A Menina do Outro Lado, do autor Nagabe, chegou em minhas mãos de forma tardia. A edição é belíssima, com um acabamento impecável que faz jus à sua narrativa, mas o valor me fez desistir de pegá-lo por algumas vezes. Tenho que dizer que ele espanta bastante, pois é basicamente uma publicação para quem gosta de boas historias e de colecioná-las.
Quando pensamos que ainda está sendo publicada no Japão, me pergunto se há viabilidade econômica dessa publicação aqui no Brasil, pois o preço de capa é de R$ 54,90 por edição. Isso é um ponto complicado, que deve fazer com que muitos deixem de acompanhar a obra.
Mas vale a pena?
Em A Menina do Outro Lado acompanhamos a pequena Shiva, uma criança que vive numa floresta ao lado de seu tutor, o enigmático Sensei. O país onde eles vivem está dividido entre as pessoas normais e os forasteiros, criaturas amaldiçoadas que podem, de alguma forma ainda não explicada, contaminar os outros pelo simples toque.
Acontece que o amável Sensei, cuidador da pequena Shiva, é um amaldiçoado. Uma criatura com feições que lembra um bode no melhor estilo Black Phillip, do filme A Bruxa, ou para os leitores de mangá, o Elias de The Ancient Magus Bride, mas com um olhar expressivo e fraterno. E seu cuidado com a Shiva é incondicional: ele quer defendê-la, proteger a pequena. E assim, ele a proíbe de andar pela floresta, pois esta pode estar cheia de grandes feras… as pessoas.
Shiva aguarda cheia de ternura e esperança o retorno de sua tia, que ainda não nos foi introduzida no conto, ou pelo menos, não completamente. É aí que as duvidas gritam:
Quem são esses seres amaldiçoados? Por que Shiva foi abandonada? Quem é o protetor cheio de segredos denominado apenas por Sensei? Por que as pessoas normais levam corpos para a floresta (sim, isso acontece)? Fora, que já somos introduzindo na narrativa com o bonde andando, algo aconteceu e somos jogados já no meio da tempestade. E que tempestade é essa?
Uma arte primorosa brinda esta edição, a fluidez dos personagens, a suavidade une o tom dark dessa fabula. Queremos cuidar da pequena Shiva pois ela nos passa ternura, em contra partida, a arte consegue imprimir o tom de dúvida em cima do personagem Sensei. Não sabemos o que esperar dele, mas seus olhos imprimem confiança e ternura. Cada cena parece ser tirada de uma exposição, e isso ganha o leitor.
A edição é de luxo, capa dura, com um ótimo acabamento. Quem sabe, para atrair mais leitores, poderia ser revisto o preço. E essa é uma obra que precisa ser lida, conversada, debatida, pois ela é uma obra viva, e obras assim precisam continuar vivas no dialogar com os amigos.
Mais perguntas que respostas neste primeiro volume, deixando um baita gancho, nos fazendo querer logo o 2° volume e meu medo ao pegar esse segundo volume é a certeza de que não terei metade de minhas perguntas respondidas, mas que serei ainda mais envolvido neste universo. E sim, ele é extremamente envolvente.