No meio do eterno debate sobre a qualidade das adaptações de jogos de videogame, a série animada de Castlevania, da Netflix, parece ser uma unanimidade. Personagens cativantes, excelente trabalho de voz dos atores, animação muito acima da média e uma trama repleta de camadas. Tanto que muitos fãs ficaram órfãos ao final da quarta temporada. Consciente do potencial da franquia, eis que chega ao catálogo da plataforma Castlevania: Noturno. Mas será que essa continuação consegue suportar o peso do legado de sua antecessora?
Para quem acompanhou as quatro temporadas de Castlevania (leia aqui a crítica a última temporada) é possível reconhecer que Noturno carrega todo o espírito da franquia. E ainda acrescenta elementos históricos que fortalecem a trama, mesmo que careça de mais personagens cativantes. Ambientada na França em 1792, conhecemos o jovem Richter Belmont (Edward Bluemel). O último membro vivo do Clã Belmont mata vampiros enquanto auxilia sua irmã de criação Maria Renard (Pixie Davies) na convocação de membros para a Revolução Francesa. É nesse cenário caótico que os vampiros preparam a chegada de uma Messias que promete acabar de vez com a raça humana.
Ainda que seja inspirada nos jogos Rondo of Blood e Symphony of the Night, Castlevania: Noturno opta pela liberdade narrativa para construir sua trama. Tomando emprestado dos jogos nomes e rostos dos personagens, o roteiro de Clive Bradley subverte expectativas e acrescenta camadas extras aos mocinhos e vilões. Aliás, a guerra entre humanos e vampiros é mais puxada para o clássico bem versus mal, não dando brecha para tons de cinza como sua antecessora. Ainda que conte com núcleos diversos, a interação entre eles é bastante fluída e mantém o espectador envolvido no desenrolar dos acontecimentos.
A presença de elementos históricos é o principal atrativo de Castlevania: Noturno. Além do cenário da Revolução Francesa, também são utilizados temas como escravidão, descendência africana, o papel da igreja na sociedade e até mesmo o nome da famigerada Condessa Sangrenta Erzsébet Báthory. Essa salada de aulas de história alinhada com cenas empolgantes de ação e pitadas de humor compensa os principais problemas da temporada.
Com exceção de Richter e Annette (Thuso Mbedu), os demais personagens não são aprofundados. Annette é de longe a melhor personagem da série, transformando seu passado trágico de escravidão na força para superar seus inimigos. É interessante como ela funciona de contraponto para Richter, que também passou por um trauma na infância. Já Maria e sua mãe Tera (Nastassja Kinski) são quase unidimensionais, ganhando apenas um enfadonho drama familiar para trabalhar. Infelizmente, acompanhamos mais desse grupo do que o lado dos vilões. Ponto negativo também para a vilã Erzsebet (Franka Potente), que passa maior parte da temporada longe dos holofotes, surgindo apenas na reta final para preparar o terreno para uma possível segunda temporada.
No quesito da animação, o estúdio Powerhouse Animation está de volta para mesclar elementos de anime e CGI principalmente nas cenas de ação. A Netflix parece não ter investido muito nessa temporada, o que pode gerar um certo desconforto, especialmente se comparado com as últimas temporadas de Castlevania. Ainda assim, Noturno entrega beleza e fluidez nos momentos necessários.
Mesmo com problemas em sua temporada inaugural, Castlevania: Noturno mostra que pode lidar com o legado da franquia no mundo das animações. Com mais investimento na animação e um roteiro que preze pelo desenvolvimento dos demais personagens, a eterna guerra entre humanos e vampiros poderá se manter no pódio de melhores adaptações de jogos por muitos anos.