Fúria Incontrolável russell crowe Fúria Incontrolável russell crowe

Uma Fúria Incontrolável (a minha, com esse filme)

Hoje, dia 19 de abril de 2023, sinto muita alegria por ter faltado a cabine de imprensa (tradicional exibição para jornalistas) do filme Fúria Incontrolável (Unhinged, 2020), longa estrelado por Russell Crowe que coloca o astro de Gladiador no papel de um psicopata. Ao mesmo tempo, me solidarizo com os colegas que compareceram à peleja, pois tentei assistir o longa no melhor lugar possível (o conforto do meu lar) e a sessão foi doída.

Aliás, depois de se consagrar no premiado filme de Ridley Scott, Crowe tem atualmente se aventurado por papéis pouco usuais, como no recente O Exorcista do Papa, vivendo um padre a serviço do Vaticano. Mas isso não vem ao caso agora.

Ou talvez venha, pois é o verdadeiro demônio que habita o corpo do homem encarnado pelo ator, que sequer possui um nome. Dirigido por Derrick Borte a partir do roteiro de Carl Ellsworth, a trama do filme mostra um insano homem (Crowe) que passa a perseguir e ameaçar uma mulher, Rachel (Caren Pistorius), após um desentendimento de trânsito, fazendo com que a situação adquira contornos fatais.

Para quem conhece os trabalhos de ambos não há decepção alguma, pois o que temos aqui é algo de qualidade tão inexpressiva quanto seus projetos anteriores.

Claro que o fato de não possuir um nome acaba sugerindo algumas coisas, como o quão danosa para a nossa saúde mental é a sociedade contemporânea, com sua rotina que nos deixa à beira do colapso. Logo no início, o personagem de Russell Crowe assassina um casal, aparentemente sua ex-mulher e o atual marido dela. Isso é reforçado em cenas posteriores, como quando o homem, em busca de aterrorizar todos que conhecem Rachel (como parte de sua vingança), conversa com seu advogado e supõe que ele seja uma pessoa que mereça morrer pois um dos seus trabalhos é sugar os homens que passam por um processo de divórcio.

Nesse ponto de vista, poderíamos colocar Fúria Incontrolável como mais um daqueles filmes que categorizo como “Coringa – A Origem”. Explico: o clássico personagem da DC Comics e vilão do Batman não possui uma origem clara contada nos quadrinhos (a mais cultuada seria a visão de Alan Moore em A Piada Mortal), e no cinema isso é explorado colocando várias possibilidades para a maneira como alguém tão doido possa ter surgido em Gotham City (quase todas ligadas de algum modo ao Homem-Morcego). Então essa fúria toda pode ter vindo de um dia ruim, como estopim de uma série de situações estressantes, certo?

Porém, levando em conta que o próprio filme Coringa (Todd Phillips, 2018) trabalha bem a questão da necessidade de valorizarmos e exigirmos do Estado um cuidado com as pessoas que sofrem de transtornos mentais, e que temos um clássico absoluto do gênero em Dia de Fúria (Joel Schumacher, 1993), estrelado brilhantemente por Michael Douglas, posso afirmar que Fúria Incontrolável já seria redundante para o cinema mesmo se fosse um bom filme.

Se fosse um bom filme. Mas infelizmente não é.

O que vemos é uma sequência de cenas inverossímeis no trânsito, como uma caminhonete atacando um carro em meio ao engarrafamento sem chamar a mínima atenção de dezenas de pessoas ao redor. Isso praticado por um delinquente que só falta usar um sinalizador (daqueles utilizados por quem naufragou em uma ilha deserta) para chamar tanta atenção de uma polícia que, por sua vez, é capaz de deixar escapar até um bicho-preguiça com camisa de força se o animal estiver em fuga. De dar nos nervos.

Por mais que os streamings estejam afetando ferozmente a cultura do cinema, na qual dedicamos cem por cento da nossa atenção à obra embalados pela oferta sensorial de uma tela gigante, nesse caso específico foi melhor assistir em casa, pois pude ver de vinte em vinte minutos a essa irritante alegoria de homem frustrado de extrema direita.

Por tentar se sustentar totalmente no carisma de Russell Crowe, o filme fica ainda mais decepcionante quando seu personagem não tem aprofundamento algum e usa de uma violência desmedida e descabida, sem contar a inteligência com gadgets, digna de Mark Zuckerberg, para alcançar seus insanos objetivos. O único sentimento é o desejo de que tudo acabe logo.

Onde posso assistir Fúria Incontrolável?

Se depois disso tudo você ainda tem algum interesse em conferir essa bagaça, minha dica é o Prime Video da Amazon, ou então a HBO Max.