Mesmo com roteiro previsível, Creed II entrega o suficiente para agradar os fãs e deixa portas abertas para novas sequências
De um lado do corner, com três longas no currículo, incluindo o celebrado Pantera Negra: Ryyyyyan Coogler! Do outro lado, ainda sem nenhum grande filme como diretor: Steeeve Caple Jr.! Com a estreia de Creed II, de Caple Jr., podemos colocar frente a frente os dois filmes e descobrir quem vence essa luta.
Parada dura? Não mesmo. Sem enrolação, digo que nessa disputa o Creed de Ryan Coogler leva a melhor com tranquilidade. O diretor, que também roteirizou o primeiro longa – sendo inclusive o cara que convenceu Stallone a retornar ao papel do qual já havia se despedido –, conseguiu atualizar a franquia para uma nova geração sem perder de vista todo o apelo nostálgico que carregava como herança. Outra lapada que fez com que seu longa caísse automaticamente nos braços do público foi sua ousadia e originalidade. Entendendo que precisava inovar em um subgênero já desgastado, o diretor atualizou a forma de filmar lutas de boxe no cinema – destaque para uma das lutas filmadas para dar a sensação de um plano-sequência. Vale lembrar ainda que seu principal acerto foi beber da fonte do primeiro Rocky (vencedor do Oscar de melhor filme em 1977), deixando o boxe em segundo plano para focar mais no drama dos personagens. Ah, e a lindeza que é a trilha sonora composta por Bill Conti marca presença de forma sutil e inteligente, com uma nova trilha – composta pelo sueco Ludwig Göransson – surgindo para marcar a jornada do novo protagonista.
Todos esses elementos juntos fizeram de seu longa um atrevido campeão no quesito popularidade, assegurando uma sequência que, para a tristeza dos fãs, não contou com seu retorno. Com a pressão de manter o nível, Steve Caple Jr. é escalado e opta por não se arriscar, fazendo um filme que agrada, mas não surpreende. No longa de Caple Jr., Adonis Creed (Michael B. Jordan), filho de um caso extraconjugal do finado Apollo “O Doutrinador” (ou “do Treinador”, como ouvíamos na dublagem da Sessão da Tarde), encontra-se em um novo momento de sua carreira, tornando-se o campeão a ser batido. A sacada agora fica por conta do reaparecimento de Ivan Drago (Dolph Lundgren), o russo derrotado por Balboa em Rocky IV – e responsável pela morte de Apollo –, que, para reconquistar o respeito de seu país, aposta todas as fichas em seu filho, a revelação dos ringues Viktor.
Pela premissa é fácil curtir a continuação que agora explora a paternidade em seu roteiro. Cada um dos principais personagens está vivendo algum tipo de conflito envolvendo o tema, incluindo o velho Rocky, que completamente distante do filho, sente-se culpado sem saber como voltar atrás.
Vingança, busca por redenção, reencontros. Temos aí ingredientes suficientes para um nocaute dramático de respeito. E o “lutador” Caple Jr. faz de tudo para acertar belos golpes com o material que tem em mãos, sendo em grande parte prejudicado pelo desenvolvimento previsível e pouco inspirado do roteiro. Sem compensar sua direção com inventividade, o resultado é um filme divertido que desperdiça o potencial de ser tão impactante como seu antecessor.
Ainda assim, o novo longa não deixa de ser merecedor de elogios. Mesmo antevendo praticamente tudo o que vai acontecer na tela, conseguimos nos conectar com a história de Adonis e sua namorada Bianca (Tessa Thompson, com muito mais tempo para desenvolver sua personagem) e nos sentirmos mais uma vez impactados pela presença de um envelhecido Rocky em cena. Seu drama aqui não chega a ser tão pesado e envolvente quanto no filme de Coogler, mas Stallone nesse papel sempre encontra um jeito de nos emocionar.
Como decisão equivocada, não dá para não falar de Florian Monteanu, que na vida real é lutador profissional e certamente foi escolhido como Viktor Drago por seu monstruoso físico e habilidades como pugilista. O problema é que sua falta de recursos dramáticos acaba prejudicando diversas cenas, que pediam de Monteanu um melhor desempenho. Enquanto isso, Lundgren retorna ao seu icônico personagem numa abordagem menos caricata. Mesmo sem grandes falas, o veterano ator faz um bom trabalho, dando mais complexidade a Ivan. O que faltou foi o roteiro ser mais esperto e desenvolver com mais inteligência o drama vivido pelos dois personagens.
Com o anúncio de Stallone de que Creed II é seu último filme na pele de Balboa, os próximos longas terão que provar que se sustentam sem a presença do ator. B. Jordan mostrou-se uma escolha acertada para carregar nas costas a franquia, mas dependerá cada vez mais de boas histórias para continuar como um campeão dos cinemas. Mais do que isso, para fazer carreira nas telas, Adonis precisará contar com um grande comandante em seu corner. O retorno de um nome vencedor como o de Coogler não seria nada mal.