Um dia antes de assistir Homem-Aranha: Através do Aranhaverso no cinema, fui rever o primeiro filme para lembrar da história e apreciar novamente essa obra de arte. E, apesar das opiniões já muito favoráveis sobre o novo longa, achava muito difícil que ele fosse melhor que o primeiro, que acho próximo à perfeição. Felizmente, eu estava errado e saí da sessão completamente impactado.
Através do Aranhaverso continua a história do primeiro filme, mostrando Miles Morales agindo como Homem-Aranha tempos depois e lidando com as dificuldades de manter as duas vidas. Em paralelo, a história de Gwen é desenvolvida em seu próprio universo, lidando com suas escolhas e seus problemas. Mas, ao se encontrar com um novo grupo de pessoas-aranha que protegem o multiverso de anomalias, as vidas de Gwen e Miles irão se cruzar novamente.
Com poucos minutos de filme, o expectador é apresentado à ousadia visual que essa continuação propõe. O mundo de Gwen tem uma brincadeira com as cores de uma forma tão abstrata e artística que me lembrou curtas de animação que ganham o Oscar. Não é nada comum ver esse tipo de coisa em filmes “blockbuster”. Misturando uma linguagem videoclipe e cheio de sentimentos, o jogo de imagens e cores desse universo é um primor visual que combina muito bem com a história trágica da personagem. Mas não demora muito para que personagens de outros universos – cada um com seu próprio estilo e técnica de animação – comecem a preencher a tela ao mesmo tempo. É aí que você começa a ter ideia do caos maravilhoso que é esse filme.
Bebendo da fonte de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso utiliza o maximalismo para contar sua história. Ou seja, é um longa cheio de personagens, estilos, narrativa caótica, rapidez e uma mistura absurda de técnicas de animação diferentes. A cada cinco minutos, você é impactado com uma novidade ou cena que poderia facilmente virar um quadro. Parece que a criatividade da sua equipe é infinita. Apesar da quantidade de plots, referências, personagens e universos, o roteiro milagrosamente consegue contar uma história bastante coesa que sabe exatamente onde apostar suas fichas. É um enredo que entende perfeitamente o que é ser o Homem-Aranha.
Outro aspecto que me impactou positivamente é que esse longa é bem mais ficção científica do que o primeiro. Em diversos momentos, ele lembra filmes como De Volta para o Futuro 2, que expande as ideias do original e acaba se tornando mais adulto e sombrio em alguns momentos. Felizmente, essas regras, referências e quantidade de informação encaixam perfeitamente com a narrativa e o cânone do personagem. A expansão do multiverso do filme é uma ferramenta que trabalha junto com a narrativa e abre margem para os animadores brincarem com estilos diferentes. Não são só referências e easter eggs baratos, existe uma consistência ali.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso consegue cumprir a hercúlea ação de superar o primeiro filme em todos os aspectos. É uma linda homenagem ao personagem, à sua história e ao que ele representa. Ao mesmo tempo é, provavelmente, a animação mais ousada que já assisti e uma das experiências mais incríveis que já tive no cinema. É uma obra-prima que só poderia ser feita utilizando o meio da animação e eleva o nível para escalas astronômicas. É claro que rola aquele medo de que a continuação não chegue aos pés, mas a equipe criativa já mais do que mostrou que é capaz de milagres.