A psiquiatra Dorothy Otnow Lewis dedicou sua carreira ao estudo de assassinos, em busca de respostas para a pergunta sobre por que matamos. “Louco Não. Doido”, com direção e produção do ganhador do Oscar Alex Gibney, estreia na terça-feira, 24 de novembro, às 22h. Este documentário explora, como se fosse uma história de detetive, as iniciativas da Dra. Lewis ao longo da vida para ver os homicídios além dos detalhes terríveis, observando o coração e a mente dos assassinos. O documentário estará disponível na HBO e por streaming na HBO GO.
Exibido na seleção oficial do Festival Internacional de Veneza de 2020, a produção apresenta a Dra. Lewis e sua pesquisa, que inclui entrevistas gravadas no corredor da morte e a avaliação das experiências formativas e disfunções neurológicas de assassinos famosos como Arthur Shawcross e Ted Bundy, desafiando a noção do mal e a ideia de que os assassinos não deveriam ter nascido.
A renomada psiquiatra e escritora Dorothy Lewis começou sua carreira trabalhando com crianças, inclusive jovens infratores violentos. Esse contato com depoimentos de abuso físico e sexual na infância a levou a investigar como os traumas infantis – em geral associados a alguns danos neurológicos – podem plantar as sementes de impulsos assassinos em adultos.
Suas descobertas a tornaram uma especialista em transtorno dissociativo de identidade (anteriormente conhecido como transtorno de múltiplas personalidades), à medida que observava em primeira mão como os assassinos alternavam suas personalidades – ou “alters”, como ela chamava – durante o período em que ela os examinava. Embora as conclusões da Dra. Lewis tenham sido muitas vezes rejeitadas por colegas, como o conhecido psiquiatra forense Park Dietz, suas filmagens de entrevistas no corredor da morte mostram transformações significativas de “alters” desenvolvidos na infância, muitas vezes como uma forma de suportar e até se vingar da dor sofrida.
Entre os casos mais conhecidos apresentados pela Dra. Lewis está o de Arthur Shawcross, condenado em 1991 pelo assassinato de 11 mulheres. Enquanto as gravações das conversas de Lewis com Shawcross o mostram com os “alters” da sua mãe vingativa e de um canibal do século 13, no julgamento ele foi considerado são e culpado. Lewis também foi umas das últimas pessoas a entrevistar Ted Bundy, pouco antes da sua execução. Em uma fita de áudio incluída no documentário, Bundy foi excepcionalmente sincero com a psiquiatra, e revelou novos detalhes opostos ao que se sabia sobre ele. Uma das coisas de que Lewis se lamenta é de nunca ter podido examinar o cérebro de Bundy para buscar pistas do que o levou a ser um dos serial killers mais famosos do mundo.
“Louco Não. Doido” é uma inovação no estilo de Gibney, que usa uma combinação eclética de cinema verité, gravações em vídeo de avaliações psiquiátricas, animações desenhadas à mão e filmagens caseiras com o objetivo de explorar as complexidades da mente humana. Textos de autoria da Dra. Lewis são lidos pela atriz Laura Dern (BIG LITTLE LIES, da HBO, e O Conto) para trazer mais informações sobre sua carreira e os casos que acompanhou. Com imagens da psiquiatra rabiscando em blocos de notas na sua sala de estar desarrumada e transformada em ateliê de aulas de desenho de formas humanas, o retrato que Gibney compõe de Lewis pretende mostrar uma mulher de curiosidade ilimitada preparada a explorar lugares que outros não estão dispostos a conhecer.
O título “Louco Não. Doido” é uma referência coloquial ao conflito que o sistema judiciário – âmbito de pedidos de justiça que podem se transformar em desejos de vingança – mantém com o mundo da ciência médica quanto à definição de doença mental grave. Durante muitos anos, Dorothy Lewis depôs em casos de pena de morte sobre se os assassinos condenados tinham sanidade mental suficiente para serem condenados. Suas descobertas e conhecimentos forenses ajudaram a mudar leis e o modo como advogados conduziam os casos dos seus clientes condenados à morte.
O documentário também aborda a pena de morte em si, destacando a pesquisa que aponta que os estados onde este método punitivo existe tendem a ter índice de assassinatos mais altos do que os outros, questionando a teoria de que a pena de morte desencoraja a violência. A produção levanta uma questão importante: se os assassinos perigosos são presos e as pessoas estão protegidas, por que a sociedade está tão decidida a executar esses seres humanos?