Há muito eu ouvia falar dessa série animada e esquecia de assistir, até que sentei meu lindo bumbum e comecei. Com 19 episódios no Disney+, a primeira temporada de The Owl House, ou A Casa Coruja em PT-BR, é extremamente encantadora e divertida, além de trazer, de forma muitíssimo natural, representatividade (“latina”, LGBTQIAP+, pessoas negras, etc.).
Começamos pela protagonista, Luz Noceda, que é, de acordo com sites, latina (eu tenho minhas ressalvas, mas fica pra próxima), e é considerada como esquisita a ponto de atrapalhar a sua vida. Na verdade, ela é bem empolgada, atrapalhada e extremamente otimista, se jogando de cabeça naquilo que acha certo e acaba sendo demais pra maioria das pessoas, por isso, quando esbarra em um portal mágico e acaba parando nas Ilhas Escaldadas no Reino dos Demônios ela prefere ficar lá e aprender a ser bruxa. Já no primeiro episódio, Luz praticamente se sente em casa no meio de tanta estranheza, principalmente porque a primeira pessoa que conhece é a bruxa rebelde Eda e seu demônio, King, e esses personagens a acolhem de uma maneira que ela nunca pensou que seria acolhida. Todos ali são tão ou mais estranhos que ela!
Dentro dos episódios há certas lições, como aprendemos a partir dos contos de fadas e seus escritores, como Charles Perrault, que insistiam que as histórias precisavam de uma lição de moral no final, e é claro que A Casa Coruja tem seu pézinho em contos de fadas, com criaturas místicas, demônios, bruxas, enfim, várias das características que compõem esse gênero. Porém, apesar dessa moralidade que há dentro da série, ela não se limita a isso, trazendo consigo assuntos pertinentes, como aceitação, autodescoberta, família, amizade, lealdade, entre outros. Eda, por exemplo, representa a rebeldia, sendo antiautoritária, tendo pouco ou nenhum respeito pelas leis, e todas essas coisas respingam na maneira como ela trata de Luz e ensina sobre como funciona a magia – algo natural das ilhas, logo, é como se fosse uma coisa livre, selvagem e não deveria ser presa. Como assim presa? Nas Ilhas Escaldadas há um tirano, o Imperador Belos, que instituiu que o Titã responsável pela criação das ilhas (na verdade, as ilhas se formaram a partir da carçada dele) havia dito que todos estavam usando a magia errado e o jeito certo era que cada pessoa escolhesse uma área da magia, se especializasse nela e entrasse para o clã voltado para esse tipo de poder. Algo que, como vemos através de Eda, não é uma escolha sábia e sim uma maneira de controlar a população. Há até mesmo a sugestão de uma Inquisição. A série animada trabalha assuntos pertinentes da maneira mais leve possível, com episódios que são poderosos combustíveis para reflexões mais profundas.
Todas as personagens são cativantes, e facilmente nos envolvemos nas loucuras de Luz – com sua síndrome de super-heroína e seu otimismo inabalável -, nas doideras de Eda, uma personagem nada ortodoxa, na piração de King e nos dramas de Willow e Gus, melhores amigues da protagonista. Além disso, há referências nada sutis a outros universos mágicos, tais como Harry Potter. Os episódios são leves, divertidos, e você vai rir em diversos momentos, assim como se abalar em outros ao entender certos aspectos da trama. É super family friendly (pra toda a família), com assuntos que irão atingir crianças, adolescentes e adultos em proporções diferentes, referentes ao quanto a pessoa consegue processar o que está acontecendo e ligar vários pontos.
Para mim, partiu segunda temporada!
Um pouco sobre a criação da série A Casa Coruja
No Brasil, a série estreou em 13 de abril de 2020, e foi criada por Dana Terrace, a quarta mulher a criar uma série para a Disney Television Animation, depois de Ana Pimentinha (Sue Rose), Doutora Brinquedos (Chris Nee) e Star vs. as Forças do Mal (Daron Nefcy). Ela também foi diretora em DuckTales – Os Caçadores de Aventuras (2017) e foi argumentista na série Gravity Falls.
Dana Terrace disse que o formato do desenho foi inspirado por pintores como Remedios Varo, John Bauer e Hieronymus Bosch, um arquiteto russo. O designer responsável pelo background foi Steven Sugar, irmão da maravilhosa Rebecca Sugar, que é a criadora de Steven Universo.
Recentemente, a série foi premiada com um prêmio Peabody por “construir um mundo inventivo que abre espaço para todos e dá às crianças queer um espaço para se sentirem bem-vindas ao lado do qual podem explorar suas próprias energias criativas”.
A série animada também recebeu elogios por seu pioneirismo na representação LGBTQ+ dentro do Disney Channel, incluindo do criador de Gravity Falls, que parabenizou Terrace por conseguir contar um tipo de história que ele gostaria de ter feito, mas não pôde.
Por que The Owl House foi cancelada?
De acordo com a sua criadora, a Disney considerou que The Owl House não é o tipo de conteúdo que se encaixa na sua marca. De acordo com Dana, ela nem mesmo foi convidada para a reunião sobre A Casa Coruja, contando no Reddit que há empresários que supervisionam o que “se encaixa” na marca Disney e um deles decidiu que a série animada não se encaixava.
“A decisão foi tomada antes da estreia de Agonia de uma Bruxa [episódio 18 da 1ª temporada] e BEM antes de entrarmos no Disney+”, ela revelou. “Até conseguir os episódios de consolação da S3 foi difícil, aparentemente. Não foi permitido que eu participasse das conversas até que eu fui só… avisada. Talvez haja um futuro para o universo da série se a Disney Television tiver pessoas diferentes no comando”.
Para não deixar a história em aberto, eles concordaram em finalizar a série na terceira temporada, que terá apenas 3 episódios e por volta de 44 minutos de duração cada. Ela deverá sair a qualquer momento em 2022, sem data confirmada.