Guardiões da Galáxia vol. 3 Guardiões da Galáxia vol. 3

Guardiões da Galáxia Vol. 3

Há algumas temáticas no gênero de filmes de super-heróis usadas em demasia, e podemos incluir nesse balaio a campeã de todas, que é a do grupo de desajustados que se odeiam em algum nível, mas entre si, encontram algum tipo de família – seja para encarar seus traumas ou para salvar o universo. Com Guardiões da Galáxia Vol. 3, o excêntrico James Gunn faz as duas coisas ao mesmo tempo, assim como fez anteriormente nos volumes 1 e 2. E o desgraçado acertou (mais uma vez).

O foco original do ótimo filme, que soa como um grito de ira dentro de tantos lançamentos banais do gênero como Shazam!: Fúria dos Deuses e Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, é Rocket (voz original de Bradley Cooper), que, à luz de todo seu carisma pelo altíssimo QI e pela boca suja (o que contrasta com sua aparência um tanto fofa), é abordado como um ser raivoso devido ao seu passado de tortura e abandono – algo sugerido pelos episódios anteriores, mas nunca de fato explorado.

Guardiões da Galáxia Vol. 3 esconde gatilhos que você precisa enfrentar

Se há poucos meses tivemos uma síndrome de depressão pós-Avatar: O Caminho da Água, ocorre aqui um efeito parecido pela mensagem que o roteiro passa a respeito de abandono animal, e nesse ponto é muito possível que o espectador sensível a esse tema tenha noção do que está em tela: é muito comovente ver animais sendo maltratados por causa da ganância de pretensos serem intelectuais (no filme, esses atributos são centralizados no vilão Alto Evolucionário interpretado por Chukwudi Iwuji). Num mundo ideal, essa mensagem inserida organicamente no roteiro deveria servir como uma voz contra os maus-tratos aos animais.

E por falar em “mundo ideal”, o vilão, mesmo possuindo baixo carisma e pouca profundidade, remete muito aos experimentos dos nazistas, acumulando seres em campos de concentração para atingir seus mais sórdidos objetivos.

Esse cenário ganha contornos ainda mais dramáticos quando James Gunn dá holofotes ao luto vivido por seus personagens: Rocket no passado, Peter Quill (Chris Pratt) com a mãe e a namorada, Nebulosa (Karen Gillan) com a irmã… até Kraglin (Sean Gunn), personagem secundário (como tantos outros), possui sua dose desse complexo processo. E conforme o filme avança, fica evidente o quão é importante lutar para enfrentar essa perda no momento correto.

Mesmo que você não seja fisgado ou arrebatado por essas questões mais emotivas, ainda assim Guardiões da Galáxia Vol. 3 possui alto potencial de divertir quem assiste. As piadas continuam engraçadíssimas, mesclando o humor sujo com nonsense e muitos efeitos de encher os olhos. Uma das sequências de ação, inclusive, podemos classificar sem receio como uma das melhores dos filmes da Marvel Studios.

O adeus de James Gunn

O clima de adeus deixado no roteiro reflete também ao fato do diretor estar “pulando o muro” para trabalhar (ao que parece, integralmente) na Warner produzindo filmes com personagens da DC Comics. O legado deixado por James Gunn ao tirar de sua cabeça um sensacional resultado de uma louca equação (algo como anti-heróis + referências retrô da cultura pop + inspiração dos quadrinhos + cenas filmadas a partir de canções bem selecionadas) está aí para quem quiser e souber usar. Infelizmente, parece que ele é um dos poucos que sabe fazer isso.