Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo: o novo filme da A24

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything everywhere all at once, no original) chegou como um mimo carinhoso para quem é fã do estúdio A24. O filme trouxe uma premissa bem clara desde o começo da sua divulgação, que é tratar sobre o multiverso. Porém, tirando a saturação do tema e a mesmice que lidamos com a situação, alguém mostrou que dá pra falar pouco e explicar tudo.

Everything everywhere all at once

Everything everywhere all at once traz uma trama que não precisa de precedentes. Ou seja, você não precisa ter visto três séries, lido cinco sagas de HQ, visto 13 filmes e feito um mapa mental para entender a complexidade de tudo.

Como visto no trailer, o assunto multiverso domina toda a história da obra, mesmo que a finalidade por trás disso seja bem mais importante. Com um elenco bem forte e um roteiro magicamente fechado, a A24 mostra que tem espaço de sobra para a criatividade fora das sagas.

Entendendo o hype de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

O hype de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo começa a ser construído quando, no início, ele promete um drama Sci-fi. O ciclo se fecha perfeitamente quando vemos que a ficção de qualidade não é deixada de lado, tanto na questão do roteiro quanto na complexidade de entendimento.

Tudo que se espera de uma trama é que ela cumpra o papel principal que se propôs no começo, mas que inove na hora de contar a história. A fórmula padrão de nexo não se aplica aqui e, embora cause uma estranheza até a metade do filme, ela consegue desenrolar o final prendendo o espectador.

Porém, mesmo com um tema tão complexo, o que mais chama atenção na obra é como seus elementos conversam para formar um drama pastelão. É aí que vemos a singularidade do filme: não é preciso uma vida de outro mundo para viver o inimaginável.

Assim, ao mesmo tempo que temos um filme de ficção e drama, Everything everywhere all at once te faz rir e chorar de situações bobas que não passam de momentos cotidianos. Os elementos da narrativa trabalham interdependentemente para gerar um dramalhão bem lapidado de uma sessão da tarde.

O que não passa despercebido aos nossos olhos é a escolha simples de seus elementos. Embora o filme tivesse todos os requisitos para exibir detalhes que vão além da física, ele opta por assumir a simplicidade ingênua, mas que se torna o caminho mais estratégico no final.

Também há um ponto persuasivo na forma com que os multiversos são construídos. Não há nada que seja muito complexo e exija explicações de última hora para atribuir alguns links que ficaram sem um bom entendimento. Isso acontece porque a graça está em tudo ser bastante limitado e realmente não precisar de um pano de fundo que se prolongue no tempo.

Assim, você consegue ter uma maior leveza na forma de interpretar os detalhes do que eles chamam de multiverso. Ainda aqui, há de se levar em conta o bem pensado efeito causa-consequência da existência cósmica do mesmo.

E, diante de uma maluquices dessas, é de se pensar que nem todo mundo conseguiria entrar tão bem na história. O grande destaque de Michelle Yeoh (O tigre e o dragão e Shang-Chi) é sua fluidez perante todos os multiversos, vestindo papéis tão superficiais e profundos ao mesmo tempo. Outro destaque é Stephanie Hsu (Shag-Chi e Maravilhosa Sra. Maisel) que sabe lidar muito com bem suas posições durante a história.

No geral, o elenco é muito bem trabalhado, visto que é impossível imaginar outras pessoas naqueles papéis. Mesmo em tela, há uma união de histórias que parecem autênticas, coisa que é difícil ver por aí. Os atores parecem brincar e se divertir com suas contratações para um clichezão moderno.

Mas, de fato, encaixar o filme em uma categoria engessada talvez seja bem difícil se levar em conta toda a trama. Por mais que o filme permeie o cult, sua construção exagerada é a maior arte que vemos com o passar do tempo, embora isso desagrade quem não aceita a fluidez de temas.

Por mais que venhamos de um presente complexo sobre o entendimento de multiverso, o que Everything everywhere all at once faz é claro e redondo. O hype da crítica e do público parece ser uma construção baseada no que carregamos até agora com experiências frustradas ou não.

Por fim, considere o seguinte: o modelo padrão de construção de narrativa não se aplica muito bem aqui, o que só por isso já traz alguns pontos para o filme, considerando suas lapidação e riqueza de detalhes. A A24 soube muito bem tratar o fim do mundo como algo divertido e cotidiano. Assim como todos os dias.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo estreia nos cinemas brasileiros dia 23 de junho.