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Diário dos Gatos Yon & Mu

E quem disse que o responsável pelas mais macabras histórias de horror da atualidade não pode apresentar um conteúdo mais fofo? Diário dos Gatos Yon & Mu do mestre do horror Junji Ito foi concebido com essa proposta, ao passo que também é uma obra que retrata uma despretensiosa autobiografia do autor.

Tudo começa quando A-ko anuncia ao marido J-Kun (Ito) que irá trazer Yon, gato que reside na casa de seus pais, para a casa deles. O problema é que J-kun é uma pessoa que prefere cães, sem contar o fato de que Yon é um gato estranho e por vezes assustador. Para acentuar ainda mais o “problema” e mostrar que quem de fato manda na casa é A-ko, eles adotam Mu, mais um felino, com o intuito de que Yon não viva solitário.

A partir disso temos a configuração para que diversas situações envolvendo os gatos sejam retratadas por Junji Ito em sua história. Cada gato possui suas manias e a convivência com eles – criaturas adoráveis independente de qualquer coisa – muda drasticamente a percepção do dono para com os bichanos. São contos leves que possivelmente irão fazer você se identificar com a própria rotina, ou, caso não seja dos gatos, identificará na rotina do autor muitas semelhanças com alguém que você conhece e tenha gatos.

Dispensável: o que esperar desse mangá de Junji Ito?

Vale dizer, no entanto, que você deve alinhar expectativas caso espere algo dessa obra, pois trata-se em absoluto de uma leitura de conforto. Nem mesmo alguns elementos de suspenses e fagulhas do que poderia ser um terror servem para dar a esse mangá um caráter de algo diferente de um leite quente com achocolatado.

Para dar um maior dinamismo ao texto, o autor também encaixa entre os capítulos sessões de pergunta e respostas com os leitores, sempre utilizando de uma linguagem demasiadamente informal.

Obrigatório: Diário dos Gatos Yon & Mu é pura fofura

Ao mesmo tempo, Diário dos Gatos Yon & Mu é um item que irá agradar os fãs de Junji Ito, pois os pequenos contos reforçam a impressão de que se trata de uma pessoa bacana, indo de encontro com a ideia às vezes pré-concebida de que ele é um cara perturbado por criar histórias como as que ele cria. É como se, ao invés de mostrar sua rotina nos stories do Instagram, ele criou um mangá para essa finalidade. Não sei se ele optaria por fazer isso nas redes sociais se a ideia de falar dos seus gatos tivesse surgido atualmente (a JBC trouxe a HQ para o Brasil em dezembro de 2022, mas o lançamento original é de uma década atrás), mas fico feliz que tenha sido dessa forma, através da sua própria arte.

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