O Povo do Ar (The Folk of the Air, no original) é uma trilogia escrita por Holly Black, uma escritora norte-americana apaixonada por ficção fantástica. Lançado em 2018 pela Galera Record, o primeiro livro da saga, O Príncipe Cruel, arrebatou milhões de fãs ao redor do mundo ao entregar uma narrativa intrigante e empolgante, com personagens bem apresentados e de personalidades marcantes. A trama é construída sob um grande quebra-cabeças político e a ameaça de uma guerra civil, traições e segredos ainda não revelados que constantemente colocam nossa ambiciosa protagonista no rastro de um furacão maior do que ela poderia imaginar.
Jude Duarte viu seus pais serem brutalmente assassinados na sua frente aos sete anos de idade. Fraca e impotente, ela e suas duas irmãs foram forçadas a viver em Elfhame, no reino das fadas com o assassino de seus progenitores e, ironicamente, pai biológico de sua irmã mais velha. Criadas por seres mágicos, Jude e sua irmã gêmea, Taryn, igualmente mortais, tiveram que constantemente abandonar sua humanidade e viver de acordo com os padrões das criaturas que as cercavam, uma forma de lutar por suas sobrevivências nesta terra repleta de perversidade e encanto.
Dentre inúmeros motivos que poderiam ser usados, separamos (com muita dificuldade) cinco razões principais para te fazer dar uma chance à saga de livros. Confira!
1) Jude Duarte e sua reinvenção dentro do caos
“Claro que quero ser como eles. Eles são lindos como lâminas forjadas em algum fogo divino. Eles viverão para sempre”
Não é possível começar a indicação desse livro sem dedicar um momento pontual e enfático para uma das protagonistas mais bem construídas e esféricas que já tive o prazer de conhecer. Em O Povo do Ar, Jude Duarte é sinônimo de ambição e determinação, cheia de objetivos e decidida a provar seu valor, ela, em momento algum, se permite ser abalada pelo meio em que vive e/ou as situações fatalmente mortais em que é colocada, mesmo que sua vida dependa de sua obediência, ou da falta dela, a garota mortal opta por seguir sobrevivendo de forma árdua do que abaixar sua cabeça e viver como um ser inferior.
A personagem constantemente desafia tudo à sua volta, desde as regras da sociedade em que está inserida até o príncipe mimado e cruel que parece nutrir um ódio recíproco pela garota humana. Jude perpassa e rompe com leis simbólicas, e mesmo que isso signifique perigo ela não se afugenta, ao contrário, se reveste em orgulho e em suas crenças, buscando conquistar não só um espaço na corte, mas também o respeito que tanto almeja a todo custo. Apesar da pouca idade e do seu ímpeto difícil de controlar, ela comete erros e se coloca em confusões que exigem seu desapego com a vida, descobrindo que as suas fraquezas podem ser mais úteis do que imaginava. É extremamente interessante acompanhar Jude na sua jornada de amadurecimento e sua postura diante situações adversas, que a fazem entrar em conflitos pessoais a cada página.
2) Enemy to lovers com slow burn
“Mais do que tudo, eu te odeio porque penso em você. Com frequência. É nojento e eu não consigo parar”
Para todos os fãs de um bom romance caótico, sensual e cheio de faíscas, essa vai ser uma boa escolha de livro. Embora fique claro que o enredo romântico não é nem de longe o foco da autora, ainda assim ele acontece aos poucos, como algo secundário e natural. Serve apenas como um adicional à trama para trazer ainda mais empolgação à história, e os affairs amorosos ajudam a explorar sentimentos e backgrounds dos personagens e a dar continuidade para o restante do enredo, sem que se torne o foco principal ou uma muleta narrativa para a autora. Apesar de ser algo bem pontual e gradativo, o envolvimento é lento, porém cativante, e temos os dois protagonistas egoístas que utilizam dessa atração em benefício próprio para conseguir poder e controle.
3) Dinamicidade e imersão
Por se tratar de um livro de fantasia, é necessário abrir mão do que você acha que conhece e suspender sua descrença para mergulhar num novo mundo cheio de particularidades. Holly Black tem a facilidade de levar o leitor a um passeio ao mundo das fadas e de apresentar as barbaridades mais lógicas que você poderia conhecer, de uma forma tão natural e simples que é quase surpreendente. A história é bem mais do que a premissa inicial que o livro apresenta. Devido ao fato de O Povo do Ar se tratar, principalmente, de um quebra-cabeças político, o leitor se vê inserido em um jogo de poder e estratégia cativante, que desperta seu interesse a cada página, tornando a leitura extremamente fluida.
4) Versatilidade e representatividade
Por se tratar de uma fantasia urbana é possível notar que o livro é destinado prioritariamente ao público jovem (+16). Apesar dessa indicação, a trilogia é uma obra que apresenta complexidade o suficiente e pautas interessantes para ser uma boa história para o público adulto também. Além da trama com foco político é possível encontrar temas como traição, assassinato, tortura, dilemas familiares e representatividade. Houve preocupação em trazer personagens não heteronormativos para dentro da história.
5) Autora experiente + identidade de mundo marcante
Holly Black definitivamente merece uma menção honrosa e ser um dos motivos que instigam a sua decisão sobre ler ou não sua saga de livros O Povo do Ar. Se trata de uma autora conhecida e renomada no ramo da literatura fantástica, tem mais de 30 títulos em seu nome, inclusive em parceria com Cassandra Clare.
Holly trouxe ao público um universo muito bem construído e de fácil entendimento. Com o primeiro livro da trilogia ela conseguiu introduzir e apresentar as particularidades de Elfhame de forma direta e imersiva, remodelou a percepção padrão do povo feérico, mas manteve suas origens, e nos fez conhecer criaturas egoístas, maléficas e cruéis. Seus personagens principais são originais, marcantes e esféricos, ou seja, possuem seu nível de complexidade e possibilitam a identificação com o leitor. A obra, no geral, tem um plot simples e claro, que cresce e mantém seu padrão de qualidade ao decorrer dos livros, conseguindo cumprir com a ideia inicial sem fugir do que havia sido prometido.