Henry Cavill estrela The Witcher, a agradável e aguardada série da Netflix inspirada nos livros de Andrzej Sapkowski
Nem todo mundo botou fé quando foi anunciado pela Netflix uma adaptação de The Witcher, série literária do polonês Andrzej Sapkowski (popularizada pelos jogos eletrônicos a partir de 2007). O anuncio de que seria estrelada por Henry Cavill, que tem no seu currículo a interpretação de Superman nos filmes da Warner como feito mais notório da carreira, gerou certa curiosidade em volta do projeto, mas nada além disso. Seria esse então mais um fracasso do ator, visto que sua continuidade como super herói já havia sido suspensa?
Eis que o primeiro trailer chegou, a empresa divulgou bem (com direito a participação surpresa de Cavill na CCXP 2019) e as pessoas se convenceram de que esse projeto merecia atenção. E o tempo não foi perdido: estamos todos envolvidos com o programa, jogando nossas moedas para o bruxo Geralt de Rívia.
Não que o seriado seja perfeito, muito pelo contrário: diversos defeitos e problemas de ordem técnica podem ser observados ao longo dos 8 episódios encomendados pela plataforma de streaming, que tratou de pedir uma leva de novos capítulos antes mesmo da estreia ao perceber que tinha um produto valioso em mãos.
A trama de The Witcher acompanha Geralt de Rívia (Henry Cavill), um dos últimos Bruxos existentes. Nesse universo, os Bruxos são caçadores de monstros que sofreram mutações, ainda crianças, desenvolvendo algumas habilidades e aperfeiçoando os sentidos. Tudo isso em troca de algum dinheiro. Na série da Netflix também acompanhamos a trajetória de Ciri (Freya Allan) uma princesa que precisará lutar por sua sobrevivência quando Cintra, seu reino, é atacado por Nifgaard. Por último, temos a história de Yennefer (Anya Chalotra), uma poderosa e atraente feiticeira.
Melhor que Game of Thrones?
Alguma análises prévias apontavam que a série possuía mais qualidade que Game of Thrones, verdadeiro fenômeno mundial inspirado em As Crônicas de Gelo & Fogo, de George R. R. Martin. Bom, se concentrarmos essa comparação apenas com a última temporada do programa da HBO, até podemos discutir. Mas a verdade é que a saga televisiva de Westeros se tornou uma grande referência de sucesso mundial, recheada de personagens icônicos e carismáticos, tornando essa uma batalha até injusta para Geralt e sua turma.
Também vale mencionar que mesmo Game of Thrones teve uma curva de crescimento muito grande ao longo das temporadas, bastando olhar a qualidade dos efeitos especiais e demais atributos técnicos para entender o que quero dizer. Cada programa tem suas particularidades dentro do gênero fantasia, onde uma é mais baseada no realismo fantástico enquanto a outra se apóia muito mais em recursos mágicos.
Esse último é o caso de The Witcher. Aqui, encontramos muito mais magos, elfos e criaturas fantásticas, o que torna a experiência um tanto nostálgica e até lúdica em certos momentos para os fãs mais apaixonados por capas e espadas. Grandes embates também são mostrados enquanto Geralt tenta cumprir suas missões. Nesse sentido, vale um elogio para as belas coreografias apresentadas pelo show da Netflix.
Se assemelhando muitas vezes a um jogo de RPG (e de tabela aos jogos eletrônicos da franquia), a narrativa é bem diversificada, onde acompanhamos o ponto de vista dos três principais personagens supracitados. Como estrela principal, vemos o bruxo fazer seu trabalho pelo mundo quase que de modo procedural. Também há uma quebra na linha temporal, que apesar de interessante, não fica muito clara em alguns momentos e isso pode confundir o espectador. Mas o que mais pesa é a falta de momentos marcantes que o roteiro acaba não entregando, terminando os episódios dessa primeira temporada de uma forma insossa após um vibrante começo.
Henry Cavill consegue mostrar o quanto lutou pelo papel e entrega um protagonista de virtude. Apesar de personalidade mais fechada, Geralt de Rívia acabou ficando muito bem no ator. Apenas em alguns momentos que um desconforto pode vir, pela superficialidade de algumas falas proferidas num tom de voz muito robótico. Nada que sua beleza e carisma não compense. O que fica realmente em falta é um desenvolvimento maior dos seus dramas.
E isso se estende a Yennefer, mesmo que em menor dosagem. Seu envolvimento com o personagem principal é interessante, além das transformações físicas que ela sofre desde o começo. Faltou um pouco mais de clareza no seu treinamento, em como ela consegue atingir o patamar de grande feiticeira em que é colocada – e consequentemente demonstra o quão poderosa é. O desejo natural de ser mãe (em contrapartida a sua incapacidade de gerar filhos) é uma pauta respeitada do material de origem, que certamente deverá ganhar mais corpo nas próximas temporadas. A atriz que dá vida à feiticeira, Anya Chalotra, se mostra uma boa surpresa com os seus 23 anos. Assim como Freya Allan, a Ciri, que é uma jovem atriz que se encaixa bem no papel. No entanto, seu arco ainda não é algo digno de nota no sentido de exigência para o papel.
The Witcher é uma boa novidade entregue no final de 2019, e se coloca como uma série de peso na cultura pop, podendo rivalizar com outras do gênero. O fato de se ruma exclusividade da Netflix certamente é um diferencial divulgador, e caberá à experiente produtora Lauren Schmidt (que contribuiu em The Umbrella Academy, Defensores e Demolidor) usar essa carta na manga para tornar a série algo imprescindível nas rodas nerd / geek de conversa.