Equilibrando referências clássicas e o visual dos filmes encabeçados por J.J. Abrams, Star Trek: Discovery possui uma vida longa e próspera pela frente.
O espaço, a fronteira final marca, curiosamente, o início de uma nova fase para Star Trek na TV. Parte da iniciativa de marketing do CBS All Access, Star Trek: Discovery foi exibida em rede aberta e depois ganhou o mundo através dos serviços de streaming. Aqui no Brasil a distribuição semanal está nas mãos da Netflix. A franquia que tanto revolucionou a cultura pop finalmente alcança um novo lado da modernidade. O que promete atrair antigos e novos fãs.
A trama de Discovery começa exatos 10 anos antes da clássica missão de exploração da Enterprise comanda por Kirk, Spock, McCoy e companhia. A bordo da USS Shenzhou, vamos conhecendo a dinâmica da nova tripulação e o início da guerra entre a Federação e os Klingons. Tudo distribuído ao longo de dois episódios recheados de nostalgia, bom humor, mistérios e tudo que forma a essência de Star Trek. E apesar da diferença temporal, Star Trek: Discovery está intimamente ligada as séries clássicas e aos novos filmes da franquia. Uma jogada de mestre de J.J. Abrams. Apesar das cronologias diferentes, todos os caminhos se entrelaçam em algum momento.
Ainda no campo das novidades, Star Trek: Discovery vai na contramão de algumas de suas antecessoras. O foco nos primeiros episódios não é estabelecer uma nave importante e sua tripulação, mas sim sua personagem principal: Michael Burnham (Sonequa Martin-Green, a Sasha de The Walking Dead). Tudo que ocorre, além de movimentar a trama, serve para construir sua personalidade e visões de mundo. Uma humana, que perdeu a família ainda criança por causa do Klingons, adota pelo Embaixador Sarek (o pai de Spock) e criada na cultura Vulcana. São elementos que fazem de Michael uma personagem pra lá de interessante, passando longe de uma mera cópia do Spock. Sua relação com a Capitã Philippa Georgio (Michelle Yeoh) é um dos pontos altos dessa estreia. O protagonismo está em boas mãos.
Já os Klingons são devidamente apresentados como vilões da temporada. Na cronologia oficial da franquia, a raça vive um tenso período de Guerra Fria com a Federação. Cenário que muda drasticamente com os discursos inflamados de T’Kuvma (Chris Obi). Que consegue unir boa parte das grandes Casas Klingons enquanto desperta admiração e respeito no coração dos menos favorecidos. Uma figura política importante que serve como estopim para inúmeros problemas futuros. E claro, possui várias raízes no atual momento da nossa sociedade.
Mas o grande trunfo de Star Trek: Discovery está na habilidade em equilibrar o peso de várias gerações distintas. Bryan Fuller (Deuses Americanos) e Alex Kurtzman (Além da Escuridão: Star Trek) acertam ao misturar elementos clássicos como referências científicas e táticas de combate aos ótimos efeitos especiais, ação e fotografia que marcam a nova fase cinematográfica encabeçada por J.J. Abrams. Tudo isso gera um filho de dois mundos diferentes, mas que possui sua própria identidade.
No entanto, também existem alguns defeitos. Especialmente se formos analisar questões cronológicas em relação ao visual dos Klingons, da tecnologia utilizada pela Federação e outras coisas mais. Mas nada que estrague a experiência ou gere uma preocupação imediata. No futuro, quem sabe, isso possa ocasionar problemas maiores. Ai a reclamação está liberada.
Star Trek: Discovery entrega diversidade, inovação, nostalgia e um subtexto social sobre intolerância bastante atual. Tudo isso em apenas dois episódios. Ainda é cedo para cravar uma previsão para o futuro, mas nada impede que a série tenha uma vida longa e próspera.