Antes de começar, um pequeno aviso aos navegantes que ainda não assistiram o programa e tem interesse em fazê-lo, eu vou precisar dar spoilers do reality Solteiros, Ilhados e Desesperados aqui para expor meu ponto de vista, então se você leu o artigo da Evelyn (confira aqui) e ficou curioso, vai lá assistir os oito episódios e depois volta. Aviso dado agora é por sua conta e risco.
Não é de hoje que a Netflix surfa na onda dos Reality Shows, e como tudo na soberana dos streamings, algumas vezes com resultados memoráveis e outras vezes trágicos. Nesse sentido, com o crescimento constante do consumo de conteúdos asiáticos, em especial os coreanos, era só questão de tempo até a plataforma vermelha investir em Reality Shows focado para esse nicho de expectadores.
E assim surgiram vários “shows da vida real” explorando o subtexto e a cultura asiática, como por exemplo, Ai Nori – A Van do Amor, Rea(l)ove, Casamento à Indiana, Terrace House etc., o que eu pessoalmente acho um ponto positivo já que quebra um pouco do domínio das produções norte-americanas.
Tudo estava indo bem, acontece que a Netflix não estava esperando que Hana Kimura, uma das participantes de Terrace House cometesse suicídio após sofrer inúmeros casos de assédio. O programa não só foi cancelado como houve um certo afastamento da gigante vermelha com programas do gênero voltados para o público japonês, o que levantou uma grande questão sobre a abordagem da Netflix em seus Reality Shows, além da postura de geralmente não se manifestar sobre esse tipo de polêmica.
É nesse cenário que surge Single’s Inferno (ou Solteiros, Ilhados e desesperados, no Brasil), uma Netflix se voltando para programas coreanos e querendo apagar seu histórico com Terrace House, apostando assim em um programa que supostamente tem o intuito de formar casais. Salva essa informação, que eu já explico o porquê do “supostamente”.
Não vou me aprofundar na premissa do programa pois a Evelyn já fez isso com maestria em seu artigo, mas, em resumo, inicialmente temos nove participantes enviados a uma ilha deserta para passar nove dias e oito noites no intuito de acharem um par enquanto tentam se virar para passar nas provas e “sobreviver” à ilha a qual eles chamam de inferno.
Aqui a produção do programa apostou em um formato interessante, porém, eles acabaram se sabotando no processo, e digo isso porque a escolha do Reality Show se passar em dois ambientes, tentar formar casais, ter as provas onde os participantes têm que administrar os recursos ali escassos é tudo muito promissor, mas limitar isso a nove dias foi um tiro no pé.
Enquanto outros programas de relacionamento os participantes passam 30 dias juntos, como é o caso de Brincando com Fogo por exemplo, em Solteiros, Ilhados e desesperados os integrantes têm pouquíssimo tempo para se conhecer e formar algum tipo de laço, o que acaba forçando uma competição de “não quero terminar só” e estragando qualquer tentativa minimamente sincera de conseguir formar um casal.
Eu imagino que o programa teve um desafio logístico para superar, ao ter que levar os mantimentos para os participantes, e por esse mesmo motivo não existiam muito alimentos perecíveis, como proteína animal e afins. Entretanto, se o foco era de fato formar casais, o programa deveria ter investido mais tempo na logística e no planejamento para que fosse minimamente viável ele ocorrer por mais tempo. E venhamos e convenhamos, dinheiro não é problema para Sra. Netflix, principalmente depois de sucessos como Round 6, Amigas Para Sempre, Maid, Lupin etc.
Não satisfeitos que os participantes tinham poucos dias para se conhecerem, o programa criou uma regra de que, na segunda noite, os participantes não poderiam ir “para o céu” com os mesmos membros que foram na primeira noite. Poxa Netflix, assim tu não quer mesmo que os ilhados tenham algum tipo de vínculo, já que esse tipo de coisa até é comum em programas de paquera, mas como eu disse anteriormente, esse tipo de Reality Show tem uma duração mínima de um mês, alguns até mesmo chegam a durar quase três meses, e não somente nove dias.
Outro erro crasso cometido pela produtora do programa foi inserir três novos participantes no penúltimo dia, acredito que incentivados por programas como Brincando com Fogo e De férias com o Ex. Tiveram a brilhante ideia de colocar três pessoas para atrapalhar qualquer evolução residual formada pelos participantes da ilha, e eu digo atrapalhar porque, olha, a pressão de entrar no programa aos 45 do segundo tempo e ainda ter a obrigação de marcar um gol…
Os novos integrantes tiveram apenas dois dias e uma noite pra tentar se “relacionar” com os que ali já estavam, somando isso ao senso competitivo dos participantes, a receita para o trauma era certa, deixando os novatos com um certo ar vilanesco – dependendo da sua interpretação.
Depois de expor um pouco os erros estruturais, cabe aqui uma crítica a localização para a língua portuguesa, no qual a Netflix parece que fez a localização no google tradutor de tão vexatório que são os erros de tradução, palavras que ficam sem sentido no português trocando completamente o contexto das conversas, além de palavras traduzidas de forma errada mesmo.
Essa questão da localização é importantíssima, pois, diferente do inglês que mais pessoas são familiarizadas e conseguem perceber os erros e as nuances com uma certa facilidade, a localização da língua coreana para o português deve ser feita com extrema cautela, para não tirar o contexto das conversas, principalmente se tratando de um Reality Show.
Por fim, Solteiros, Ilhados e Desesperados traz consigo uma mistura muito boa de elementos de outros Reality Shows que, se executados da forma correta e com mais esmero, tem tudo para ser um novo sucesso na plataforma, podendo rivalizar inclusive com De férias com o Ex. Este, inclusive, já está precisando se reinventar, mas isso é um assunto para outro artigo.
E você? Assistiu o Solteiros, Ilhados e desesperados? Gostou? Não gostou? Conta aí se você concorda ou não comigo, pontos de vista diferentes são sempre bem vindos, desde que feito com respeito.