É bastante satisfatório quando uma série consegue superar seus problemas e evoluir ao longo das temporadas. Especialmente aquelas que possuem um potencial enorme de crescimento, mas que esbarram justamente nos aspectos negativos. Castlevania passou por esse processo, rompendo o casulo que a impedia de brilhar ainda mais. Depois de uma modorrenta primeira temporada – que funciona muito mais como uma introdução – a melhora já era palpável no bom segundo ano. Mas, em sua nova jornada na Netflix, a animação criada por Warren Ellis mostra que pode brilhar ainda mais.
Após a morte de Drácula (Graham McTavish), a complexa relação entre vampiros e seres humanos entrou em colapso. Dando margem para uma presença ainda mais ameaçadora de criaturas sobrenaturais e práticas pouco ortodoxas. E com o caos instaurado, vários núcleos buscam tomar o trono que agora está vago. É nesse cenário que a terceira temporada de Castlevania se estabelece. Não focando no universo como um todo, mas abordando microcosmos que nos ajudam a enxergar a pintura em sua forma completa.
Nossos heróis agora estão separados. Alucard (James Callis) cumpre sua penitência por ter matado o próprio pai. Cuidando de um castelo destruído, o meio-vampiro aprecia seu exílio enquanto sua mente parece se perder em memórias e desejos. Do outro lado, Trevor Belmont (Richard Armitage) e Sypha (Alejandra Reynoso) seguem sua rotina como caçadores de monstros, curtindo a liberdade de eliminar criaturas da noite que cruzam seu caminho. Mas logo precisam enfrentar um perigo muito maior. Ainda existem outros dois núcleos: o mestre de forja Isaac (Adetokumboh M’Cormack) e sua sangrenta busca por vingança contra aqueles que traíram seu mestre e o da vampira Carmilla (Jaime Murray) – que junto do também mestre de forja Hector (Theo James) – tenta por em prática um ambicioso plano de conquista.
Essa divisão de personagens já havia sido explorada no ano anterior, mas aqui ela atinge o ápice de sua proposta. Apesar de distintos em termos geográficos, todos os núcleos são parecidos em questões temáticas. Dessa forma, o espectador jamais fica entediado, não importa quem esteja em tela. E mesmo com um ritmo mais cadenciado até pelo menos metade da temporada, tudo está sempre em evolução. Como peças movimentando-se num imenso tabuleiro. Castlevania parece ter se tornado especialista nessa prática.
A adição de novos e interessantes personagens exerce um frescor narrativo para a temporada, ampliando dessa maneira os horizontes temáticos propostos por Warren Ellis. Destaques especiais para Saint Germain (que ganha vida através do sempre ótimo Bill Nighy) e do Juiz (Jason Isaacs). Dessa forma, Castlevania consegue mesclar muito bem os elementos característicos dos jogos e suas ideias originais. Tal equilíbrio é essencial quando estamos falando de adaptações.
Claro que as cenas de luta e violência continuam presentes, assim como a animação sempre fluída. Alguns momentos são extremamente bonitos e perturbadores. Aliás, é quase impossível reclamar dos aspectos técnicos de Castlevania. A dublagem continua maravilhosa e a trilha sonora é impecável. Palmas para a Powerhouse Animation e a Frederator Studios. No entanto, o principal trunfo da série está em seu roteiro e na exploração da mente de seus personagens.
Ellis consegue entregar debates filosóficos e situações cruciais que abordam a degradação do ser humano e a maneira como atuamos no mundo em que vivemos. Vampiros e criaturas da noite são cruéis, mas os piores atos de todas as temporadas foram cometidos pelo raça humana. Esses aspectos atingem especialmente o trio de protagonistas, em cenas realmente impactantes. A fé e a Igreja continuam em pauta, assim como crença e preconceito.
Todos esses fatores somados fazem de Castlevania um dos produtos originais mais interessantes da Netflix. Existia um receio dos rumos da história após a morte de Drácula, mas agora sabemos que existe muito a ser explorado. O segredo é não retroceder, já que o futuro aparenta ser resplandecente.