M. Night Shyamalan ficou mundialmente famoso por seus roteiros inovadores e reviravoltas, mais conhecidas em inglês como plot twists. Apesar disso, nos últimos anos, o diretor e roteirista tem tido uma qualidade variável em suas obras. Em Batem à Porta, Shyamalan traz mais uma vez uma premissa intrigante em um filme pequeno, mas com algumas margens para discussões.
Na trama, o casal Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), juntamente com sua filha Wen (Kristen Cui), recebem a visita de um grupo esquisito liderado por Leonard (Dave Bautista) na sua casa de campo. O grupo logo toma a família como refém e propõe que eles escolham um dos três para sacrificar e impedir o apocalipse.
A premissa inicial do longa é bastante interessante e o roteiro não perde muito tempo para contar o que importa. Com flashbacks bem pontuais e curtos, que servem para desenvolver brevemente os protagonistas, o filme tem um ótimo ritmo sem muita enrolação. A cena inicial, bem longa e sem pausas, entrega rapidamente o tom e o clima tenso que vai permear toda a película.
Batem à Porta é um clássico thriller psicológico claustrofóbico. O longa não difere muito de outros filmes, como O Convite ou Rua Cloverfield 10, no qual os personagens estão isolados em um lugar fechado, questionando se o que está lá fora é real ou não. Shyamalan faz um bom “feijão com arroz” com esses clichês e não surpreende nem decepciona, apesar de pouco inovar na estrutura. Se tem algo digno de nota é a fotografia extremamente claustrofóbica e desconfortável, apelando, na maior parte das cenas, em closes fechados nos rostos dos atores, ou em planos longos sem cortes. Dessa forma, o expectador se sente imerso nas cenas, seja prestando atenção nos absurdos falados pelos personagens da seita ou em uma mosca voando pelo cenário e testemunhando esses momentos tensos.
Como em vários filmes do diretor, há situações sobrenaturais ou absurdas para falar de diferentes temas, geralmente religiosos. Aqui, fica claro que a religião é algo forte, por se tratar do fim do mundo e de pessoas que acreditam piamente nisso. Outro ponto abordado, de forma bem madura, é o fato de que estamos lidando com um casal gay. Em diversos momentos, um deles questiona se isso na verdade está acontecendo porque eles são um casal homossexual, mostrando alguém que já está cansado de tanto preconceito e violência. Seu comportamento é bem crível, fazendo um paralelo interessante com seu marido, que pende um pouco mais para a dúvida. O filme também apresenta momentos que nos fazem ir de lá pra cá na balança da crença, colocando os personagens (e o espectador) na busca pela “verdade”.
Batem à Porta traz um Shyamalan que entrega um longa com uma premissa inovadora, mas execução relativamente simples. O filme não inventa a roda, mas é um bom produto que entrega aquilo que se propõe. Através de uma fotografia feita para nos deixar desconfortáveis e narrativa dinâmica, é uma obra que vai te deixar tenso, apreensivo e confuso, como seus protagonistas. Ele definitivamente começa melhor do que termina, principalmente porque existem alguns diálogos expositivos no final que não precisavam existir.
Os destaques ficam para a fotografia claustrofóbica e para os atores Dave Bautista e Kristen Cui. Enquanto o grandalhão entrega uma das melhores atuações de sua carreira, como um gigante gentil e assustador, a pequenina traz uma bela performance infantil, mostrando que o diretor ainda consegue tirar boas atuações de crianças. Recomendado para aqueles que sentem saudade de uma obra do Shyamalan que não decepciona e, também, aos fãs de suspenses mais psicológicos.