Anúncio da Fase 4 e o Medo da Marvel Studios

Depois do grande sucesso que foram todas as três fases do universo Marvel nos cinemas e o recente título de Vingadores – Ultimato como filme com a maior bilheteria da história do cinema (sem levar em conta a inflação), o estúdio anunciou na San Diego ComicCon a Fase 4, inserindo também as séries do futuro streaming Disney +. O calendário dessa fase está previsto até 2021.

E como toda empresa que planeja a médio e longo prazo seus custos, receitas e lucros, com a Marvel não é diferente. Dentro de todo planejamento, é imprescindível a existência de projeções que podem levar a queda de produtos, fracassos de bilheteria e uma baixa no setor do entretenimento que mantém a ponta. Planejamento é expor medos, traçando suas probabilidades para evitá-los. Criar oportunidades. Parece frase de coach, mas é o básico pra qualquer caminhada.

Elenco da Fase 4 no Salão H da San Diego ComiCon

No Salão H, a Marvel deu uma breve exposição de algumas de suas estratégias. Seus medos. E deixar o fracasso numa parte do Multiverso longe da nossa realidade.

ESTRATÉGIA NA FASE 1 e 2

Para isso, vamos relembrar uma das mais icônicas estratégias da Marvel (antes e pós Disney) até a fase 2: a busca por elenco classe B/C. Entenda-se por elenco A atrizes e atores bastante conhecidos pela mídia, popularizados e/ou com cachês altos para a indústria do cinema. B e C, então, são destinados para conhecidos em nível médio e/ou com cachês razoáveis/baixos.

A Marvel nas fases 1 e 2 ficou afamada por escolher um elenco que não demandasse um grande valor de seus orçamentos para pagamento de atores e atrizes principais (salve a injustiçada Scarlett Joahansson e sua personagem Viúva Negra. Mas isso é outra história). Durante as duas primeiras fases, a resposta do público pelo MCU foi excelente, fazendo com que esses atores ficassem cada vez mais valorizados no mercado cinematográfico em geral. Assim foi com Robert Downey Junior e Chris Evans, por exemplo. O primeiro tentando retomando sua carreira depois de idas e vindas de clínicas de reabilitação para dependentes químicos e prisão, e o segundo, mesmo estrelando um Tocha Humana num filme fracassado do Quarteto, só conseguia papéis em comédias românticas de média arrecadação.

Downey Jr. e Evans: Ascensão junto com a Marvel

Para autenticar a estratégia, a Marvel queria Tom Cruise para ser o Tony Stark e não correr o risco com Downey Junior, mas John Favreau convenceu o contrário. Depois do primeiro teste de casting, estavam decididos de que era ele nosso eterno Tony. Esse foi o ponto de partida.

Vale lembrar o grande nome de Samuel E. Jackson. Mas vamos priorizar os protagonistas, já que atores como nosso Nick Fury têm uma estratégia de seus empresários um pouco diferente, porém habitual igual a Morgan Freeman, Kurt Russell, George Clonney: atores consagrados pelo passado até hoje, mas que precisam sempre aparecer em filmes atuais para que a nova geração os identifique e, assim, não caiam no esquecimento. Ativação constante.

Como dito, o elenco cresceu para o mercado dentro do Estúdio e, mesmo com as renovações de contrato superando as primeiras, ainda compensava a já prevista continuidade, até porque a Disney agora era a grande detentora da marca.

MUDANÇAS SUTIS NA FASE 3 

Dando um salto, a fase 3 encerraria a grande Saga do Infinito, o imenso arco já pensado há dez anos. Neles, a prevista aposentadoria do Homem de Ferro e Capitão América por seus atores, que eram os mais carismáticos e queridos pelos fãs. A saída da dupla podia gerar uma evasão para a fase 4, até porque não tem efeito visual do mundo que substitua o carisma de seus atores em tais personagens.

Foi então que, sutilmente, a empresa fez suas primeiras grandes contratações de elenco A: Benedict Cumberbatch e Brie Larson. Atores atualmente consagrados, premiados em diversas películas (vale lembrar a já popularidade na filmografia pop e o Emmy de Benedict e o Oscar da Larson, prêmios bastante populares). Essa seria a forma de apresentá-los antes de encerrar a fase 3 e dar uma popularidade já construída fora dos muros da Marvel. Uma espécie de âncora da empatia e seguir junto ao legado dos que ficaram na casa para os próximos filmes.

Cumberbatch e Larson: Popularidade recrutada para o estúdio

E nisso, chegamos no atual anúncio na San Diego ComicCon. E o quem tem de tão especial nele, além de seus títulos, alguns já esperados e outros surpreendentes?

A ESTRATÉGIA DA FASE 4

Sim. O elenco.

Temendo a grande perda de nomes da fase passada, Marvel percebeu que Benedict e Larson podiam não ser suficientes para – somado a vários outras estratégias – manter o progresso do estúdio. O mercado e seus consumidores são exigentes. O filme 2 tem que ser melhor do que o 1. O 3, bem melhor que os dois juntos. Manter a média não é empate: é perda.

Então, prontamente anunciaram nomes de peso. Populares. Conhecidos. A. Alguns já oficializados anteriormente. Outros ainda estavam no campo do rumor.

Angelina Jolie e Salma Hayek dispensam comentários. Mas vale lembrar que Jolie ainda é um dos cachês mais caros de Hollywood. Mahershala Ali está no auge da carreira, colecionando as maiores premiações do mundo. David Harbour tem seu nome crescendo tal qual Stranger Things. Richard Madden, conhecido pelo seu personagem Robb Stark em Game of Thrones, já tem um Globo de Ouro por Segurança em Jogo. Natalie Portman fez as pazes com a Marvel e volta prometendo um papel não só forte e imponente como A Thor, mas com uma história que pode render um dos melhores dramas do MCU. E de drama ela entende.
Kumail Nanjiani é um rosto atualmente conhecido frente e atrás das câmeras, como o premiado The Big Sick. Raquel Weisz com uma bela performance em A Favorita e suas premiações em O Jardineiro Fiel.

Novas aquisições de peso: Ali, Portman e Jolie

Sabemos que, conhecidos ou não, a Marvel tem talentosas atrizes e atores. Mas sua estratégia agora apela para a mais fácil identificação de seus rostos para o mercado e não deixar que o medo se torne real.

Vale lembrar que todas essas novas aquisições vão custar o maior investimento em casting que ela já fez. E também lembro que todos os novos nomes estão exclusivos para cinema. Mas por que?

SÉRIES PARA VETERANOS. CINEMA PARA NOVATOS

Porque teremos uma grande migração de veteranos para as séries (que faz parte da nova fase), num modelo de negócio no qual a Disney ainda será novata no mercado e está gastando muito para fazer acontecer: seu streaming Disney +. Uma das formas para atrair assinantes é começar com seus carro-chefe já trabalhado no cinema. Soldado Invernal, Falcão, Feiticeira Escarlate, Loki, Visão, Gavião e tantos outros conhecidos do cinema convencional agora estarão em conteúdo exclusivo, esperando eu e você assinarmos. Não os impossibilita, é claro, de estarem no cinema na fase 4, como o caso da Feiticeira no filme do Doutor Estranho. A transmídia ainda é algo que Kevin Feige domina.

Ressalto que nomes como Keanu Reeves e Millie Bobby estão cotados, mas ainda não confirmados.

Só resta saber se essa estratégia será compensatória para os cofres e projeções da Disney. Esperar a D23 – Evento Exclusivo da Disney – tem a nos dizer mais sobre os temores e planos do rato gigante do entretenimento, que busca avançar sua fortaleza sem ferro e escudo.

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