Escrito e dirigido por Noah Baumbach, “Os Meyerowitz: Família não se escolhe” foi indicado ao prêmio principal do festival de Cannes, o Palme d’Or. Embora não tenha levado o título para casa, ainda sim se destacou muito pela sua indicação no evento, levando a curiosidade de muitos a conferirem o longa. Principalmente por ter Adam Sandler no elenco, que tem uma fama bem controvérsia em relação a atuação em seus filmes.
Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é um artista escultor aposentado e extremamente egocêntrico e vaidoso, fica contente que uma exposição será realizada para celebrar seus trabalhos, mas no caminho disso Harold adoece, o que culmina no reencontro entre seus filhos para ajudá-lo. Filhos estes, que não se falavam a muito tempo, trazendo à tona, problemas mal resolvidos do passado.
De fato, um dos maiores fatores do longa e que surpreende, é a boa atuação de Adam Sandler (Danny), dedicado ao papel e entrega um personagem com camadas e bastante fora da curva do usual “Adam Sandler interpretando ele mesmo“. Tal fator é uma crescente quando colocado na equação o ator Ben Stiller (Matthew) que junto de Sandler possuem uma química funcional, principalmente quando se trata do relacionamento interpessoal entre os dois personagens, fazendo crer de forma palpável que há uma relação parental e que esta carrega um peso emocional considerável.
Por outro lado, temos um Dustin Hoffman mau aproveitado e com pouco tempo de cenas.
Mas o pouco que temos, é de qualidade. É uma personalidade cheio de si e ao mesmo tempo doce e gentil, embora essas parte da construção de Harold seja moldada mais pelo que dizem dele ao decorrer da trama. O filme investe no “tell” e não no “show“.
Noah Baumbach investe numa narrativa meio que episódica, apresentando cada personagem e o que o cerca, um de cada vez e por fim juntando todos em um núcleo principal. A escolha vem a favorecer a narrativa, não a deixando inchada e sendo objetiva nos seus principais pontos dos quais quer abordar. Um ponto bastante positivo, pois um passo em falso e o modo de contar essa história ficaria deveras desinteressante.
O principal ponto do roteiro e o que o faz se destacar, é o fato de sua beleza morar no simplório e no real – pela maior parte do tempo – é muito fácil se identificar com todos as personalidades apresentadas. O filho bem sucedido, o outro que não se deu tão bem, a filha, os netos e etc. Dramas que todos carregam, sejam maiores ou menores do que outros. Apesar de ser uma comédia/drama, a história nunca tenta ser maior do que ela é, apelando para um emocional extremo ou algo parecido.
O tom do longa é definido logo no começo do primeiro ato, tanto no quesito drama e na comédia, porém, este segundo destoa de forma que não se entende com o restante que o cerca, Eliza Meyerowitz (Grace Van Patten) possui cenas que se possuíssem um contexto melhor, funcionariam. Mas é jogado, e apesar de arrancar um pouco de riso, é notório que aquilo não deveria estar ali daquela forma.
As relações entre os personagens reforçam os problemas que alguns deles tiveram no passado, por horas, parece que os diálogos entre eles não estão em sintonia. Existe diálogo mas não existe conversa, não há troca de informações. Fato este que ocorre diversas vezes durante o filme. A história passa a mensagem de até onde devemos ir com a família, até onde devemos estar lá por eles, e quando temos que parar de pensar em nós mesmos e pensar nos outros e vice versa. E no fim de tudo, no subtexto, os laços de amor é que sustentam todas essas questões.
Há planos sequências, somando a trilha sonora, que remetem as comédias dos anos quarenta, principalmente a “Charles Chaplin“. Um piano tocando uma nota várias vezes e rapidamente e uma cena de engraçada acontecendo, diversos elementos ao mesmo tempo. Enriquecendo o que está em tela.
A produção original Netflix, “Os Meyerowitz: Família não se escolhe”, é uma das ficções mais reais que temos sobre relacionamentos em família. Não chega a emocionar ou chorar de rir, mas levanta questões importantes e mostra que Adam Sandler só precisar estar no lugar certo com o roteiro certo.
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