Snowpiercer - Série de O Expresso do amanhã Snowpiercer - Série de O Expresso do amanhã

Expresso do Amanhã: uma viagem ainda sem rumo

A trama de Expresso do Amanhã (Snowpiercer) não é bem uma novidade para o grande público. Baseada na graphic novel francesa originalmente publicada entre 1982 e 1983, a história havia ganhado vida no cinema pelas mãos de Bong Joon-Ho em 2013. E mesmo como todos os problemas de bastidores e distribuição, que resultaram num fracasso de bilheteria, o longa alcançou certo reconhecimento. Tendo isso em mente, Expresso do Amanhã – agora como série original da TNT e distribuída pela Netflix – precisava de um certo frescor para chamar atenção. O elemento original foi inserido, no entanto, falta uma alma para a produção.

Os dois episódios liberados até o momento conseguem situar bem o espectador dentro de um enorme trem que circula o mundo de forma ininterrupta. Tudo porque o planeta foi congelado e a humanidade precisou sobreviver de alguma forma. Nos mais de 1000 vagões, os ricos se esbaldam com recursos dos mais variados. Enquanto no fundo, em situação deplorável, os pobres lutam todos os dias pelas suas vidas. Mantendo a premissa original, os “fundistas” organizam uma rebelião, que por meio da violência, tem como objetivo tomar o controle do trem. Mas um assassinato inesperado acaba por mudar essa dinâmica.

É nesse ponto que a história passa a focar em suas figuras centrais: o fundista e ex-detetive Andre Layton (Daveed Diggs) e na voz do trem Melanie Cavill (Jennifer Connelly). Deixar de lado uma discussão antropológica tão rica para focar numa investigação criminal nem é a principal queixa. O problema reside justamente na estrutura que permeia essa ideia. O mistério em si é engajante e abre espaço para inúmeros questionamentos sobre a índole das classes mais altas. Porém, o roteiro acaba sofrendo na tentativa de equilibrar os extremos.

Jennifer Connelly em cena de O Expresso do Amanhã (Snowpiercer). Distribuição: Netflix.

O showrunner Graeme Manson, conhecido pela ótima Orphan Black, assume a árdua missão de desenvolver seus protagonistas dentre de um ambiente extremamente limitado. Para isso, ele opta por explorar pequenas pistas visuais e até mesmo flashbacks. Decisões compreensíveis, mas que ainda não influenciam a trama de uma maneira concreta. Expresso do Amanhã também sofre para desenvolver seus coadjuvantes para além de esteriótipos narrativos. Um pouco de profundidade pode acrescentar mais tempero para a história.

Nos aspectos técnicos, a direção de arte acaba se destacando. O espaço interno do trem é bastante lógico e bem dividido, com uma clara distinção entre as classes sociais, especialmente por conta de penteados e figurinos. O tour por alguns dos vagões é visualmente atrativo, sem explorar demais os recursos limitados.

Com sérios problemas de produção desde 2015, a série de O Expresso do Amanhã quase foi cancelada. Agora, com duas temporadas garantidas, resta saber o rumo que essa viagem vai tomar. E se vai mesmo valer a pena acompanhar tudo da primeira classe.