Campeões é a representatividade bem feita

Todo mundo conhece filme de treinador. É um daqueles filmes básicos de Sessão da Tarde em que tem um  treinador (normalmente é um cara), talvez ele seja rígido demais, ou só um babaca, mas precisa de uma lição de vida e isso vem por meio de um time, normalmente basquete ou futebol muito ruim – seja profissional ou de faculdade, ou mesmo de colégio. Esses jovens são responsáveis pela virada de chave na vida desse treinador, que passa por altos questionamentos internos sobre quem é e o que tá fazendo da vida. O final, claro, é sempre do seu time sendo campeão e o treinador vencendo na vida porque achou o seu lugar no mundo.

E essa é, obviamente, a premissa de Campeões, protagonizado por Woody Harrelson, mas que não segue exatamente a fórmula, com alguns diferenciais bem atuais e que enriquecem a trama.

O treinador Marcus (Harrelson) é um babaca que é muito bom no que faz, mas que não consegue conquistar o seu maior sonho de ir para a NBA por N razões, por isso, depois de pular por diversos times como assistente de treinador, ele acaba trabalhando para um amigo antigo que é treinador de um time de alguma série bem baixa de basquete. O problema é que se desentendem em um dos jogos e Marcus vacila, sendo demitido. Revoltado, acaba bebendo muito e dirigindo, batendo acidentalmente numa viatura de polícia. Sua sentença é simples: trabalho comunitário de três meses em uma escola para alunos com alguma deficiência intelectual (é assim que se referem a eles no filme).

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Apesar do início conturbado por Marcus não querer estar ali e ainda não saber nada sobre não ser capacitista, a história vai evoluindo para um lugar em que ele vai quebrando a cara e descobrindo um mundo sobre o qual nada sabia, o que o ajuda a sair da própria casinha, descobrir o tipo de pessoa que ele quer ser e levar seu time a vitórias – algo que ele faria de toda forma, ele podia ser babaca, mas era o babaca compentente. Ainda bem que não normatizaram a babaquice em prol da desculpa dele ser “foda” ou coisa assim. Além disso, há uma inversão de papéis engraçada na trama quando o óbvio par romântico do personagem não quer nada sério enquanto ele é emocionadíssimo, querendo namorar. Os refrescos de não ter uma mulher que está ali para servir ao homem. Claro, não é perfeito, mas já é alguma coisa.

O filme é aquele bem delicinha, bem gostosinho, sem grandes problemas, sem resoluções mirabolantes, que tá ali para trazer aquele calorzinho aos nossos corações e ainda entregar boa representatividade, principalmente quando os atores e atriz que foram escalados para serem parte do time realmente são pessoas no espectro autista e com síndrome de down (não os dois ao mesmo tempo, eu pesquisei).

Claro, a história não é perfeita, tem uns probleminhas aqui e acolá, mas nada que valha a pena mencionar. É bom ver um filme inclusivo que não fica fazendo alarde e, até onde eu vi, não se vendeu dessa forma.

Campeões é uma produção para se ver em um dia em que se procura por histórias leves e emocionantes.