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Beekeeper – Rede de Vingança: vamos recomeçar a sociedade do zero?

Golpes cibernéticos têm sido muito comuns desde que a internet surgiu. Antes disso, provavelmente eram outros tipos de golpes, sempre cometidos por pessoas sem escrúpulo algum e que visam pessoas mais velhas, de preferência solitárias, para arrancar tudo o que podem delas. Beekeeper – Rede Vingança vem para trazer a catarse necessária para quem deseja queimar todos esses empreendimentos, que acontecem como empresas de fachada com milhares de empregados ao redor do mundo.

Adam Clay (Jason Statham) é um apicultor que mora no terreno de uma gentil professora aposentada (Phylicia Rashad), que o acolheu e cuida dele como ninguém. Então ela sofre um golpe cibernético, e sem ir atrás de solução alguma, tira a própria vida, causando a ira do homem, que na realidade é, para a surpresa de ninguém, um ex-agente de um programa ultrassecreto do governo, possuindo, em seus dias de ação, o codinome beekeeper e agindo para proteger a colmeia. E a sua colmeia era a sua vizinha bondosa. Como funciona nesse tipo de filme de vingança, o homem vai cair em cima dos seus alvos como o próprio apocalipse e não vai descansar até ter eliminado o inimigo completamente. Além dele, temos Emmy Raver-Lampman no papel da filha da vizinha, que é uma agente da CIA, também vingativa, mas não tanto. Ela ainda acredita na lei, por isso, ao ver o rastro de destruição que Clay vai deixando, corre atrás para impedi-lo e fazer justiça da forma correta.

Beekeeper – Rede de Vingança é uma imitação barata de John Wick, devo dizer de cara. O típico protagonista caladão, que era o terror de todos quando era um agente na ativa e que foi atiçado por um desejo de vingança depois de conhecer gentileza e bondade de verdade, que foram tiradas de si na brutalidade. Com muita analogia (mas muita mesmo), o protagonista vai atrás do seu antagonista, vivido por Josh Hutcherson, um CEO bilionário e completamente sem saber como a vida funciona de verdade. No meio do caminho, o protetor desse jovem CEO, interpretado por Jeremy Irons (deve tá devendo agiota para aceitar um papel desses, só pode), envia todos os agentes possíveis atrás de Clay antes que ele consiga assassinar o rapaz.

Foto: Daniel Smith / Divulgação

As coreografias de ação em Beekeeper são bem fracas, com aquela técnica de Jason Bourne que faz tudo ficar confuso e tremido, e não nos convencem muito de que sejam reais. A graça, por exemplo, em John Wick é que, apesar de ele ser o cara que matou muita gente, temido por todos, ele se machuca, ele se fere, se lasca no meio do caminho, ao contrário de Clay, que parece uma verdadeira parede de concreto. A dor não o atravessa… exceto a psicológica, pois sabemos que o tema principal aqui não é só tiroteio e mortes legais, e sim o luto. Essa é a maneira do nosso protagonista viver o seu luto, vingando a mulher que tanto o tratou bem.

Os diálogos de Beekeeper são sofridos. Em vários momentos eu me perguntei quem escreveu aquelas atrocidades que estavam sendo ditas, com discursos bem ruins, que parecem ter sido tirados da cabeça de alguém que não sabe muito bem como pessoas falam, principalmente em um momento que deveria ser super descolado. Na dúvida, melhor nem dizer nada. Aliás, tem um diálogo me lembrou muito Juiz Dredd, pois Clay não se importa com nada além do certo e o errado, que, se você parar para pensar, são conceitos muito subjetivos e que dependem de quem tá vendo, ao contrário de Dredd, cuja execução fria da lei poderia torná-lo inimigo do beekeeper. Clay é alguém cuja a própria bússola moral é o seu guia. Ainda bem que ele está do lado dos “mocinhos”.

A moral, em Beekeeper, é fazer o que é correto, mesmo que tenha que explodir todo mundo. Nos dias atuais, vemos muita gente querendo fazer justiça com as próprias mãos, visto que, muitas vezes, o sistema favorece os ricos, brancos, héteros e cis mais do que qualquer outro tipo de pessoa. A vontade, temos que admitir, é de papocar tudo e recomeçar a sociedade do zero, eliminando essas pessoas. Mas, no fim, ninguém é tão puro quanto Clay para poder decidir quem vive e quem morre.