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Crítica | Born Cartolla (AVEC Editora)

Graphic Novel de Levi Tonin, Born Cartolla traz influências da cultura pop japonesa numa história com personagens únicos e carismáticos pela AVEC Editora

A AVEC Editora está trazendo para o mercado de quadrinhos a graphic novel Born Cartolla, obra de estreia de Levi Tonin que traz influências da cultura oriental, tanto nos traços quanto nos elementos narrativos. Diferente dos mangás, no entanto, a leitura aqui se faz na forma ocidental.

A história apresenta Galla Cartolla, uma misteriosa viajante mágica, cuja bagagem é apenas o chapéu. Perdida em trilhas mundo a fora, sua jornada se vê em um ponto crucial ao encontrar Terry MAC Éan, um garoto cego, vítima da mais temida criatura mágica, a Sombra Absurda. Com seu sangue mágico a jovem cura Terry, trazendo sua visão de volta. Prometendo apresentar os mais diversos lugares pelo mundo, ambos partem numa breve viagem, mas que alterará todo o equilíbrio do mundo mágico.

Os melhores momentos da HQ são justamente quando Galla e Terry interagem, entregando tudo aquilo que o autor propõe quando se refere a Born Cartolla como uma obra onde seus personagens questionam seu papel no mundo.

Isso porque Galla é uma protagonista bem elaborada. Inserida no contexto dos viajantes, seres mágicos que transitam pelo mundo portando apenas seu chapéu e nenhuma bagagem, ela se diferencia pelas suas diversas tatuagens no corpo, onde cada uma tem uma função. Esteticamente é um acerto incrível, e no roteiro isso se repete com semelhante êxito. Conforme progredimos na história, mais ficamos sabendo sobre as motivações de Galla e como ela se preocupa com questões importantes, ao mesmo tempo que irá se ver em dilemas complicados, mas pertencentes ao mundo dos obstinados.

Terry Mac Éan é o espectador, juntamente com o leitor, do mundo mágico dos viajantes e toda a mitologia que virá a seguir. Mas é ele quem sofre diretamente com as ações de Galla, o que vai direcionar a relação dos dois para além do tradicional “garoto conhece a garota”. Nesse contexto, há um trabalho interessante de Levi Tonin com a história de Pinóquio, personagem criado por Carlo Collodi (1826-1890). Mas não vamos dar spoiler aqui. Fiquei muito curioso por mais detalhes sobre a Sombra Absurda (quem sabe num próximo volume?), um inimigo de perigo inestimável que acaba sendo trabalhado de um modo que eu não esperava.

Logo no início da história a ambientação se dá em algum lugar da Irlanda, mas rapidamente percebemos (de modo bem criativo) o quanto é fácil para um viajante se locomover pelo mundo. Há uma infinidade de possibilidades para um viajante, mas uma mensagem de fácil absorção talvez seja a de valorização do que temos, desde amigos e familiares até o bom usufruto dos nossos recursos naturais. Isso por conta intrínseca relação entre esses seres mágicos e a natureza.

Um aspecto complicado na hora de ler a graphic novel é o excesso de informações, onde o criador precisa explicar como funciona a magia e sua mecânica nesse universo. Alguns personagens são muito parecidos esteticamente falando, e há bruscas mudanças de ambiente que podem dificultar a leitura. Vale ressaltar que essas características estão presentes em qualquer mangá, apenas considero que o autor poderia ter esperado um pouco mais para apresentar boa parte da mitologia criada, pois não acho que tudo tenha se encaixado bem na linha do tempo.

A edição da AVEC Editora traz alguns extras do autor, como o processo de criação da protagonista e um poster guia bem legal das tatuagem que Galla possui, com bastante informação sobre as utilidades de cada uma. Como toda obra viabilizada através do financiamento do Catarse, há uma lista com o nome de cada um que contribuiu para que o trabalho de Levi Tonin fosse publicado. No geral, Born Cartolla consegue ser uma novela agradável de ler, trazendo personagens carismáticos e um mundo fantástico bem desenvolvido. Uma boa estreia do autor!