jeremias-alma-graphic-msp-panini-comics jeremias-alma-graphic-msp-panini-comics

Jeremias – Alma

Após a celebrada e premiadíssima HQ Jeremias – Pele, vemos, em Jeremias – Alma, o protagonista e sua família de mudança para uma casa no bairro do Limoeiro. Ao ver Franjinha partindo para uma viagem rumo à Itália, falando sobre as origens de sua família, o garoto também sente a curiosidade de conhecer a história de sua origem, saber mais sobre seus pais, avós e mais uma vez se depara com a ingrata realidade que suprimiu a história de sua família e dos negros em geral, desconsiderando e tornando quase que invisíveis as riquíssimas e vastas contribuições dos negros para a cultura universal.

Buscando fotografias antigas, além de uma comovente conversa com sua avó, o pequeno protagonista se defronta com a triste realidade de que a escravidão suprimiu a identidade de inúmeras famílias oriundas do continente africano e seus descendentes. Nomes, histórias e raízes perdidas, fazendo com que as memórias e o passado assumissem forma de verdadeiros fantasmas, passando a ser sinônimo de dor para o povo negro, que, de forma triste, muitas vezes apenas silenciava.

jeremias-alma-previa

Ao longo da história de Alma, mais uma vez o preconceito tenta diminuir Jeremias em sua turma, mas contando com o precioso e exemplar companheirismo de amigos e amigas, bem como com o importante apoio dos pais, não sucumbe. Num determinado momento, Jeremias enfim se depara com um mundo de descobertas que se abrem para ele, vendo que são inúmeros os motivos para se orgulhar de suas origens, descobrindo grandes referências, bem como honrosas e magistrais contribuições de negros nos mais variados âmbitos da história mundial, embora estes feitos não tenham a projeção e nem sejam creditados como deveriam ser.

Junto a isso, também o estímulo à criatividade, por meio de um momento bastante marcante, que ressalta a capacidade de criar, transformar e ressignificar momentos e histórias que possam servir como novas referências e não permitir que sejam novamente apagados ou ignorados. Eistein observou de forma certeira que a tradição também faz de nós aquilo que somos e Jeremias – Alma trata justamente sobre isso, por meio de uma narrativa que mais uma vez cativa com o texto incisivo e poético de Rafael Calça e a arte já marcante e tão dinâmica de Jefferson Costa. Dignos de nota, os extras, destacando e explicando todas as referências presentes ao longo do quadrinho e o texto da atriz e escritora Elisa Lucinda na quarta capa. Vale muito a pena a leitura.