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Ameaça Profunda | Crítica

Quando existe uma ideia boa para contar uma história, ela deve andar de mãos dadas com o esforço, com uma boa narrativa e todos os elementos que compõe a forma e mídia em que essa história vai ser contada. Em Ameaça Profunda nós temos quase todos esses elementos, contudo, cada um trabalhando por si e não em cooperação. O que poderia ser um divertido suspense sci-fi, acaba virando uma ode a desorganização e a falta de tom.

Uma estação subaquática está realizando algum tipo de experimento no fundo do mar, e quando menos esperam, um terremoto põe a vida de todos os tripulantes em risco. Temos o nosso filme. O roteiro (Brian Duffield) possui um argumento interessante, do ponto de vista do suspense e da ficção científica, não reinventa a roda, mas é o clichê que poderia dar super certo. Assim como em Alien – O Oitavo Passageiro, existe uma solitude que potencializa o nível de medo, não há para quem gritar ou a quem pedir ajuda, estão todos a 10km abaixo no oceano. Contudo, a escrita peca em diversos aspectos, desde diálogos improváveis, mau escritos, sem timing algum para alívio cômico, este que fica a cargo do personagem Paul Abel (T.J Miller). Ninguém faria uma piada de susto à beira de uma morte iminente. Por favor.

Dentro do grupo de personagens é difícil se importar com a maioria deles, com exceção da protagonista Nora (Kristen Stewart), que aparentemente é a única que realmente possui uma função e age ativamente dentro da trama. O restante é limitado a ser peso dramático. Irônico pois em nenhum momento há espaço para desenvolvimento de personagem, e interação com nenhum deles. O filme quer que o espectador assuma e acredite que aquelas pessoas possuem vínculo, sendo que em 10 minutos de projeção, Nora não sabia nem o nome do mecânico que trabalhava em sua ala. O senso de urgência e agilidade pesa muito mais quando existe um momento de calmaria antes ou depois de um clímax, quando não possui isso ou apego por quem está na tela, o resultado dificilmente será satisfatório.

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A fotografia tem um destaque acima dos outros elementos do longa, existe uma claustrofobia que incomoda, é desconfortável e ajuda na imersão nas sequências mais tensas. O uso das luzes defeituosas, o reflexo na água que inunda compartimentos da base onde os personagens estão, o uso da sombra para criar ainda mais o medo do desconhecido, e ainda o uso literal da luz vermelha e o alarme de perigo ajudam na urgência. Eubank sabe criar atmosfera de modo rápido, principalmente com o uso da câmera tremida, deixa tudo mais orgânico, e usa isso na medida certa. Entretanto, diversas sequências dentro do oceano são extremamente escuras, bagunçadas, e é difícil entender o que realmente está acontecendo, entendível pelo ponto de vista de quem não se sabe o que é o terror/criatura durante o primeiro e metade do segundo ato do filme, contudo, o uso desse recurso é excessivo, cansa e anestesia o espectador.

Emulando mais uma vez Alien – O Oitavo Passageiro, a incógnita do monstro subaquático. Eubank segura até o momento certo de apresentar a grande ameaça, antes disso só temos alguns vislumbres, mas não da ameaça maior. E ao contrário do que poderia parecer, o objetivo dos tripulantes é sobreviver, ir para a superfície, e não enfrentar uma besta aquática. O uso do som também é assertivo, principalmente quando não há trilha sonora de fundo, apenas o som do oceano, dos personagens conversando. Apenas o ambiente falando.

Ameaça Profunda tem uma boa ideia, um bom uso de fotografia e de som, porém, peca bastante nos seus diálogos, na construção de seus personagens, e na incredulidade de algumas atitudes diante de uma morte iminente.