Lançado em novembro de 2019 (ano passado, caso você ainda esteja confuso com as datas), As Panteras, como todo filme com protagonistas femininas, não foi recebido com muito entusiasmo. A sua nota no IMDb está 4,4 de 10 e, no Rotten Tomatoes, a crítica deu 52% e o público, 72%. Além disso, na época do seu lançamento, vi alguns comentários sobre o filme ser fraco, e coisas assim. Eu discordo plenamente e vou contar meus motivos.
Sobre o plot
A história é bem basicona. Há uma ameaça iminente e precisa-se de agentes super capacitadas para resolver. Não é nada que já não tenhamos visto, por exemplo, nos filmes do James Bond – então não faz sentido cobrar uma trama elaborada e cheia de malabarismos só porque o filme tem protagonistas mulheres.
A ameaça é um dispositivo inovador criado pela personagem Elena (Naomi Scott), que se sente culpada por não ter se imposto diante do seu chefe obviamente babaca que rouba todo o crédito pelo seu trabalho duro e ainda insiste em lançar o produto mesmo sabendo que ele pode matar pessoas, tudo pelo lucro. Infelizmente, ele rouba o dispositivo para vender, mas o seu comprador faz o roubo do roubo, e sabemos que ladrão que rouba ladrão tem 7 anos de perdão. Exceto se você for alvo das Panteras, porque, nesse caso, você não tem.
E as personagens?
Incríveis, sinceramente. Adorei que o filme não começa com um grupo formado e já estabelecido, como na franquia anterior – aliás, ele nem mesmo ignora os outros filmes, fazendo diversas homenagens às nossas queridas Panteras “originais”.
A apresentação de cada uma é excelente, com um início de filme mostrando Sabine (Kristen Stewart) seduzindo um alvo, em um discurso extremamente feminista, que serve para mostrar o quanto todos ali estavam a subestimando e não esperavam que ela fosse minimamente uma ameaça simplesmente por ser mulher. O discurso serve ao seu propósito e encaixa bem na cena, mas muita gente deve ter levado para o lado “estão enfiando feminismo na nossa goela! Que coisa desnecessária!”, mas vocês devem lembrar que temos milhares de filmes com homens superpoderosos que enfiam masculinidade tóxica na tela o tempo inteiro e ninguém reclama porque virou lugar comum, então superem.
Após uma cena meio confusa de ação, que serve para mostrar o quão profissionais e incríveis elas são, as agentes são apropriadamente apresentadas: Sabine, que tem uma personalidade meio “porra louca”, e Jane (Ella Balinska) que, por ser britânica, é mais fria e pragmática. Parece estereotipo, mas é muito real. Pouco depois, Elena é apresentada em uma cena muito típica do universo feminino: tentando explicar algo ao seu chefe, mas sendo cortada e não ouvida. É trabalhado, um pouco depois, o arrependimento dela de não ter se imposto, de não ter feito mais – e conhecemos esse sentimento de medo e impotência ao sermos silenciadas.
Uma das poucas coisas que me incomodou foi a cena em que apresentam todos os Bosleys. A maioria é homem. Eu contei três mulheres, incluindo a personagem da Elizabeth Banks. Antes que pensem que estou cagando regra, a verdade é que isso faz sentido, já que o Bosley de Patrick Stewart foi quem disseminou a agência pelo mundo, além de que o cabeça do grupo sempre foi uma figura masculina – o famigerado Charlie. A ideia que passa, depois de um tempo de reflexão, é que o próprio grupo, apesar de todo o discurso de emponderamento feminino, também tem suas falhas.
Aliás, essa cena é onde começa a ideia de rixa, no qual percebemos uma certa tensão no ar e começamos a desconfiar de que algo pode não estar certo ali. Patrick Stewart esbanja o carisma de sempre, com um personagem que não precisa de muitas falas para ser entendido.
O vilão é presta?
Não muito. A motivação dele é ego, é o medo de envelhecer, de ser inútil. Então ele busca, em uma vida de crime, continuar o seu legado, treinando outras pessoas para derrotarem as Panteras e conseguir seguir a sua vida do jeito que gosta. É uma motivação pouco trabalhada, e precisa entender as camadas de sutileza em cima do personagem para captar isso.
O capanga dele é o que traz um senso de real perigo, por se mostrar extremamente competente e perigoso desde o início. O ator foi incrível, não precisando abrir a boca para se mostrar uma ameaça. Sua presença é o suficiente e isso, caros(as) colegas, é muito foda.
Os outros capangas não são ameaça, mas servem ao seu propósito de trazer a ação para o filme, nos dando boas cenas, embora um pouco confusas, com muitos cortes e a típica câmera que se mexe demais para fingir que as lutas são ótimas.
Desenvolvimento da trama
A história, em si, por ser muito simples, funciona como um relógio. O foco de As Panteras é a espionagem, com as personagens buscando provas, procurando pelos suspeitos, fazendo as coisas da maneira correta. Quer dizer, mais ou menos. Como diria Sabine, às vezes tem o dano colateral. O que realmente tem um bom desenvolvimento é a interação das três moças, que começam como desconhecidas, apenas pessoas que trabalham, coincidentemente, juntas, até se tornarem uma equipe de verdade, com vínculos de confiança e amizade.
Os diálogos são, em diversos momentos, um pouco expositivos demais, como, por exemplo, o vilão contando o seu plano, bem na vibe dos vilões de 007 (seria um padrão de filmes de espionagem?). Mas, por mim, dá para deixar passar, não é nada que atrapalhe a imersão. Pelo menos, não atrapalhou a minha.
Gostei também do desenvolvimento da Elena, seu crescimento pessoal é o mais aparente, já que ela era uma pessoa que tinha medo de se impor e, com tudo o que acontece, vai aprendendo o próprio poder, sua força e a utilizá-la a seu favor. E não falo de embates corpo a corpo, e sim a utilização da sua inteligência, sua criatividade, sua esperteza e sua força de vontade. Ela luta com as armas que tem e aprende a usá-las. É um bom crescimento de personagem, muito bem feito.
Então, o filme é bom?
Sim! O filme é divertido, a ação entretém, as personagens são carismáticas – inclusive, Kristen Stewart atuou de uma maneira que eu nunca vi, totalmente solta, sem os trejeitos que eu costumava ver nos outros filmes do qual ela participou.
As Panteras é um filme que funciona para quem adora filmes bons de espionagem, com uma boa direção de Elizabeth Banks. Então, abandone qualquer preconceito e vá assistir para se divertir, que a experiência será ótima.