Não acredito que alguém possa duvidar do poder das marcas Disney e Star Wars, especialmente quando caminham juntas. Mas a primeira temporada de The Mandalorian foi um sucesso que nem mesmo o mais empolgado dos investidores chegou a sonhar. Nada mais natural que a série tenha se tornado o carro chefe da divulgação de lançamento do Disney+ no Brasil. Porém, algo pairava no ar: como manter, e até mesmo elevar, a qualidade do produto sem cair nas famigeradas armadilhas presentes em continuações? Jon Favreau e Dave Filoni encontraram a resposta. Basta inflar tudo que já havia funcionado antes.
Mantendo a premissa western, Din Djarin (Pedro Pascal) e Baby Yoda (que será chamado assim simplesmente por Grogu não ser um nome fofo) continuam suas aventuras pela galáxia em busca de alguém que finalmente possa assumir o treinamento dessa criança com poderes incríveis. Aqui entra o primeiro acerto da segunda temporada: manter a dinâmica de episódios que movem a trama principal e outros com histórias secundárias, sempre fazendo com que a aventura esteja em desenvolvimento. Isso torna orgânica a constante aparição de rostos já conhecidos, assim como a introdução de novos personagens. Contudo, acaba gerando a sensação de que os caminhos do protagonista não são tão vastos quanto parecem.
The Mandalorian agora brinca com mais gêneros do que na temporada anterior. Assalto, suspense, terror, samurai. O que pode ser explicado pela presença de mais diretores com visões diferentes. Ainda que os roteiros e a supervisão girem em torno de Favreau, ele sabe como dar liberdade aos convidados em prol da evolução do programa. A diferença de ambientação, tom e ritmo garantem uma fluidez maior aos novos episódios. Assim como o mandaloriano, o espectador não consegue se acomodar em um lugar comum.
Conscientes do material que possuem, Favreau e Filoni sabiam que não iriam conseguir manter The Mandalorian tão distante assim do apelo nostálgico evocado pelo universo Star Wars. Dessa maneira, as referências aos filmes e às séries da franquia são bem menos discretas do que na temporada anterior. Embora o fan service seja eficiente durante boa parte dos episódios, isso acarreta em um escanteamento do protagonista em determinadas situações. O que leva ao principal problema da temporada e aquilo que tira um pouco de sua força.
Quando nomes como Ahsoka Tano (Rosario Dawson) e Boba Fett (Temura Morrison) surgem em cena, fica claro que um dos objetivos da série passou a ser servir de trampolim para novas produções do Disney+. Ainda que suas presenças contribuam para a resolução da trama, limitam a expansão da história para que o público crie expectativas com o futuro. Talvez seja medo de investir em algo mais original e menos ligado aos caminhos dos Jedi, mas é um pouco frustrante que qualquer material da franquia volte seus holofotes em algum nível ao famigerado legado dos Skywalker.
Voltando ao que funciona, o trabalho do elenco continua em alto nível. A interação entre os personagens é natural, ajudando a estabelecer a sensação de que todos são velhos conhecidos de aventuras. Mesmo quando grupos pouco convencionais são formados. Pedro Pascal toma definitivamente o personagem para si. Através do trabalho corporal e do tom de voz, é claramente possível compreender seus sentimentos por baixo da armadura reluzente de Beskar. Sua interação com o Baby Yoda ganha contornos mais dramáticos, fazendo da despedida entre eles um momento marcante na série.
Chegando aos aspectos técnicos, tirando alguns momentos pontuais, chega a ser difícil acreditar que The Mandalorian é uma série de TV. A trilha sonora de Ludwig Göransson passou por uma mudança significativa, abandonando o aspecto mais eletrônico e abraçando um ar de orquestra. Essencial para garantir a emoção nos episódios finais e brincar com o sentimento do espectador. O trabalho de maquiagem e figurino mantém o padrão já estabelecido pela franquia em outros exemplares.
Em vias gerais, a segunda temporada de The Mandalorian é ainda mais divertida e emocionante que seu primeiro ano. Amplia a cartilha de acertos e não é tão afetada pelos deslizes. Com o fim da união entre Din e Baby Yoda, o futuro da atração é um livro aberto (mesmo com várias teorias sendo levantadas). E ainda que insista em revisitar antigos aspectos, torna claro que o futuro do universo Star Wars é bem menos complicado do que parece. Basta contar boas histórias.