças” de Scott estão de acordo com a proposta do filme, que ao exagerar nos esteriótipos às vezes acerta (Luis vivido por Michael Peña, ilário) e às vezes erra (Kurt). Mas mesmo no erro podemos atribuir êxito à Marvel pela ousadia.
A funcionalidade do uniforme é muito bem explorada em Homem-Formiga e o visual também vale destaque, inclusive do vilão Jaqueta Amarela. As piadas com o fator de encolher e aumentar são inúmeras e irão proporcionar boas sequências. Outra grande sacada do filme foi categorizar as formigas, onde Scott pode usar grupos diferentes para determinados fins – inclusive voar.
Ao mesmo tempo que fecha bem sua história, Peyton Reed e a Marvel relaciona o Homem-Formiga ao MCU seja com a aparição divertida do Falcão (Anthony Mackie), o passado com a SHIELD e até mesmo com citações ao Homem-Aranha, franquia recém adquirida após acordo com a SONY. Não se tratam, porém, de participações gratuitas ou fã service. As coisas acontecem de tal forma que já tem muita gente pedindo um filme prelúdio com Michael Douglas. É difícil resistir: um filme que fala sobre um super-herói que se encolhe, que diverte e agrada tanto a família em busca de uma história fechada quanto o fã mais chato que procura referências a um universo canônico. Que se dane: Homem-Formiga é um GRANDE filme!
Homem-Formiga está em exibição nos cinemas.