Jeremias: Pele Jeremias: Pele

Jeremias – Pele (Graphic MSP) | Crítica

Na 18° Graphic MSP temos uma história que, apesar de não abordar maioridade, traz um assunto de extrema importância e tão vivo no cotidiano de muitos de nosso país

Estamos nos aproximando do dia 13 de maio, mas por incrível que pareça e apesar de ser o dia em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que pós o fim a escravidão no Brasil, esta não é uma data tão comemorada, afinal, faltou criar todo um suporte para o negro liberto. Eles simplesmente foram soltos e nada lhes foi oferecido, nem educação, nem oportunidades.

Uma vergonha histórica faz parte dos pilares da formação do Brasil, fomos o último país do Ocidente a abolir a escravidão e ainda temos a macula de ser a nação que mais importou escravo no mundo.

E na HQ roteirizada por Rafael Calça e ilustrada por Jefferson Costa, traz também e segundo palavras do próprio Mauricio de Sousa, uma justiça histórica a um dos personagens mais antigos da casa e que reflete tanto as cores da nação chamada Brasil.

O personagem Jeremias finalmente ganha uma edição toda sua e o tema não poderia ser outro, um proposta delicada e infelizmente enraizada nas pessoas, algo que não deveria existir, mas existe! E não podemos mais virar o rosto e fingir que não existe. É um tema presente demais para ser ignorado. E casa MSP teve a coragem e a delicadeza primorosa de saber abordar o assunto.

Em Jeremias – Pele, temos o pequeno Jerê, no meio do convívio com seus pais, as amizades no colégio, as leituras no mundo dos super-heróis, mas o monstro do racismo está ali, presente na vida desse menino sensível e tão inteligente. Mas nada é tão pesado e agressivo, ele tira tudo de letra, porque ainda não teve um contato tão forte com o racismo.

Eis que por pura falta de sensibilidade, a professora da turma, apresenta um trabalho, o dia das profissões! E de forma descabida e sem a menor sutileza, ela escolhe para o pequeno Jeremias uma profissão diferente do que o garoto gostaria, afinal, ele é fã do famoso Astronauta da BRASA, porque ele não poderia ser um viajante das galáxias?

Essas perguntas não são respondidas de forma coesa para o garoto, que precisa engolir a seco a escolha feita pela professora. É ai o primeiro contato intenso do pequeno herói com o famigerado racismo, afinal, ele é negro, só lhe resta a profissão de pedreiro. E qual o problema nisso? Nenhum, inclusive, o avo de Jeremias desempenhou essas função por anos, e envia uma caixa para ajudar na indumentária do pequeno. Neste momento, temos o vislumbre de um companheiro muito presente na estética da personagem, algo que é sua marca registrada e como esse simples objeto ganha força com a carga emocional por trás de sua origem.

A HQ em todo tempo é muito emocional e poderosa, o pai de Jeremias, também sofre o dia a dia que vários negros sofrem. Afinal, “que esse cara pensa que é? Engenheiro???” É duro, e emocionante o que ele passa, porque é verdadeiro.

O ponto alto da HQ é o embate feroz do pai, tentando desesperadamente explicar para o pequeno guerreiro como é a roda social, tentando ao máximo não replicar as dores que o mundo lhe forçou a ter e como a ignorância das pessoas machuca e cria cicatrizes profundas. E esse pai luta para não passar essa carga para o filho, para lhe mostrar que ele precisa ser melhor, mais forte, mas, único. Mas quando acontece com quem ele jurou proteger, o torna mais fraco e perdido, tão perdido quanto Jeremias.

Representatividade é muito importante!

Sempre ouço no meio nerd, pessoas reclamando das mudanças de etnias de alguns personagens, ou pior, de inserirem negros como protagonistas nos seus amados universos, afinal, ali é a caixinha de areia deles, não querem ninguém brincando no parque que a eles pertencem. Deixa eu falar com você que em algum momento pensou algo assim…PARE!!!!

Representatividade é importante demais, você se sentir representado em tela, na música, nos quadrinhos, seja aonde for, isso é ouro! Um tesouro de extrema importância para o mercado, para as pessoas que consomem cultura pop, vejam o exemplo de Pantera Negra, e você mesmo não sendo negro, amou o filme. Então, deixa os meninos e as meninas do gueto se sentirem representadas também.

E é justamente isso que vemos na HQ, representatividade é importante demais para ficar fechada nos nossos preconceitos tacanhos. A cena que mostrar isso, de Jeremias e seus pais, é de uma doçura única, refletindo assim, milhões de crianças de nosso Brasil.

Rafael e Jefferson conversam com uma unidade impressionante, roteiro e arte fluem de uma forma magistral, profunda e primorosa. É um trabalho que só consigo definir como poderoso, o soco que precisamos levar na boca do estomago, para que não repliquemos jamais esse discurso triste e infundado.

A história é repleta de personagens conhecidos do universo de Mauricio de Sousa, desde a turma a personagens estelares, o que torna uma brincadeira de procurar muito divertida. E não apenas personagens, mas lugares de grande importância para a luta contra o racismo.

Posso não ser negro e ao mesmo tempo, o sou. Vivemos em uma nação miscigenada onde o racismo não deveria fazer o menor sentido, infelizmente ele é o vilão mais presente, mas que pode ser derrotado, com esclarecimento e educação. E propostas como a apresentada em Jeremias – Pele, são fundamentais para a mudança de comportamento.

Obrigado Rafael, Jefferson, Sidney e Mauricio e toda a equipe que faz a MSP ser um diferencial no mercado Brasileiro, e mudarem sempre, olhando um pouquinho de dentro para fora e trazendo histórias que só tendem a nos emocionar e ensinar.

Vocês podem adquirir Jeremias – Pele com os nossos parceiros da Reboot Comics.