Euphoria 2ª temporada chega ao fim com o incômodo de que poucos passos foram dados adiante na história. Mesmo com uma produção levada aos trancos e barrancos, a série convida os fãs para andarem em círculos na narrativa.
Desde o sucesso da primeira temporada, Euphoria se destacou como uma das principais séries mainstream a trazer a realidade muito bem feita para a ficção. O que a primeira e a segunda tem em comum é que as duas souberam manter a mesma qualidade de seus pontos fortes. Desde a exploração de personagens até os fragmentados clímax da trama, a segunda temporada luta entre manter a marca de boa produção contra uma história cansativa de acompanhar.
Escrita e dirigida por Sam Levinson, Euphoria é a releitura de uma série israelense dos anos de 1990 com o mesmo tema. A primeira temporada traçou o caminho de Rue (Zendaya) enquanto desenvolvia muito bem os personagens a sua volta. A segunda temporada tentou frisar todos seus acontecimentos ao mesmo tempo que dividia o protagonismo entre duas vias convergentes.
O texto a seguir pode conter spoiler
A segunda temporada deu destaque para alguns coadjuvantes, o que deixa uma deliciosa metalinguagem no ar quando somos apresentados a Our life, dirigida por Lexi (Maude Apatow). Os novos rostos da temporada mudam drasticamente o destino do núcleo principal, mas deixam no ar sua possível continuação no futuro.
Por outro lado, os dois arcos principais se fecham coerentemente com apenas um pequeno caminho a ser traçado no seu pós. A traição de Cassie (Sydney Sweeney) e a recaída de Rue são o que prendem e disputam entre si o estrelismo da trama. Enquanto as duas histórias se desenvolvem, alguns personagens em volta conseguem tomar consistência e fazer com que cenas memoráveis aconteçam.
Consequentemente, são as cenas memoráveis que marcam a temporada e roubam a narrativa de outros episódios. No seguimento da trama, personagens como Maddy (Alexa Demie), Cassie e Elliot (Dominic Fike) conseguem roubar a atenção e trazer peso para o quesito atuação de Euphoria. Porém, Kat (Berbie Ferreira) e Chris McKay (Algee Smith) são esquecidos e perdem o foco que tanto foi trabalhado na primeira.
A inconsistência da segunda temporada acontece quando alguns episódios se prolongam em uma narrativa quase que cansativa, enquanto outros são puros fervor e ansiedade. Isso acontece porque os arcos principais dependem de histórias secundárias e longas para se desenvolverem. Assim, o impacto fica por conta de determinadas cenas que conectam muito bem as narrativas.
Essa mesma inconsistência prepara uma receita de sentimentos que entrega ao público toda experiência sensorial da segunda temporada. É nessa montanha-russa com picos de adrenalina que a temporada se torna quase marcante, apenas esperando mais uma temporada incrível para abafar a segunda.
As pontas soltas para a 3ª temporada de Euphoria
O último episódio traz o ritmo que se esperava ver em toda temporada. Enquanto a peça de Lexi expõe o elenco principal, as cenas mais empolgantes tomam conta da linearidade da trama. Desse modo, todos os fatos vem a tona trilhando um caminho claro para a próxima temporada.
Contudo, a espera pelo episódio final é cansativa depois de arrastar toda uma temporada com alguns acontecimentos marcantes. A redenção de Rue e Nate (Jacob Elordi) finalmente chega ao fim, mas nos deixa ansiosos caso o mesmo enredo dos dois aconteça novamente.
A temporada termina com pontas muito soltas. A produção deu tanto foco ao núcleo principal que deixou pra lá os acontecimentos que impulsionaram a trama. Os acontecimentos basilares quase não fazem diferença durante o frenesi mascarado das últimas cenas. Ao mesmo tempo que o desenrolar da peça toma o controle da série, o desfecho de algumas histórias semeiam ideias produtivas na cabeça do espectador.
A mala de Laurie, o destino de Jules (Hunter Schafer), o caso amoroso de Lexi e as decisões de Cassie são fiapos soltos que eclodiram na hora de fechar a linearidade dos acontecimentos. A temporada se encerra sem muito enfoque nesses casos, já que a maior tentativa foi lapidar a experiência sentimental que os arcos trouxeram.
Our life!
Por falar em coisas que deram certo, a peça de Lexi (Our life) foi um bom exemplo de porquê a 1ª temporada chamou tanta atenção. A personagem secundária consegue tomar rumo das próprias decisões, contando tudo sob o seu ponto de vista. É nessa brincadeira dramática que a segunda temporada consegue relevar seus problemas e construir um caminho certeiro para a eclosão do final.
Our life traz a dinâmica da triste história dessas amigas à tona novamente. A peça de Lexi segue a dinâmica da primeira temporada e coroa muito bem as decisões da produção em introduzir a fundo cada um do núcleo. Enquanto a segunda temporada se preocupa em não manter as continuações em cada episódio, Our life faz o contrário. A costura de Lexi é responsável por mostrar as fachadas e os fundos de cada um dos envolvidos.
Além de ser brilhante em seus momentos de musicais, de atuação e analogia, Our life mostra que o espectro da segunda temporada está aceso. O coadjuvante toma controle da situação da série, enquanto o protagonista é uma peça que apenas ajudou na dança dos demais. A decisão de brincar com a metalinguagem em meio ao arrasto da série foi muito bem-vinda.
Euphoria volta para sua 3ª temporada em 2024.