Dave the Diver mergulha fundo em uma aventura surpreendente

Se você está constantemente na Twitch, já deve ter ouvido falar de Dave the Diver, um dos novos jogos da grande coreana Nexon e um dos grandes sucessos dos livestreams neste ano. Sinceramente, essa fama não é a toa. Mesmo com vários problemas, a aventura de Dave como o novo mergulhador (e gerente de sushi bar) do místico Poço Azul é muito divertida e bem mais expansiva do que eu esperava.

Todo o gameplay é focado em um pequeno loop de dois tipos de mecânicas diferentes: a exploração do mar em busca de ingredientes e tesouros, e o gerenciamento do Bancho Sushi, o bar de comida japonesa que fica na lateral do poço. Por mais que eles se complementem de uma forma interessante e até bem natural — você pesca peixes, que vão ser usados em pratos, que dão dinheiro ao serem vendidos, para melhorar equipamentos e pescar mais peixes —, o nome do jogo ser Dave the Diver e não “Dave the Sushi Bar Manager” mostra bastante sobre a profundidade dessas duas partes.

Dave the Diver

Boa parte das horas que eu passei no jogo foram mergulhando, porque isso é feito de uma forma tão boa que chega a ser ridículo. A movimentação é legal, a ideia de entender a forma que os peixes funcionam, quais te atacam, quais se escondem, como usar os diferentes aparatos para pegar todos eles… Mergulhar em Dave the Diver é quase uma versão mais livre e fluída da exploração de jogos como SteamWorld Dig, que eu já amo. A sensação de progresso ao ir melhorando o seu equipamento e conseguir ir cada vez mais longe, carregar cada vez mais espólios, é muito divertido e até levemente viciante. Até mesmo as lutas de chefe, que eu imaginei que não funcionariam, foram ótimas experiências.

É uma pena que uma mecânica tão legal esteja intercalada com um joguinho de gerenciamento que não tem o mesmo brilho. Sua missão é escolher o menu de cada dia, servir os clientes com comidas e bebidas e ralar wasabi quando precisar. As sessões são curtinhas e logo você consegue contratar funcionários para fazer boa parte das atividades mais maçantes, mas ainda é repetitivo demais perto da profundidade (!) da mecânica de mergulho. Muitos outros sistemas vão se somando a cada novo capítulo (como cultivar arroz, criar peixes em cativeiro ou fazer missões de coleta para ambientalistas): ou eles viram só mais uma checklist a se cumprir, ou mais uma coisa que você precisa pensar antes de começar um dia de pesca.

Dave the Diver

Felizmente, o que falta de diversão no bar, esta aventura tem de carisma e beleza. O trabalho de pixel art aqui é impressionante, desde os cenários embaixo d’água até as inúmeras cutscenes que aparecem de tempos em tempos. Além disso, vale a pena falar dos personagens e como cada um, independente do tamanho do seu papel na história, consegue trazer sentimentos a quem está jogando. O quinteto principal — que inclui um pesquisador de ruínas marítimas e um criador de armas que ama anime, além do clássico herói corajoso porém atrapalhado Dave — tem um frescor muito bom, com ótimas conversas e motivações. Até mesmo algumas cenas específicas (com minigames exclusivos) acabam pegando todo mundo de surpresa e tornando-se memoráveis.

Os personagens são tão bons que conseguem levar o jogo nas costas mesmo quando a trama em si entra numa maré complicada de voltas e mais voltas. A segunda metade de Dave the Diver, ao invés de continuar aprimorando o ciclo de mergulho e bar, transforma completamente o jogo, aumentando seu tamanho de forma bem artificial. Não tinha como não pensar que as coisas poderiam ser mais diretas e interessantes, ou mesmo permitir que o jogador use o seu próprio ritmo, como o começo dele fazia. É triste, porque a história em si, principalmente o problema a ser resolvido e o mundo que se abre nesse momento, são extremamente interessantes.

Dave the Diver é um jogo incrível de exploração marítima, que transborda carisma, mas envolvido em uma série de sistemas e propostas que não parecem bem executadas — ou, pelo menos, que não conseguem adicionar muito na experiência. Eu poderia ficar mais dez horas explorando o Poço Azul e sua mágica biodiversidade, enfrentando chefes, pescando peixes, melhorando minhas armas… mas não sei se conseguiria servir mais um sushi sem pensar que eu poderia estar fazendo algo mais legal. É fácil demais recomendar esse mergulho, mas só se você estiver preparado para pular de cabeça em ondas e ondas de excelência e mediocridade. Pra mim, valeu a pena.

Dave the Diver está disponível para PC na Steam e no Nintendo Switch.

*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelo time de desenvolvimento para a produção deste texto.