Se ordem e caos podem dar um bom resultado juntos, What if…? é com certeza um fruto desses dois em um breve dedo de prosa. Com o final da 1ª temporada da série animada, a Marvel demonstra não ter limites para expor sua capacidade de reinventar, criar e reciclar sua autoridade perante os fãs.
Toda a série foi escrita por dois roteiristas (A.C. Bradley e Matthew Chauncey) e dirigida por apenas um cineasta (Bryan Andrews). Através de um visual cel shading, a equipe brinca com o trunfo de ter todas as histórias na palma da mão, sem barreiras de criatividade. A genialidade de Kevin Fage deve ser destacada, já que, como um bom amarrador que é, colocou o desenrolar do multiverso exatamente no momento certo.
As grandes mudanças da fase 4 da Marvel recebem devoção ao longo dos episódios de What if. Com o objetivo de explorar o multiverso e um certo think out of the box como mensagem central, a animação reconhece as consequências propostas nas séries WandaVision e Loki.
Para introduzir o novo universo, a animação consegue estabelecer uma ponte com o espectador através do ilustre Vigia (voz de Jeffrey Wright). O personagem apresenta as linhas temporais e nos leva a todos os pontos centrais das histórias em cada episódio. Assim, já no começo, a Marvel se destaca por trazer, de forma familiar, a onisciência de um personagem considerado misterioso e divino vindo dos quadrinhos.
Se uma palavra pudesse definir o passar dos episódios em What if…, ela seria progressão. A fórmula usada para levar a audiência do raso até as profundezas da dimensão dos heróis vende uma imagem de tirar o fôlego e um desejo por continuação. Por isso, desde o capítulo dedicado à Peggy Carter até aquele focado em Ultron os resultados da animação chegam a atingir os desejos dos filmes, das fanmades e das HQs.
E é nessa receita de imersão que as apostas são grandes e os fios de conexão entre as outras obras formam a identidade sólida da produtora. Aqui, a Marvel não ousa e nem muda seu jeito de produzir por dois motivos: ele funciona e é familiar. O enredo geral é apenas um enorme laço formado por inúmeros capítulos que fluem de forma interdependente entre si. Consequentemente, é esse conhecido nó que faz com que a trama toda seja recompensada com um ciclo fechado na cabeça de quem dedicou seu tempo aos heróis do multiverso.
Episódios como os de Doutor Estranho e os de Ultron merecem destaque por encher os fãs de elementos de ação em apenas trinta e poucos minutos. O tempo bem aproveitado consegue explorar cada personagem do multiverso e transformar a história na mesma fórmula aclamada de Vingadores.
Porém, para compreender a nova fase da Marvel é preciso atingir um nível “Interestelar” e tirar meia hora do seu dia para refletir sobre. A grande colisão de conflitos e realidades nos episódios despertam a mensagem principal da animação: o multiverso está em manutenção, então é melhor que se acostumem com isso.
Por mais que a receita Vingadores (já feita antes) tenha funcionado no decorrer da história geral, ela causa uma nova comoção em What if. A produção de novos personagens, a quebra dos limites do live action e um enredo gradual cooperam para intrigar os fanáticos e os não fãs. E é por isso que a atmosfera da nova animação consegue ser obscura e reconfortante ao mesmo tempo. Dessa forma, constroem a jogada inteligente de traçar os caminhos de uma nova era de divindades que está prestes a atingir seu clímax.
Mesmo que já estivéssemos acostumados com o desenrolar da iniciativa Vingadores, receber os Guardiões do Multiverso traz a sensação nostálgica dos filmes da saga. Assim, viradas dos episódios e o final que esperávamos por anos (que causou muito chororô no cinema e no Twitter) fazem com que assistir a meia hora de porrada Marvel valham a pena.
Para aqueles que queriam destaque dos antigos personagens, a Marvel entrega tudo bem embrulhado com um papel de presente luminoso. A trama que perpassa entre zumbis, magia das trevas e um estrelismo que não decepciona em nada no final gera um desencadeamento digno de ovação. Logo, somos marcados pelo DNA saudosista que nos remete às lembranças e à euforia de ver nossos queridinhos quebrando o pau em novas aventuras.
Brincadeiras à parte, What if… termina literalmente como um “What the fuck“. O final e a cena pós-créditos nos fazem pensar em milhões de possibilidades. Agora que vimos a extensão real de Stephen Strange, Carol Danvers, Natasha Romanoff e de outros que não assumimos ser fãs, nos resta pensar no futuro da Marvel.
Se você já entendeu o multiverso, com certeza está pronto para os vindouros Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e Eternos. E pra aqueles que anseiam por uma segunda temporada, saiba que os planos da Disney+ com a Marvel já estão a todo vapor.