Continuação direta do seu predecessor, Divertida Mente 2 foca diretamente em fazer com que nós, adultos, tenhamos uma imediata conexão com o sentimento de ansiedade da protagonista, Riley, e nos desfaçamos em lágrimas. Afinal, quem, nos dias atuais, não consegue se identificar com a paralisia sufocante de uma crise de ansiedade? Apesar desse apelo emocional, a história peca em muitos aspectos, a começar pela própria ansiedade.
Em Divertida Mente 2 vemos Riley entrando, de uma hora para a outra, na puberdade: seu corpo começa a feder, é acometida por TPM, ataques súbitos de raiva, de choro, as espinhas estão nascendo e ela não ideia do que está acontecendo consigo, enquanto seus pais tentam dar o melhor suporte possível. Claro, Riley tenta ainda se manter fiel a si mesma durante essa fase, mas surgem novos sentimentos, que não estavam lá antes: o Tédio, a Inveja, a Vergonha e, por fim, a temerosa Ansiedade, que começa a tomar controle de tudo, sobressaindo-se às outras emoções e fazendo com que Riley comece a agir de uma forma diferente. No caso, ela está em um acampamento de hockey com as melhores amigas e descobre que ambas vão para colégios diferentes no ensino médio, o que faz com que a protagonista entre em parafuso e comece a se afastar dela, tentando se enturmar com as garotas mais velhas. Porém, isso vai acarretar mil problemas, principalmente para todas as suas emoções, que começam a brigar dentro de si para ver quem fica à frente do comando.
Há uma repetição descarada feita pela Pixar de tudo o que aconteceu em Divertida Mente, como uma emoção com boas intenções, mas que equivocadamente leva Riley a ter uma crise, ou a jornada da Alegria dentro do inconsciente junto às outras emoções e aprendendo que a vida não é sempre um mar de rosas. Claro, tudo isso misturado como uma falsa nova roupagem e piadas que funcionam muitíssimo bem. Aliás, as outras emoções, Raiva, Nojinho, Medo, Tédio e Inveja mal tem um papel dentro da trama, estando ali mais para preencher um espaço, e somente Tristeza e Vergonha ainda recebem um pouco de destaque, pois o protagonismo todo é de Alegria e o de antagonismo, da Ansiedade. Claro, a história não deixa de explorar minimamente a importância dessas emoções, como a Tristeza, que aprendemos não ser um sentimento negativo, e sim o sentimento responsável por nos ajudar a extravasar coisas ruins.
Uma das coisas que é mais interessante na narrativa é a exploração de como nossas lembranças, nossas experiências, nos moldam. Como nossas escolhas vão fazendo com que nos vejamos de determinada maneira à medida em que crescemos e possamos decidir algumas coisas, como, por exemplo, no início do filme, vemos que Riley determina cedo que ela é uma pessoa legal, e isso ajuda a construir o caráter dela durante anos, para com esse firmamento ela ir descobrindo outros aspectos de si e tomando novas decisões, como “sou legal, mas posso vacilar com as minhas amigas feio”, e tá tudo bem. Todas essas coisas mexem conosco enquanto assistimos ao filme, e dói lá dentro.
O filme também é uma simplificação que pode ajudar os adolescentes a se entenderem um pouco melhor, que é normal o acúmulo de sentimentos e cometer inúmeros erros. Que tá tudo bem serem eles mesmos e que errar faz parte do processo. Divertida Mente 2 é divertido, emocionante e ficamos mergulhados na sua história do começo ao fim, lembrando de quando éramos mais jovens. E, aviso, pode ser que você saia com uma crise de ansiedade do cinema.