Existe um movimento crescente no mundo dos mangás e animes que os fãs costumam chamar de “dark shonens“, que seriam obras que visam um público mais maduro por assim dizer. Essas histórias, que incluem sucessos como Jujutsu Kaisen e Chainsaw Man, visam um público mais maduro ao retratar protagonistas que enfrentam tragédias e perdas intensas. Mas e se surgisse uma obra que pegasse todos esses elementos sombrios e os subvertesse de maneira irreverente? Esse é o espírito de Dan Da Dan, um dos animes mais aguardados do ano, disponível tanto na Netflix quanto na Crunchyroll.
Tentar rotular “Dan Da Dan” em apenas um gênero é uma tarefa difícil, já que a obra possui elementos de terror, ficção científica, ação, um humor escrachado e até mesmo romance. Além de tocar em temas como amizade, conexão familiar e a busca por reconhecimento e um lugar no mundo. Tudo isso é combinado com uma animação vibrante e colorida, que tem potencial para agradar até mesmo os fãs mais casuais de animes. Pode parecer uma mistura difícil de executar, mas o primeiro episódio mantém a qualidade do início ao fim.
Adaptando o mangá de Yukinobu Tatsu, “Dan Da Dan” acompanha a vida de Momo Ayase (Shion Wakayama), uma colegial que acabou de levar um fora do namorado problemático. Enquanto lida com a mágoa, ela acaba protegendo o jovem Okarun (Natsuki Hanae) de um grupo de valentões. Após uma breve conversa, Momo e Okarun descobrem que não são diferentes apenas no estilo mas também nas crenças. Enquanto ela acredita em fantasmas, ele é fã de alienígenas. Dispostos a provarem seus pontos, eles fazem uma aposta que vai mudar suas vidas para sempre.
Desde o início “Dan Da Dan” não tem vergonha de brincar com os gêneros. O humor é predominante na maior parte do tempo, mas logo o terror vai preenchendo o episódio. Facilita muito que as criaturas possuam designs extremamente criativos e distintos, como é o caso da Velha Turbo e dos Serpos. É a pluralidade desse universo que o torna tão cativante logo de cara. Em meio ao caos, as expressões exageradas dos personagens quebram o clima sombrio de maneira natural. Por mais que uma abdução alienígena seja ameaçadora, é impossível se manter sério no meio de uma discussão sobre órgãos reprodutores dos seres humanos.
Momo e Okarun são o coração da obra, com suas personalidades distintas e ao mesmo tempo complementares. Na contramão da maioria das personagens femininas de shonen, ela tem uma personalidade ousada e confiante que reflete seu estilo gyaru, movimento cultural da moda japonesa que prioriza a rebeldia e busca por identidade. Já Okarun é tímido e retraído, mas possui um bom coração. A medida em que eles interagem, o espectador entende mais das motivações de cada um e passa a torcer por eles. É nesse ponto que “Dan Da Dan” trabalha com o desejo humano de ser reconhecido e como isso nos move.
Porém, não é só do roteiro e de bons personagens que o anime vive. A adaptação do mangá não teria nem metade do impacto se não fosse o trabalho do estúdio Science SARU. A animação capta com perfeição o dinamismo e a beleza da arte de Tatsu, causando uma explosão de cores e sentimentos em tela. Aliás, o Science SARU sabe trabalhar com estilos variados, sendo responsáveis por projetos como o excelente Devilman Crybaby e a recente animação de Scott Pilgrim (leia a crítica).
Curiosamente, Yukinobu Tatsu iniciou sua carreira como assistente de Tatsuki Fujimoto, autor de obras como “Fire Punch” e o já mencionado “Chainsaw Man”. Inspirado pelo desejo de criar algo próprio, Tatsu lançou *Dan Da Dan* em 2021, após várias tentativas de emplacar suas ideias. Agora, sua obra se destaca como um dos melhores animes do ano, provando que perseverança e criatividade podem, de fato, transformar sonhos em realidade.
Novos episódios serão lançados todas as quintas-feiras, tanto na Netflix quanto na Crunchyroll.