Dungeon Meshi Dungeon Meshi

Dungeon Meshi: somos o que comemos?

Qualidade do roteiro e animação se destacam em um dos animes mais deliciosos do ano

Imagine a seguinte situação: você e seu grupo de exploradores estão enfrentando um inimigo poderoso. Após horas de batalha, finalmente vocês conseguem vencê-lo. Porém, percebem que estão sem alimento para seguir em frente na jornada e não existe nenhuma loja ou restaurante por perto. No meio do desespero, um membro da equipe sugere comer a carne do monstro morto. O que você faz? Esse cenário curioso é o pano de fundo de Dungeon Meshi, anime lançado este ano pela Netflix, e uma das produções mais divertidas do gênero até o momento. Afinal, a mistura de aventura e pratos deliciosos é irresistível.

Adaptação do mangá de Ryoko Kui, que chegou por aqui com o título de Delicious in Dungeon: Calabouços e Delícias, “Dungeon Meshi” acompanha o grupo formado por Laios, Marcille e Chilchuck. Após serem derrotados por um dragão vermelho, eles correm contra o tempo para tentar salvar a vida de Falin, irmã de Laios, que foi devorada pelo monstro. Sem dinheiro e mantimentos, Laios decide que eles vão se alimentar dos monstros do calabouço. Surge então o anão cozinheiro Senshi para ajudá-los nos desafios gastronômicos da aventura. Ryoko Kui se utiliza do mundo do RPG e fantasia, algo bastante comum tanto no Oriente quanto no Ocidente, para dar vida a sua mistura de Senhor dos Anéis com Master Chef (ou seria Pesadelo na Cozinha?).

A familiaridade da ambientação fisga o espectador logo de cara, tornando mais fácil que a questão dos alimentos seja trabalhada ao longo da temporada. Aliás, o mundo criado por Kui possui regras próprias que o impedem de soar genérico. Os 24 episódios do primeiro ano são utilizados com paciência, desenvolvendo os personagens, suas aflições, motivações e preparando o terreno para os mistérios que cercam o ambiente do calabouço. A mitologia é construída à medida que a trama avança, sempre trazendo novos detalhes.

Dungeon Meshi
Reprodução: Netflix

Mas não deixe o visual dos personagens e o tom aparentemente descontraído da obra enganarem você. “Dungeon Meshi” levanta uma interessante discussão sobre canibalismo! Um dos maiores tabus de nossa sociedade é o tema de toda questão culinária da obra. O que começa com cogumelos, plantas carnívoras e parasitas evolui para outras criaturas mais complexas. Tanto que uma regra é estabelecida pelo grupo: nada de consumir seres humanoides. No entanto, até que ponto a semelhança física pode impedir esse processo? O equilíbrio do ecossistema do calabouço também é abordado, com cada habitante desempenhando um papel crucial.

Além da ambientação, a animação é outro destaque de “Dungeon Meshi”. O famoso estúdio Trigger, conhecido por animes como Kill la Kill e Cyberpunk: Mercenários, empresta a qualidade de seus animadores para construir cenas que equilibram perfeitamente ação, comédia, drama e horror corporal. Pode não ter o nível absurdo que o Ufotable emprega em Demon Slayer mas ainda é uma das obras mais bonitas desse ano. Pontos para o diretor Yoshihiro Miyajima e para Mao Momiji que ficou responsável pelo design dos alimentos. É impossível não se divertir com as reações dos personagens aos pratos estranhos e também controlar o desejo de experimentar algo parecido. Definitivamente não é um anime para se assistir com a barriga vazia.

Dizem que cozinhar para alguém é um dos maiores atos de amor que existem, mesmo que seja a carne de um monstro que tentou matar você alguns momentos atrás. Por mais absurda que seja a premissa central, “Dungeon Meshi” resgata o espírito de companheirismo que permeia boa parte dos animes. E também deixa todo mundo com água na boca. Vai um bife de Cocatriz aí?