O Mundo Sombrio de Sabrina O Mundo Sombrio de Sabrina

O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4

É frustrante acompanhar a queda de qualidade de uma série ao longo de suas temporadas. Mesmo que os pontos positivos ainda estejam presentes, fica cada vez mais difícil mascarar os defeitos. Dessa forma, existem apenas dois caminhos a serem seguidos: a completa reformulação ou o cancelamento. Justiça seja feita, O Mundo Sombrio de Sabrina não teve tempo suficiente de escolher a primeira opção. E com a derradeira temporada lançada pela Netflix, o gosto da despedida é bastante amargo.

Lembro de ter escrito no texto sobre a terceira parte que a série precisava se reencontrar o quanto antes, especialmente se quisesse ter uma vida longa. Mas ao final dos últimos episódios, fica claro que o destino já não era tão promissor. O excesso de personagens e tramas cobrou um preço bastante alto, especialmente com os roteiros rocambolescos criados para a quarta temporada. Um caos que nem mesmo o melhor fan service é capaz de conter.

A quarta parte trabalha com duas linhas distintas num primeiro olhar, mas que logo se misturam. Na primeira, Sabrina (Kiernan Shipka) possui uma versão de si na Terra e outra no Inferno. Algo que Ambrose (Chance Perdomo) é taxativo ao chamar de cataclísmico. Por outro lado, a protagonista e seus amigos precisam encarar a chegada dos Terrores do Sobrenatural. E mesmo homenageando H.P Lovecraft, O Mundo Sombrio de Sabrina é tão bagunçada quanto a vida de uma bruxa adolescente pode ser.

Para abordar cada Terror da maneira adequada, a série adota a postura de “monstro da semana” e usa o perigo representado como uma forma de desenvolver a história. A ameaça vai ganhando contornos cada vez mais sérios, que infelizmente acabam diluídos pela necessidade de caminhar por tantos núcleos. Essa mescla de realidades era melhor incorporada nas duas primeiras temporadas, mas agora soa bastante artificial. Até mesmo o desenvolvimento dos personagens é afetado, alguns inclusive retrocedendo diante do que havia sido estabelecido.

Entendo a necessidade de colocar o sobrenatural de lado e investir nos dramas adolescentes, até porque essa é base do público alvo. Logo, temos a clássica cartilha dos clichês: a sensação de estar sozinho no mundo, o coração partido, a busca pelo amor, a reconciliação com os amigos e etc. Algo que até rende bons momentos, mas que logo são engolidos pela urgência dos problemas maiores. Nem mesmo o aumento significativo dos números musicais consegue divertir tanto quanto o esperado.

É fato que O Mundo Sombrio de Sabrina tenta apostar em inovações, como o episódio que se passa em uma realidade alternativa e outro que homenageia de maneira bastante singela a clássica série dos anos 90. Mas são poucas ideias boas diante de situações extremamente protocolares. O caminho é tão árduo, que nem mesmo a tentativa de emocionar no último capítulo é efetiva.

O elenco é carismático e incorporou bem a personalidade dos personagens. Contudo, a narrativa não ajudou dessa vez. Alguns nomes se destacam, outros parecem presos num ciclo repetitivo e outros mais não tem muito o que fazer. Basta ver o que acontece com Ambrose, relegado – mais do que nunca – ao papel de explicar tudo ao público. Até mesmo Lucifer (Luke Cook) não tem o mesmo charme de outrora.

Embora possua um universo extremamente rico, O Mundo Sombrio de Sabrina acabou não conseguindo superar as adversidades. É possível extrair uma jornada de redenção para a protagonista, ainda que esteja inserida na pior leva de episódios da série. O que fica agora são as lembranças dos ótimos momentos e o pensamento do quão longe a produção poderia ir. Ainda assim, o profano nunca foi tão divertido.